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Sementes mais puras geram polêmica

Empresas querem mais fiscalização e pecuaristas, máquinas mais baratas


Empresas querem mais fiscalização e pecuaristas, máquinas mais baratas

A elevação dos padrões de pureza das sementes forrageiras, por meio da Instrução Normativa Nº 30, baixada pelo Ministério da Agricultura em 2008, apesar de extremamente positiva do ponto de vista agronômico, tem gerado controvérsias no mercado. As empresas que cumprem essa legislação enfrentam forte concorrência das que usam o conceito de Valor Cultural - um indicador técnico de plantabilidadade e não de qualidade - para comercializar sementes fora do padrão mínimo de pureza, a preços mais baixos.

Esse tipo de burla intensificou-se em 2010, devido à forte alta nos preços das sementes, que subiram até 260%, em função de quebra na produção provocada pela seca. Um quilo de braquiária, vendido, em 2009, por R$ 5, agora sai por R$ 18, ou seja, na reforma ou formação de pastagens, os gastos, apenas com esse insumo, chegam a R$ 540/ha. Por isso, muitos pecuaristas têm buscado sementes mais baratas, mesmo que de origem e qualidade duvidosas.

O problema é particularmente grave no Norte do País. Segundo Murilo Nahas, diretor técnico da JC Maschietto, nessa região, ainda há muita área de abertura recente, que demanda maior quantidade de sementes/ha para formação, pois a presença de tocos e outros resíduos no solo dificultam a semeadura. "O Pará é, hoje, o maior mercado de sementes forrageiras do Brasil, porém, 95% dos produtos lá vendidos apresentam irregularidades no percentual de pureza. Também tem muita semente clandestina, mas o maior problema são empresas formais que vendem um produto dentro dos parâmetros exigidos pelo Mapa, em São Paulo ou Mato Grosso do Sul, e enviam toneladas adulteradas para os Estados do Norte, a preços 50% mais baixos", informa Nahas.

A situação deve se agravar no futuro, pois o Mapa pretende elevar gradativamente o teor de pureza, nos próximos anos, até chegar a 95%, que é o padrão mínimo de exportação. Já em 2015, o índice iria para 70%. O esforço fiscalizador do Ministério e dos órgãos estaduais tem sido insuficiente para coibir a prática, que, muitas vezes, conta com a conivência dos próprios pecuaristas. Há quem prefira comprar um produto de baixa qualidade e usar mais quilos/ha, acreditando que, assim, economiza dinheiro. Outros rejeitam sementes com 60% de pureza, porque estas, justamente por terem mais material germinativo do que inerte (terra, palha, etc), demandam menores quantidades para plantio (cerca de 8 kg/ha) e os equipamentos disponíveis nas fazendas somente distribuem adequadamente de 10 kg acima.

"Vivemos uma situação quase kafkaniana. Por desinformação, hábitos arraigados e falta de estrutura adequada, quem mais deveria brigar pelo cumprimento da legislação, por ser seu principal beneficiário, é que mantém o infrator no mercado", diz Nahas.

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