CI

Serra e Graziano planejam antecipar fim das queimadas

Governador teme conseqüências ambientais do avanço da cana em São Paulo


Governador teme conseqüências ambientais do avanço da cana em São Paulo. Enquanto boa parte do planeta se curva ao etanol brasileiro e investe pesadamente no setor sucroalcooleiro, crescem as preocupações com os eventuais desequilíbrios ambientais no País. Tanto que o governador paulista José Serra e seu secretário de Meio Ambiente, Francisco Graziano Neto, já sinalizaram que querem antecipar o prazo final das queimadas nos canaviais, hoje estipulado por lei em 2031.

"A enorme e recente expansão da cultura paulista da cana-de-açúcar exige mudança de postura", declarou Graziano. Engenheiro agrônomo e produtor agrícola, Graziano classifica a queimada como prática agrícola "medieval". Segundo Serra, a cultura da cana-de-açúcar alcançará este ano área de 4,2 milhões de hectares, o equivalente a mais de 60% dos canaviais do País. "Em pelo menos 2,5 milhões de hectares, ou 10% do território paulista, as colheitas serão realizadas mediante queimadas! É uma aberração ecológica e um atentado à saúde das pessoas", escreveu o governador em um artigo.

"Não queremos ver queimadas em São Paulo", protestou Graziano. Nem o governador, nem seu secretário planejam alterar a legislação estadual. O que pretendem é, mediante uma negociação informal conseguir a adesão das usinas, com uma de protocolo, antecipar o fim das queimadas.

O governo não definiu nova data limite para o fim das queimadas. "Se os produtores decidirem aderir ao protocolo, será melhor", disse Graziano. Entretanto, caso não haja adesão do setor sucroalcooleiro, há a possibilidade de mudanças na legislação. "Mas isso terá que ser melhor avaliado", ressalvou.

Em setembro de 2002, ano em que Geraldo Alckmin (PSDB) se candidatou à governador de São Paulo, a Assembléia Legislativa de São Paulo aprovou projeto que complementa a Lei das Queimadas (n 10.547, de 2001), de autoria do então deputado estadual (hoje federal) Arnaldo Jardim (PPS-SP). A lei prevê a extinção das queimadas nos canaviais gradativamente, a partir de 2001, num prazo de 20 anos para áreas mecanizáveis, ou seja, com declividade de até 12%, e de 30 anos para áreas não-mecanizáveis, com declividade superior a 12%. Pelo texto da lei, a eliminação completa da queima dos canaviais só se dará, portanto, em 2031.

"Mais eficaz do que a lei das queimadas seria uma política de incentivos fiscais", sugere Leontino Balbo, diretor agrícola do Grupo Balbo. Com duas unidades produtivas em Sertãozinho (SP), o grupo sucroalcooleiro é o maior produtor nacional de açúcar e álcool orgânico e há anos eliminou a queima dos canaviais próprios.

Segundo Balbo, o álcool orgânico para fins cosméticos, farmacêuticos e alimentares recolhe 38% de impostos. "É a mesma taxa do álcool convencional neutro", informa indignado. Quanto às questões ecológicas, Leontino Balbo acha que "quanto maior a diversificação das lavouras, melhor". Mas lembra que é difícil encontrar uma cultura ecologicamente melhor do que a cana. As usinas São Francisco e Santo Antônio, do Grupo Balbo, têm produtividade média de 104 toneladas por hectare, em comparação com 85 toneladas da média paulista. Registre-se que as duas usinas não queimam cana nem usam agrotóxico ou adubo.

"Na região de Ribeirão Preto, é grande o movimento para a mecanização dos canaviais, não só por razões ecológicas, mas pela maior produtividade e pela falta de mão-de-obra", diz Balbo. "Infelizmente, há produtores próximos que queimam os canaviais".

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.