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Setor de máquinas agrícolas gera empregos com estimativa de produção recorde


O ano de 2003 certamente será um dos piores para a indústria automobilística brasileira. A queda nas vendas internas de automóveis deve chegar a 10% este ano, passando de 1,48 milhão em 2002 para 1,33 milhão de veículos. Esta é a projeção da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). O recuo na produção está previsto em 1%, que deve totalizar 1,77 milhão de unidades, ante 1,79 milhão no ano passado. A conseqüência deste recuo não poderia ser outra: demissões.

A montadora da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, por exemplo, apresentou uma proposta de redimensionamento das atividades, que foi aprovada pelos funcionários. Com isso, serão demitidos cerca de 3.933 metalúrgicos no país, sendo 1.923 na fábrica de São Bernardo e 2.010 em Taubaté, no interior de São Paulo. A proposta estabelece aos trabalhadores de São Bernardo três opções: aderir ao PDV (Programa de Demissão Voluntária), ser transferido automaticamente para o CFE (Centro de Formação e Estudos) ou simplesmente ficar em casa. Para quem aderir ao PDV até 15 de dezembro, a Volks pagará um incentivo de 40% de salário por ano e mais um adicional de 20 salários, além das verbas rescisórias. Para quem optar pela lista de transferência para a CFE (voluntária ou involuntariamente) poderá freqüentar os cursos de qualificação que serão oferecidos. Para os dois casos, a garantia de emprego, salários e promoções será cumprida até novembro de 2006.

Mesmo com a situação complicada tanto para patrão quanto empregado, a indústria automobilística conseguiu melhorar as vendas no mês de setembro. O motivo é a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) entre três e quatro pontos percentuais, que passou a vigorar no início de agosto e deve se estender até novembro. Conforme o levantamento da Anfavea, no mês de setembro as vendas de automóveis, medidas pelo volume de licenciamentos de veículos novos, subiram 24,1% em relação ao mês de agosto.

Em setembro foram licenciados 125 mil novos veículos contra 100,8 mil licenciamentos registrados em agosto. Contudo, no acumulado de janeiro a setembro foi licenciado um total de 987,1 mil novos carros, enquanto em igual período de 2002 este acumulado era de 1,09 milhão, o que determinou uma variação negativa de 9,2%. Para a Anfavea, a queda do IPI não é suficiente para resolver os problemas do setor, mesmo tendo elevado as vendas em setembro. O prazo de desconto na alíquota encerra em 30 de novembro. A associação espera que o governo prorrogue o acordo de redução do IPI com índice de até 3%.

Com a situação desfavorável na comercialização de automóveis no mercado interno, ainda há um indicador da indústria automobilística que vem apresentando resultado satisfatório durante todo o ano e vai terminar 2003 com saldo positivo: a exportação. Segundo a Anfavea, os embarques de veículos devem totalizar US$ 4,8 bilhões neste ano, um crescimento de aproximadamente 25% em relação ao desempenho do ano anterior, que chegou a US$ 4 bilhões. Neste contexto, pode-se incluir o setor de máquinas e implementos agrícolas, que vem batendo recorde de exportação este ano.

O bom desempenho do setor no que diz respeito às vendas externas, durante os primeiros oito meses do ano, também deve levar a uma produção inédita em 2003. Somente neste período, as exportações atingiram 12,586 mil máquinas, movimentando cerca de US$ 573,5 milhões em comparação às 7,021 mil comercializadas em igual período do ano anterior, que renderam receita de US$ 426,1 milhões. As vendas externas de máquinas agrícolas este ano impulsionaram o maior nível de produção. De janeiro a agosto foram elaboradas 38,3 mil unidades, volume 13,7% superior ao desempenho registrado em igual período de 2002, quando foram fabricadas 33,662 mil máquinas. Somente no mês de agosto a produção foi de 6,2 mil unidades, sendo que 2,3 mil unidades foram exportadas.

