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Safra de cana orgânica rende 24% a mais

Em 2004, as áreas de cana orgânica da Usina São Francisco renderam 107 toneladas por hectare


Quando os diretores da Usina São Francisco, de Sertãozinho (SP), iniciaram a produção de cana orgânica há nove anos, estavam preocupados em colocar no mercado um açúcar diferenciado, sem a presença de produtos químicos no processo de produção. O que não imaginavam é que a recomposição original do solo poderia trazer uma elevada produtividade que supera em um quarto a do plantio convencional. No ano passado, as áreas de cana orgânica da Usina São Francisco renderam 107 toneladas por hectare, em média.

Os primeiros cortes chegam, em algumas áreas, a 198 toneladas. A média de produção dos últimos sete anos na usina foi de 98 toneladas por hectare.

Estudos indicam que o cultivo da cana convencional rendeu de 86 a 86,5 toneladas por hectare no Estado de São Paulo no ano passado. Os dados da Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo) indicam 86,5.

A São Francisco não está apenas elevando a produtividade, mas também a longevidade do canavial. A usina está prestes a iniciar um ciclo de seis cortes na cana, contra cinco das plantações convencionais.

A meta é a perenização dos canaviais, diz Leontino Balbo Júnior, diretor agrícola da São Francisco. Já estão em testes dois canaviais: um com durabilidade de 9 anos e outro de 18 anos, sem a necessidade de se mexer no solo.

Balbo diz que não foi fácil chegar a esse patamar de produção. Após abandonar o sistema de produção convencional, as terras da fazenda perderam os benefícios do sistema anterior, que utilizava produtos químicos, mas ainda não tinham incorporado os do novo manejo. O resultado foi uma queda de até 10% em relação ao plantio convencional.

Produtividade elevada e longevidade maior para a cana estão associadas às novas qualidades do solo. O diretor diz que nesses nove anos aprendeu muita coisa e passou a "acreditar em outros nas quais não acreditava".

Cita um exemplo. No início, não se sabia o que fazer com tanta palha resultante da colheita, uma vez que foi eliminado o processo da queima da cana antes da colheita. Com o passar dos anos, apareceu um fungo que ataca a palha e a deteriora rapidamente, incorporando-a ao solo.

"Práticas orgânicas contribuem para a reconstituição do solo", diz Balbo. E a Usina São Francisco já está com um solo correspondente a 60% do de uma mata, onde 50% do material é mineral (areia, saibro e argila), de 4% a 5% orgânico e 45% a 46% de espaço poroso.

A estrutura orgânica dá maior conforto à cana. Sem estresse hídrico, e com um equilíbrio maior de insetos -o que permite um combate natural às pragas-, a planta se desenvolve melhor. A biodiversidade nos canaviais orgânicos é sete vezes maior do que nos convencionais, diz ele. O meio convencional de produção, que, em grande parte, usa o fogo na hora da colheita, elimina esses benefícios e deixa o solo esterilizado. A diferença entre os dois manejos aparece na durabilidade do canavial.

Em alguns canaviais convencionais, as novas variedades de cana duram apenas um ciclo (cinco cortes). Na orgânica, às vezes chegam a quatro ou cinco ciclos. No período de seca, a produtividade dos canaviais orgânicos cai apenas metade da registrada pelos convencionais, diz ele.

Outro dado importante que foi constatado na Usina São Francisco é que o quinto corte de cana tem uma produtividade maior do que o do quarto. "A produção é maior por força da reorganização da vida e da estrutura do solo", diz Balbo. Além do solo mais rico, há um equilíbrio natural no combate às pragas. "Para cada praga potencial, há três predadores."

Um caso típico é o da formiga saúva. De 1987 a 1992, a usina tinha cinco formigueiros por hectare. Agora, tem só 0,19. Essa queda ocorre porque aumentou o número de outros tipos de formigas que comem os ovos da saúva.

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