CI

Safra de milho não atende demanda interna


O brasileiro pode ter que modificar o cardápio nas festas de fim de ano. A criação de aves e suínos no país está enfrentado dificuldades pela escassez do milho, principal componente da ração na avicultura e suinocultura. A safra 2001/2002 do produto registrou queda de 14% em relação ao ano anterior, 35,6 milhões de toneladas contra os 41,4 milhões de toneladas produzidos em 2001.

A atual safra de milho não supre nem mesmo o consumo interno que, conforme dados da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), chega a 36 milhões de toneladas/ano. Segundo Márcio Carvalho, assessor econômico da Faemg, um dos fatores que contribuíram para a escassez do milho no País foi o baixo preço do produto no mercado. `Os produtores optaram pelo cultivo da soja, que ano passado foi bem valorizada. Com isso, ocorreu redução na área plantada de milho no Brasil`, afirma.

Carvalho diz ainda que o clima também contribuiu para o quadro desfavorável em que se apresenta a cultura de milho no País. `A safrinha (cultivo fora do período normal) do próximo ano, que deveria ser plantada em setembro para ser colhida em janeiro, foi comprometida por causa da seca. Os produtores esperaram pelas chuvas e atrasaram o plantio e, em algumas regiões não deverá nem ser realizado, devido à falta de chuvas e das dificuldades de acesso ao seguro agrícola`, informa.

Segundo ele, a pecuária é o setor que mais sofre com a falta do grão. `O milho tem influência grande em outros setores e pode haver desabastecimento`. Dados da Faemg apontam que 70% da ração utilizada na suinocultura e avicultura é composta pelo milho. `A escassez está influindo negativamente na produção de carnes e com isso as exportações também ficam prejudicadas`, conclui Carvalho.

O Brasil é o segundo produtor de aves do mundo e está entre os seis maiores produtores de carne suína. Segundo José Arnaldo Cardoso Penna, presidente da Associação dos Suinocultores do Estado de Minas Gerais (Asemg), a perspectiva para este ano era de exportar 500 mil toneladas de carnes. `O nosso principal mercado é a Rússia, que consome 80% do que é exportado. Mas, com a alta do custo de produção em função da escassez do milho ficará difícil manter estes números`, afirma Cardoso Penna.

O custo de produção na suinocultura, conforme ele, chega em Minas Gerais a R$ 2,10 por quilo e o preço de venda do quilo vivo gira em torno de R$ 1,95. `Há um prejuízo de até R$ 50 por cabeça. Para um plantel de 5 mil animais gasta-se 500 sacos de milho por semana. Cada matriz, com todos os leitões, consome seis sacas de milho por mês. Com o produto comercializado a R$ 30 a saca, fica difícil a manter a criação`, afirma. Cardoso Penna informa ainda que no Brasil existem 2,4 milhões de matrizes, sendo que 10% desse rebanho está em Minas Gerais. `O Estado é o quarto produtor de carnes do País, com 160 mil matrizes em granjas tecnificadas. Com toda crise, de agosto para cá, 10 mil matrizes já foram descartadas do rebanho de Minas Gerais`.

Na avicultura a situação também é preocupante. Segundo Marília Martha Ferreira, superintendente da Associação dos Avicultores de Minas Gerais, a atividade está operando com plantel reduzido. `O custo de produção de R$ 1,70 está alto já que conseguimos vender o quilo do frango por R$ 1,50. Estamos trabalhando no vermelho`, esclarece. Marília Ferreira afirma que para um quilo de frango, são necessários seis quilos de milho. `A saca de milho sai para nós produtores por R$ 30 sendo que o setor consome, no Estado, 90 mil toneladas de milho por mês. Muitos avicultores estão abandonando a atividade o que pode causar escassez de aves nas festas de fim de ano`, completa.

A solução para reverter o quadro desfavorável e salvar a ceia brasileira, segundo os representantes dos setores, seria a redução das tarifas de importação de grãos e a liberação da importação do milho transgênico. `O governo federal deve providenciar, urgentemente, a importação de milho - seja transgênico ou não - em quantidade suficiente para atender a demanda nacional. Além disso, facilitar ao máximo, a importação direta pelas empresas consumidoras` diz Cardoso Penna, da Asemg,.

Para ele, o Estado também deverá se articular para reduzir a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS). `Não adianta o governo federal zerar as tarifas de importação se o produtor tiver que pagar até 18% para trazer o milho para o estado. O governo Estadual tem que perceber que, se não reduzir o ICMS, haverá fechamento de granjas`, conclui Cardoso Penna.

Ana Paula Machado - Belo Horizonte/MG

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.