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Selo de qualidade agrega valor ao café


Agricultores obtêm prêmios de até 200% com produto certificado em relação ao convencional. Utz Capeh, que na língua maia quer dizer "excelente café", é também uma nova febre entre os grandes produtores brasileiros. Trata-se de um certificado que abre as portas do mercado mundial e remunera com prêmio de 10% o produto comercializado sob sua égide. "O certificado já foi adotado por nove países e é usado por algo em torno de 20 empresas. No Brasil sete grupos foram certificados pelo Utz Capeh", diz Washington Rodrigues, diretor da Ipanema Coffee, uma das maiores produtoras de café do País.

No rastro da Ipanema, estão grandes grupos nacionais que querem agregar valor ao café e para isso não medem esforços: "Existem atualmente cerca de 11 selos internacionais que certificam a qualidade do café", diz o diretor de uma trading brasileira. Os mais famosos são o Eurep Gap, o Fair Trade, e o Utz Capeh. A idéia é diferenciar o produto para concorrer no cada vez mais competitivo mercado internacional e obter melhores preços. "É uma tendência recente, que surgiu depois do advento dos cafés especiais", diz Rodrigues.

Um café de boa qualidade certificado pode custar entre 10% e até 200% a mais em relação a um similar, sem o selo.

Para a certificação alguns requisitos básicos são exigidos, como a não contratação de mão-de-obra infantil; ausência de trabalho escravo; um sistema de uso da água nos processos de irrigação e de lavagem de maneira a evitar a devolução aos rios e lençóis freáticos; treinamento específico para os funcionários das fazendas que aplicam agrotóxicos, além de especificações quanto à reserva ambiental e condições sociais dos trabalhadores.

"A primeira certificação é a mais difícil. Como cerca de 70% dos códigos de especificação são semelhantes, é fácil agregar novos selos", avalia o diretor da Ipanema, que é a única empresa brasileira certificada pela norte-americana Starbucks, gigante mundial do setor de café.

Ainda que os custos da implantação do selo não sejam repassados aos produtores, adotar um sistema de certificação demanda investimentos para adequar a propriedade às normas exigidas pelo certificador. "Nós aplicamos cerca de US$ 300 mil para realizar ajustes nas fazendas", diz Rodrigues. O negócio compensa "uma vez que estamos explorando um nicho de mercado." O crescente aumento no número de empresas que buscam certificação, no entanto, pode transformar diferencial em lugar comum. "Se aumentar muito a quantidade de empresas certificadas poderá haver obrigação quanto ao selo, que pode vir a ser padronizado", diz um trader.

"Estamos conscientes que isso pode acontecer, mas levará tempo, uma vez que pouquíssimas empresas são certificadas", diz Rodrigues. Ainda que o selo seja considerado um agregador de valor, as exportações de produtos certificados são em volume ínfimo. "Das 60 mil sacas que exportamos todo mês, é marginal a quantidade de vendas certificadas", diz Luciano Gonzalez, diretor de exportações da Trading Exprinsul, com sede em Varginha, sul de Minas Gerais.

O selo "Fair Trade" (comércio justo) atualmente é o que melhor remunera o produtor, mas de pouca penetração no Brasil, uma vez que contempla apenas propriedades com até 10 hectares. "O valor pago por saca supera os R$ 400, em comparação com os atuais R$ 210", diz Rodrigues. As vendas brasileiras "Fair Trade" devem se situar entre 20 e 30 mil sacas de café este ano, em comparação com as 3,5 mil sacas do ano passado.

Vantagens comerciais

Para Eduardo Salles, presidente da Associação dos Produtores de Café da Bahia (Assocafé), muitas são as vantagens para se investir na certificação. "Os produtos certificados têm atraído um número cada vez maior de consumidores em todo mundo", o que abre possibilidade de melhora para imagem do empreendimento entre os consumidores e a sociedade.

A certificação também ajuda no aumento do tempo médio de permanência do funcionário na empresa "padroniza e melhora a qualidade do produto". Na opinião do consultor, "a certificação agrícola é uma ferramenta que procura diferenciar e premiar empreendimentos que cumprem determinadas normas de desempenho ambiental, social e algumas vezes de qualidade", diz.

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