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Sem ração, frangos da Chapecó se canibalizam



O retrato da dimensão da crise em que está a Chapecó não foi escancarado por protestos de desempregados e avicultores, mas pela matança descoberta nos viveiros de pintinhos e frangos mantidos pela empresa em parceria com avicultores. A fome de três ou quatro dias sem ração levou as aves a se atacarem, na prática de um canibalismo descontrolado, entre março e abril deste ano.

"Tem coisa que a gente prefere não lembrar", diz a agricultora Irma Tauffer, 45, ao evitar comentários sobre que sentimentos as cenas de canibalismo das aves provocaram nela. Selecionados por técnicas de melhoramento genético, apenas para engorda à base de ração vegetal e hormônio, até o abate da ave adulta, os pintinhos deveriam passar o tempo comendo até serem abatidos com 40 dias.

"A partir do segundo ou terceiro dia sem ração, as aves chegaram a um extremo de fome", explicou Vilmar Pedotti, 43, veterinário da unidade da Chapecó em Xaxim. "Começaram a comer umas as outras pela sambiquira [apêndice triangular sobre as últimas vértebras das aves, no qual se implantam as penas da cauda] porque é a parte mais frágil."

Abate de um mês

Segundo ele, na fase final de engorda, o frango consome muito mais ração para ganhar porte. "Depois que o primeiro é ferido e surge o gosto salgado do sangue, as bicadas no aviário são incontroláveis." O canibalismo atingiu 7 milhões de frangos, número que representava o abate de um mês da empresa, segundo estimativas dos produtores.

Apenas uma pequena parte disso virou adubo nos abates sanitários que a empresa promoveu. Em março, a família dos cinco irmãos Tauffer enterrou na propriedade de Vila Real, em Chapecó, 64 mil aves mortas por canibalismo. "A maioria estripada", conta o marido de Irma, Edir Tauffer, 54.

Risco de epidemia

O cheiro de ave apodrecida tomou conta de fazendas, sítios e das beiras de estradas das 20 cidades onde a indústria mantinha seus mais de 2.000 "integrados" [avicultores parceiros na criação de frangos, mantidos numa relação de exclusividade].

As prefeituras não conseguiam vencer a quantidade de valas necessárias para que os frangos mortos fossem enterrados. O temor de uma epidemia e o descontrole sanitário levaram o Ministério Público a acionar avicultores na Justiça. Segundo avicultores, a matança teria sido provocada por uma decisão equivocada da empresa, presidida à época por Alex Renato Fontana.

Mesmo com as dificuldades da empresa no mercado, a Chapecó continuou distribuindo os pintinhos aos parceiros, mas deixou de fornecer o alimento a ser dado às aves. A Agência Folha procurou Fontana, mas não conseguiu localizá-lo para que pudesse comentar o caso.

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