CI

Seminário discutiu o uso de defensivos agrícolas

A avaliação do Risco Químico, incorporada no Projeto de Lei 6.299, leva em conta o perigo e também os fatores de exposição


Debater a inserção de novas técnicas e tecnologias na produção agrícola nacional de forma sustentável, para que a inovação seja uma realidade na agricultura brasileira. Esse foi o objetivo do Fórum Internacional Inovação para Sustentabilidade na Agricultura, realizado pela ANDEF na última quinta-feira, 27 de junho.

O presidente do Conselho Diretor da ANDEF, Eduardo Leduc, abriu o evento destacando que a parceria com a CropLife tem como princípio fundamental a adoção da tecnologia juntamente às boas práticas agrícolas e a boa comunicação com a sociedade. Para ele, o espírito empreendedor do agricultor brasileiro em conjunto com essas ações impulsiona toda a cadeia produtiva. “Tenho orgulho e segurança de que a inovação sustentável é um dos ingredientes da nossa receita de sucesso, pois sem ela não conseguiríamos proteger o meio-ambiente e aumentar a produção”, celebrou Leduc, que ainda destacou a importância de modernização da legislação para que os novos conhecimentos científicos possam ser abarcados pela indústria com plena segurança jurídica. 

Valdemar Fischer, presidente do Conselho Diretor da CropLife Latin America, afirmou que o Brasil tem grandes desafios, oportunidades e também armadilhas. “O comércio internacional de alimentos é enorme. A exportação de carne, por exemplo, subiu mais de 30%. O desafio é como atender essa demanda global com a qualidade requerida pelos países que compram do Brasil, e de uma maneira sustentável”, destacou.

Apresentações do evento

José Perdomo, presidente Executivo da CropLife Latin America, deu início às apresentações abordando a importância das agrotecnologias e seu papel na segurança alimentar para garantir alimento seguro e em quantidade suficiente . O executivo destacou que a indústria de tecnologia para a agricultura está crescendo de forma mais rápida e que a tecnologia vai continuar avançando de forma vertiginosa. “As indústrias investem 7,3 bilhões de dólares ao ano em pesquisa e desenvolvimento de soluções para proteção de cultivos, sementes e biotecnologia. Temos que olhar as novas tecnologias como grande oportunidade, pois elas estão ajudando a acelerar o desenvolvimento para muitas culturas, como o controle biológico, por exemplo, que hoje é usado em agricultura convencional e orgânica. Também permitem que tenhamos produtos mais específicos, menos tóxicos, que podem ser utilizados em menores doses e que são mais seguros”, afirmou o executivo.

Perdomo destacou ainda que o uso responsável das agrotecnologias deve ser uma responsabilidade compartilhada entre consumidor, sociedade civil, distribuidor, agricultor, governo e indústria. E que a indústria tem investido em boas práticas agrícolas: em 2018 foram cerca de 200 mil pessoas treinadas e, desde 2014, foram entregues 14 mil certificações, além de 65.060 toneladas de embalagens coletadas para descarte correto.

A segunda apresentação do dia ficou por conta do Doutor Caio Carbonari, professor da Universidade Júlio de Mesquita UNESP, campus Botucatu, que ressaltou a importância de uma análise pragmática sobre defensivos agrícolas para balancear a polêmica que quase sempre envolve a discussão do assunto. Carbonari defende que a eficiência no uso da terra só é possível porque a agricultura brasileira adota tecnologias que possibilitam a evolução. E nesse cenário os defensivos são extremamente importantes, porque evitam perdas de produtividade. “Não só produzimos melhor nas nossas áreas, como também produzimos mais, isso porque avançamos em tecnologia, ciência e inovação. Somos uma potência agrícola usando apenas 8% do nosso território, nossa agricultura é modelo de sustentabilidade para o mundo e o atestado de qualidade do que produzimos é o quanto exportamos, já que não conseguiríamos vender para outros países se nossos alimentos fossem contaminados com agrotóxicos” avalia o professor.

