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Safra e consumo interno devem conter alta do leite

A alta do preço deve ser limitada pelo fim da entressafra, a partir de setembro e pelo bolso do consumidor


A alta dos preços do leite longa vida no varejo, que já alcança, em média, 60% desde o início do ano, deve ser limitada pelo fim da entressafra, a partir de setembro e pelo bolso do consumidor. Por enquanto, segundo as indústrias de longa vida, as vendas não foram afetadas pela elevação dos preços, mas, admitem, há um teto para as cotações no varejo. Atualmente, os preços do produto oscilam entre R$ 1,90 e R$ 2,20 o litro, em média, nos varejistas dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa (ABLV). "Ainda deve subir mais 10% a 15%", afirma o vice-presidente da ABLV, Laércio Barbosa. Ele admite, contudo, que R$ 2,50 é o máximo que o leite longa vida deve atingir no varejo.

"Até aqui, o consumidor tem aceitado [a alta]", observa Barbosa. Uma rede varejista reconhece, porém, que já é possível perceber que as pessoas estão levando menos leite para casa. Outra grande do setor informou que ainda não houve queda no consumo ou migração para outros produtos porque o consumidor absorveu a alta. Mas não há espaço para novos aumentos de preço do leite, que já afetam os índices de inflação.

A valorização do produto é consequência da menor oferta de leite no Brasil, com a entressafra, e também no mercado internacional. A falta de leite lá fora - por causa da menor produção principalmente na Austrália e Nova Zelândia - e a maior demanda internacional - em grande parte graças à demanda asiática - ajudaram a puxar os preços pagos ao produtor de leite.

De acordo com Barbosa, que também é diretor do Laticínios Jussara, em Patrocínio Paulista (SP), o leite entregue em junho pelo produtor, cujo pagamento está sendo feito agora, custou R$ 0,76 por litro. Este mês, deve superar R$ 0,80, estima. O aumento dos preços ao produtor desde janeiro, segundo o executivo, também está na casa dos 60%. O levantamento mais recente da Scot Consultoria mostra uma valorização de 29,42% entre janeiro e junho passado.

Para Leonardo Alencar, da Scot, as cotações ao produtor devem recuar quando a produção voltar a crescer no mercado interno, depois da entressafra, mas os preços devem ficar num patamar mais alto do que estavam em 2006, quando foram pressionados pela oferta. Barbosa, da ABLV, acredita que o recuo virá a partir de setembro, após a entressafra.

"É o poder de compra do consu midor que vai balizar os preços do leite ao produtor", avalia Gustavo Beduschi, pesquisador do Cepea/Esalq. Apesar de as exportações serem estimuladas pela alta internacional, ele observa que a maior parte do leite produzido no Brasil fica no mercado interno.

É consenso entre analistas, produtores e indústria que o mercado de leite ainda está firme, mas não devem mais ocorrer altas no mesmo ritmo e rapidez vistos no primeiro semestre. "Vai haver mudança de patamar, mas a tendência é de acomodação", prevê Barbosa.

Além da menor disponibilidade de leite, que praticamente zerou os estoques das indústrias de longa vida, também houve aumento de consumo interno, diz a ABLV. Enquanto a oferta de longa vida caiu 2% entre janeiro e junho na comparação com igual período de 2006, estima-se que as vendas cresceram 6%.

Outro fator que ajudou a reduzir a produção interna de leite foi o menor investimento - pelo menos até maio - dos pecuaristas na alimentação do gado na entressafra, quando diminui a oferta de pasto. "A relação de troca não está tão boa", observa Beduschi.

No exterior, o ritmo de alta do leite também deve diminuir. Para Alencar, "a demanda seguirá aquecida", mas deve haver retomada da produção na Austrália e Nova Zelândia, após problemas climáticos. Levantamento do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) mostra que os preços do leite em pó na Europa variam entre US$ 4.900 e US$ 5.300 hoje. Um ano atrás, estavam entre US$ 2.150 e US$ 2.300.

Rodrigo Alvim, da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), acredita que devem cair para um patamar entre US$ 4.000 e US$ 4.500. "Não existem estoques no mundo", diz.

Com a alta internacional, a receita do Brasil com as exportações de lácteos foi de US$ 12,140 milhões em junho, ante US$ 10,5 milhões de igual mês de 2006. Os volumes, porém, recuaram, de 7 mil toneladas para 4.077, conforme dados da Secex compilados por Beduschi, do Cepea.

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