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Santa Catarina aguarda vantagens comerciais

Estado é chancelado pela OIE como zona livre de febre aftosa sem vacinação desde 2007


Mesmo chancelada pela OIE como zona livre de febre aftosa sem vacinação desde 2007, o estado de Santa Catarina, único brasileiro a conseguir essa condição, continua na batalha para colher os frutos da mudança de status. A primeira vantagem pode vir ainda nesse ano quando devem iniciar os envios de terneiros vivos para a Itália. Mesmo sem autossuficiência em carne, com uma população bovina de 3,7 milhões de cabeças, os criadores decidiram iniciar as negociações para expandir as fronteiras e melhorar os preços da carne no mercado interno.

“Esperamos comercializar, a partir de 2011, de 4 mil a 6 mil terneiros, de oito a dez meses para o país europeu”, disse diretor-técnico da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), José Joni Waltrick. Segundo ele, desde que conseguiu o aval da OIE, o estado recebeu a visita de vários países, especialmente da União Europeia, Coreia do Sul e México. “O próximo passo é abrir uma janela para exportação de suínos para a Europa. E tendo a chancela dos Estados Unidos, buscar o mercado do Japão.”

Waltrick lembra que o estado iniciou o processo de mudança de status em 2000, junto com o Rio Grande do Sul. “Naquela época é que paramos de vacinar.” Segundo o dirigente, os esforços para manter o vírus da aftosa longe do rebanho catarinense são enormes e dependem de uma série de fatores, como a intensificação do controle de trânsito, com o estabelecimento de 69 barreiras fixas, por 24 horas e barreiras móveis, com 414 barreiristas. Além disso, há dez anos é proibida a entrada de bovinos de outros estados em território catarinense. “Também realizamos a identificação individual de todos os bovinos, com brincos verdes. Todo o animal que não esteja com o brinco é abatido e isso ocorre quase que diriamente, especialmente os vindos do Paraná”, disse.

Junto com o trabalho de fronteiras, os técnicos catarinenses desenvolveram um sistema de vigilância intenso nas propriedades, com vistorias periódicas e realização de sorologia anual, envolvendo bovinos, ovinos e caprinos. “Temos 20 regionais e em cada uma há uma equipe de emergência sanitária completa com camionete de tração sempre alerta para atendimento de casos de suspeita de aftosa.” Além disso, os técnicos mantém-se sempre de olho nos vizinhos, como Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina, que nesse momento encontram-se em uma situação boa.
Associações de raça dizem que suspensão é debate precipitado

Se o fim da imunização de bovinos e bubalinos divide opiniões na cadeia produtiva, o mesmo não ocorre entre as associação de raças – que apontam os mesmos entraves antes de se pensar em parar de imunizar. O presidente da Associação Brasileira de Angus (ABA), Joaquim Francisco de Mello, defende a manutenção da vacina e a atual condição de zona livre da doença com vacinação. “Somos a favor, mas não agora. A retirada é um caminho almejado por todo o País que quer se colocar no top da produção de carne, mas isso deve ser feito com o tempo”, disse. Mello defende que, em função da grande extensão de fronteiras secas no País, só seria possível um bom desempenho de combate à doença se houvesse uma ação conjunta entre países como Uruguai e Argentina. “Precisamos de uma ação definida em parceria para que se faça a retirada da vacina na mesma época e todos com o mesmo programa de erradicação”, salientou. Para Mello, a condição geográfica e de fronteira seca com países do Mercosul não oferece condições para um isolamento, caso ocorra um surto.

Já o presidente da Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB), Fernando Lopa, acredita que a discussão tomou proporção maior do que deveria, e que não há motivo para se falar em polêmica. “Não sei porque se criou essa comoção em torno do tema, uma vez que ele deve ficar na esfera técnica. Temos sempre que trabalhar com a perspectiva de sermos livres sem vacinação, mas ainda é cedo para falar em data para a retirada”, defendeu. Para Lopa, essa é uma construção que deve levar de quatro a cinco anos para chegar a uma solução, para que o Estado “não venha a amargar perdas após tanto trabalho, especialmente na área de genética”. O dirigente concorda que nesse momento, a prioridade para o setor deve ser resolver o problema da rastreabilidade, uma vez que, na opinião dele, com o sistema atual fica impossível rastrear o rebanho. “Precisamos é mostrar nossa condição sanitária, os trabalhos que vêm sendo feitos, e valorizar nossa defesa.”

A presidente da Associação dos Criadores de Devon (ABCD), Elisabeth Cirne Lima, afirma que as discussões ainda estão na esfera técnica e que não existe previsão sobre quando será viável deixar de vacinar. “Não é momento para decidir sobre a retirada. Primeiro é preciso traçar um plano para extinguir o vírus do nosso continente”, destacou. A dirigente disse ser controversa a questão das vantagens comerciais que a mudança de status trariam aos gaúchos. “O Uruguai é como o Rio Grande do Sul, ou seja, ainda vacina e tem espaço aberto para exportar para os Estados Unidos e Canadá, países que exigem o status de livre sem vacinação.”

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