Conforme a Anfavea, as exportações do setor devem ultrapassar as 18,5 mil unidades em 2003, o que representa crescimento aproximado de 80% sobre as 10,4 mil unidades negociadas no ano passado. Com o forte incremento da atividade agrícola no Brasil e o alto volume de produtos embarcados, que rendeu ao país participação entre 6% e 7% do mercado global, em comparação com os 1,7% de 1999, os números projetados para este ano são inéditos: uma produção de 63,5 mil máquinas agrícolas (entre tratores e colheitadeiras), um consumo interno de 45 mil unidades e vendas externas aproximadas de 18,5 mil unidades para mais de cinqüenta países. Os principais compradores são a Argentina, Paraguai e Uruguai, Estados Unidos, Chile, África do Sul, Bolívia, Colômbia e Marrocos. A receita estimada este ano chega a US$ 850 milhões, contra os US$ 642,8 milhões adquiridos em 2002 pelo setor, o que representa um faturamento 20% superior ao do ano passado.

No início de outubro, a Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) e a Agência de Promoção de Exportações (Apex) formalizaram acordo para promover comercialmente equipamentos para metal-mecânica e agrícola, além de industriais e de plástico. Com investimentos de R$ 15 milhões, os três setores pretendem elevar o número de empresas exportadoras, diversificar os produtos vendidos no mercado internacional e favorecer o aperfeiçoamento tecnológico para atender à demanda externa.

Os três projetos devem impulsionar o aumento das exportações dos setores em 19% até 2005. Para isso, a Apex vai liberar R$ 1,9 milhão aos projetos que envolvem o setor de máquinas e implementos agrícolas, com um custo total de R$ 5,8 milhões. O aumento na produção em decorrência do volume elevado nas vendas externas, além dos investimentos do setor, estão proporcionando muito mais do que receita. A indústria de máquinas está gerando o que a maioria dos setores da economia brasileira não está conseguindo proporcionar: emprego.

O Instituto de Economia Agrícola (IEA) destaca que houve crescimento no número de empregos gerados pelo segmento. Em julho de 2002, todas as montadoras de máquinas juntas ocupavam 9,709 mil trabalhadores. Após 12 meses, o montante de postos de trabalho já alcança 10,593 mil, o que representa crescimento de 9,1% no período. Este índice é bastante expressivo, pois, uma vez que excetuando-se as atividades relacionadas ao agronegócio, a realidade brasileira é de desemprego generalizado na maioria das atividades econômicas.

A Anfavea apresenta números ainda mais positivos. Em setembro de 2002 as montadoras contabilizavam um total de 9.956 funcionários, enquanto no mesmo mês deste ano os cargos ocupados chegavam a 10.928, o que representa um incremento de 13,2% no acumulado de doze meses.

Segundo o vice-presidente da Anfavea, Pérsio Pastre, a exportação não é o único fator que está gerando receita e empregos. Ele ressalta que as vendas internas, mesmo com o recuo apresentado neste ano, também representam uma fatia importante no mercado de máquinas agrícolas. “As exportações andam lado a lado com as vendas internas. Uma alavanca a outra”, comenta. De janeiro a agosto foram comercializadas 25,7 mil unidades, queda de 4,5% em relação ao acumulado no mesmo período do ano passado.

O contingenciamento e a burocracia do Programa de Modernização da Frota de Tratores, Colheitadeiras e Implementos Agrícolas (Moderfrota) atrapalharam as vendas do setor até o mês referido. Só em 22 de agosto foi alterado o contingenciamento das verbas do programa, por meio da Portaria 209 do Ministério da Fazenda que liberou R$ 1,2 bilhão para ser usado até janeiro. No orçamento previsto pelo plano de safra agrícola antes da portaria, apenas R$ 470 milhões estavam previstos até outubro. Pastre resume o motivo do crescimento no mercado de máquinas agrícolas. “A potencialidade da agricultura brasileira é muito forte, que automaticamente exige tecnologia para colher mais grãos. Com isso, as montadoras desenvolvem máquinas agrícolas com tecnologia de ponta para que o Brasil possa aumentar as exportações agrícolas a cada safra”, finaliza o dirigente.

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