Carbonari também abordou a tendência mundial de se adotar indicadores de risco, sendo o EIQ (Quociente de Impacto Ambiental) o mais frequente.  Essa ferramenta tem sido cada vez mais utilizada por agências regulatórias e é recomendada pela FAO para avaliar o risco associado aos defensivos, pois possibilita um diagnóstico mais preciso dos riscos para o trabalhador, para a população e para o meio ambiente. Nesse contexto, é importante destacar que, entre 2002 e 2015, foram observadas reduções significativas de EIQ médio por hectare. Em média, tivemos uma redução de 37,91% do EIQ no Brasil, sendo redução de 51,91% no EIQ do trabalhador, redução de 36,88% no EIQ do consumidor e redução de 33,72% no EIQ ambiental.

Para concluir as apresentações, Elizabeth Nascimento, professora doutora de Toxicologia da USP, trouxe para a discussão a dificuldade de se comunicar sobre risco. Problemas microbiológicos e substâncias químicas naturalmente tóxicas, presentes nos alimentos, e aditivos para conservação e aparência em concentrações excessivas são problemas que também precisam ser olhados quando se fala em segurança dos alimentos. “Diversos fatores podem acarretar danos ao nosso organismo e por isso a importância de se avaliar o quanto eles são seguros, pois sempre vão existir doses que vão trazer efeitos adversos, e isso em relação a qualquer produto, natural ou não”, esclareceu Elizabeth.

Outro ponto da apresentação da professora foi a dificuldade de entendimento da população em relação à diferença entre Perigo e Risco. “Perigo é uma propriedade inerente à substancia, ou seja, qualquer produto pode apresentar perigo. Um jovem, durante um concurso tomou 30 litros de água e morreu, por exemplo. Já o risco é a probabilidade da substancia produzir dano sob determinadas condições”, explicou Elizabeth.

A avaliação do Risco Químico, incorporada no Projeto de Lei 6.299, leva em conta o perigo e também os fatores de exposição, então é considerada mais ampla e segura. No caso dos defensivos, as legislações estabelecem limites máximos de resíduos permitidos de cada substância, de acordo com ensaios técnicos realizados em campos, e os dados são exaustivamente avaliados por agentes reguladores. Além disso, a avaliação da presença de contaminantes em alimentos é constantemente realizada pelo MAPA e pela Anvisa. Elizabeth ainda reforçou que o limite máximo de resíduo nos permite ingerir todos os dias o alimento sem que isso nos acarrete qualquer dano e deu um exemplo bastante interessante: quando as pessoas comem banana estão ingerindo uma dose de arsênio presente naturalmente na fruta, mas mesmo que se coma bananas todos os dias, não haverá problema de intoxicação.

Marcos Montes Cordeiro, ministro interino da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), esteve presente no evento e enfatizou que a maior preocupação hoje não são as questões técnicas e econômicas relacionadas aos defensivos agrícolas, pois para quem atua neste setor é clara a relevância e benefícios desses produtos. O maior empecilho para o desenvolvimento é a resistência baseada em desinformação. “É preciso combater teorias ideológicas que querem barrar o desenvolvimento agrícola. Precisamos mostrar aos brasileiros e ao mundo que a nossa produção agrícola é responsável e derrubar essa desinformação de que há veneno na comida, pois essa teoria é superada pelos dados técnicos que temos”.

Já o Secretário de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação, pasta ligada ao MAPA, Fernando Camargo, anunciou a criação de um grupo interministerial que deve discutir avanços para a agricultura digital 4.0. “Inovação e sustentabilidade formam um duo extremamente importante para a agricultura hoje, porque precisamos aumentar a produção sem aumentar área plantada ou prejudicar o meio ambiente”, lembrou.

Na avaliação de Mário Von Zuben, diretor executivo da ANDEF, o evento foi bastante relevante exatamente por permitir o encontro de tantas vozes que, de diferentes formas, mostram a preocupação e seriedade como a agricultura é tratada no Brasil. “Vimos profissionais compartilhando dados positivos de inovação e sustentabilidade, mas precisamos avançar ainda mais. “A legislação brasileira de defensivos tem 30 anos e não incorpora muitos dos conceitos novos, por isso precisa ser modernizada. Estamos deixando de ter acesso a produtos que são ainda mais seguros e eficientes do que os utilizados hoje no País, e com isso ficamos em desvantagem em relação a países concorrentes com a agricultura brasileira. É esse cenário que precisamos mudar”, finalizou o executivo.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.