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Sem milho, piora a crise da pecuária em Pernambuco

Com a safra de soja a todo o vapor, as comercializadoras não se interessam pelo transporte de milho para o Nordeste


O governo federal está tentando, mas até agora não teve êxito na tentativa de distribuir milho para atender aos produtores rurais atingidos pela seca no Nordeste. A presidente Dilma Rousseff determinou a compra de 340 mil toneladas do grão para os meses de abril e maio, que seriam doadas aos governos dos estados para repasse aos criadores a preços subsidiados. Mas os dois leilões realizados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) fracassaram. O problema é de mercado. Com a safra de soja a todo o vapor, as comercializadoras não se interessam pelo transporte de milho para o Nordeste. 


No dia 17 de abril a Conab realizou um primeiro leilão, na tentativa de comprar 103 mil toneladas de milho. Nenhuma empresa se interessou na operação, alegando que o governo estava dando um prazo muito curto para a entrega. Foi o primeiro leilão para transporte marítimos do grão, com entrega prevista em quatro portos nordestinos. "O prazo inicial estabelecido foi de 15 dias, mas depois o governo ampliou para 35 dias", observa o diretor de operações e abastecimento da Conab, Marcelo Melo.

Após o fracasso do primeiro leilão, a companhia agendou um segundo para o último dia 26. Novamente, a previsão era comprar 103 toneladas de milho, mas o volume se limitou a apenas 20 mil toneladas apenas para a Bahia (único estado que despertou interesse das comercializadoras). Com mais um insucesso, a Conab remarcou um novo leilão para a próxima segunda-feira (6).

"O problema é de mercado e de logística motivado por diversos fatores. A quebra da safra de milho nos Estados Unidos provocou uma corrida das transportadoras para os portos principalmente de Santos e Paranaguá (PR), de onde segue para exportação. A concorrência com a supersafra brasileira de soja e de milho é outro fator", destaca Melo.

A distribuição de milho para o Nordeste está acontecendo em duas frentes, com leilões para transporte marítimo e terrestre. A logística de cabotagem foi uma alternativa sugerida pelo governo federal para agilizar a distribuição, uma vez que os navios comportam um volume maior de carga do que os caminhões.


Pernambuco tem uma quota de 47.270 toneladas para receber. Desse total, 25 mil seriam embarcados por navio e o restante via terrestre. "Para transportar essas 25 mil toneladas de milho seriam necessárias 746 carretas, enquanto por navio seria apenas uma viagem", compara Melo. O governo está pagando o preço de mercado pelo milho.

Os grãos serão doados aos governos estaduais, que se comprometeram a vender a saca de 60 quilos por R$ 18,12 para as compras de até 3 mil quilos e por R$ 21 até 6 mil quilos. Metade do dinheiro recebido pelos estados com a venda terá que ser aplicado em melhoria do rebanho e da infraestrutura hídrica dos municípios prejudicados pela estiagem. Em Pernambuco, levantamento da Secretaria de Agricultura e Reforma Agrária (Sara) aponta para perda de 1 milhão de animais no rebanho do estado, calculado antes da seca em 2,5 milhões de cabeças. Parte morreu de inanição e outros foram abatidos precocemente ou vendidos para outras regiões do País.

O milho subsidiado é aguardado com ansiedade pelos produtores, que sofrem com a falta de pasto e a praga da cochinilha do carmim, responsável por destruir 90% da produção de palma (um dos poucos alimentos resistentes à estiagem).

Prioridade

Para facilitar as operações de remoção de milho relativas ao leilão de compra previsto para hoje, o governo federal publicou na sexta-feira a Portaria 59, que dá prioridade de embarque e desembarque do grão nos portos de destino do Nordeste.

Na operação de hoje, a Conab espera adquirir 83 mil t de milho a granel, que deverão ser entregues pelos vencedores em armazéns portuários de quatro estados do Nordeste.

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