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Safra de Milho: tendência à queda

Os preços baixos, alto custo do plantio e riscos com o clima desmotivam produtores de Cascavel


O milho, que já foi o grande “mocinho” da agricultura do Oeste do Paraná, está assumindo, há alguns anos, o papel de “vilão”. Os preços baixos, alto custo do plantio e riscos com o clima desmotivam produtores de Cascavel e região a investirem na cultura na próxima safra. Dirceu Krebs, proprietário de uma área de 20 alqueires na cidade revela que houve safras de verão, há aproximadamente quatro anos, que plantou em toda a área milho. A cultura era vantajosa, mas agora, é arriscada e por vezes acumula prejuízos. “Este ano eu não vou plantar milho, não compensa mais, vou colocar somente um pouquinho para consumo dos animais”, revela.

No lugar do milho as terras receberão sementes de feijão e soja, porque na análise do produtor rural, é mais vantajoso e menos arriscado perder a produtividade em casos de estiagem. “Já venho diminuindo o milho, no ano passado plantei somente quatro alqueires, mas consegui colher somente para cobrir os custos”, comenta ao explicar que colheu 300 sacas por alqueire. Krebs revela que devido ao preço alto dos insumos, perdas com a falta de chuva e preço baixo pago ao produtor não compensou o investimento. “Pagavam R$ 16,80 e agora está menor ainda. Isto não anima o agricultor”, reforça.

O agricultor conta que em caso de seca, o milho é a cultura que mais sente, portanto o prejuízo é maior. “Qualquer quebra de safra que tiver não faz nem para cobrir as despesas”, avalia. A soja por ser uma cultura mais segura, que sofre menos com as intempéries do tempo, e possuir preços mais elevados, e o feijão pela precocidade, são os escolhidos de Krebs. “O milho teve épocas que pagaram R$ 23,00, se fosse isto ainda dava para arriscar plantar nesta safra”, ainda justifica a troca.

Na avaliação do produtor, quem depende da agricultura precisa tomar cuidados, porque está sozinho, sem possuir respaldo do governo. “Arcamos com os prejuízos sozinhos, o agricultor não tem incentivos”, assegura ao exemplificar o preço mínimo determinado pelo Governo Federal que não é respeitado pelas empresas.

Krebs é exemplo dos outros agricultores de Cascavel e região, que segundo o técnico do Deral/Seab (Departamento de Economia Rural da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento), J. J. Pertile, há tendências da diminuição do plantio do cereal para o aumento da oleaginosa. “Segundo o que levantamos até o momento, existe sim uma tendência em diminuição do plantio do milho da safra normal, de verão, mas ainda não podemos quantificar”, revela. A explicação do técnico condiz com a do agricultor, o descontentamento com os preços baixos. “Hoje o preço está R$ 14,50 e o custo de produção é muito alto”, salienta.

Segundo Pertile, a redução da área plantada de milho é uma realidade desde o ano passado, já que a safra de verão 07/08 teve uma área de 75.885 hectares plantados de milho, contra 66.512 hectares na safra de 08/09, uma diminuição de 12% na área. A produtividade também apresentou redução, motivada pela diminuição de área e também pela estiagem que castigou a safra de verão do ano passado. “Na produção houve queda de 42%, o que não tendo incentivo e com preço que não satisfaz o produtor, faz com que migrem para a soja e feijão, principalmente para a soja”, esclarece.

Troca

Pertile comenta que o preço da soja, hoje cotado em R$ 43,00, tem se mantido estável nos últimos anos, assim como o custo do plantio, enquanto o custo do milho tem aumentado e o preço pago ao produtor diminuído. “Na safra de 07/08 foram 449.845 hectares plantados de soja, com produção de 1.512.663 toneladas”, pontua o técnico. Já na safra de 08/09, foram plantados 452.600 hectares de soja com produção de 954.620 toneladas, devido à quebra da estiagem. “Aumento de 1,7% na área e menos 37% na produtividade”, revela.
Segundo o técnico, quando há uma redução no plantio do milho, a porcentagem pode ser alta, mas ao ser transferido para a soja, diminui. “Às vezes diminui em 30% a 50% na área de milho, mas a mesma área na soja dá aumento somente de 6% ou 7%”, explica ao salientar que um levantamento na intenção de plantio da safra 09/10 deve ser disponibilizado pelo Deral ainda este mês.

Quebra

A safra de verão 08/09 apresentou muitos problemas devido à estiagem forte, que deixou alguns locais do Oeste sem chuvas por semanas. Muitos produtores tiveram prejuízos, pois a colheita não cobriu os gastos com o plantio. A quebra da safra foi alta e os agricultores ainda tentam se recuperar. De acordo com as informações técnicas Deral/Seab no núcleo regional de Cascavel, que abrange 28 municípios, as perdas foram significativas tanto na produção como na qualidade. A estiagem castigou o milho, soja e feijão justamente na época de formação de grãos. De todo o Paraná, a região Oeste foi uma das mais afetadas pela falta de chuva, pois o milho teve quebra de 39% na produção, a soja de 33% e feijão de 32%.

Safrinha

Enquanto os produtores se recuperam da quebra da safra de verão, a de inverno também apresentará quedas, já que a geada e o excesso de chuvas no período da colheita do milho safrinha, por exemplo, prejudicou a produtividade. “O milho safrinha tem 80% colhido, o restante em maturação, mas vamos ainda fazer levantamento da produtividade devido os problemas climáticos”, revela. O trigo, que se encontra com 15% em desenvolvimento vegetativo, 30% em floração, 40% em frutificação e 15% em maturação também terá quebra pela geada.

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