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Setor de máquinas agrícolas quer dólar paralelo

Empresas pedem ao governo câmbio diferenciado para quem vende ao mercado externo


Empresas pedem ao governo câmbio diferenciado para quem vende ao mercado externo. A recente valorização do real frente ao dólar levantou novamente o discurso de que as exportações brasileiras poderiam ser prejudicadas com uma taxa de câmbio excessivamente baixa. Entre as novas sugestões que têm surgido no mercado, a que se destaca é a criação de uma espécie de "dólar paralelo" para as empresas que atuam no mercado externo.

"Uma sugestão que apresentaremos é que os exportadores tenham um câmbio especial, ao redor de R$ 3,10, que foi o nível em que as matérias-primas para produção de máquinas e implementos foram adquiridas", diz Rubens Dias de Morais, presidente da Justino de Morais, Irmãos (Jumil) e vice-presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Máquinas e Implementos (Abimaq), que apresentou ontem suas perspectivas para o setor no Comitê de Agronegócio da Câmara Americana de Comércio (Amcham).

A proposta em relação ao aumento da taxa de câmbio acontece depois de o setor de implementos agrícolas bater recorde de exportação. No ano passado, a receita com os embarques foi de US$ 536,1 milhões, quando o câmbio médio do ano ficou em R$ 2,92. O desempenho de 2004 superou em 63,7% o resultado de 2003, quando o câmbio estava 5% mais elevado. "Uma desvalorização do câmbio significa pressão sobre as margens das empresas. Um aumento do dólar não significa necessariamente que as exportações cresceriam, mas sim, eliminaria o risco de queda", explica Persio Pastre, vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e executivo da Case New Holland (CNH).

Retrocesso no mercado

Apesar de agradar as empresas exportadoras, a criação de um câmbio diferenciado poderia significar um retrocesso de 40 anos. "Nas décadas de 50 e 60 o Brasil possuía um câmbio diferenciado para diferentes setores da economia. Sempre lutamos para ter um câmbio livre e acredito que seria problemática uma situação como essa", afirma Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros, coordenador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

Na avaliação do economista, seria muito difícil gerenciar uma taxa de câmbio livre e outra administrada para os exportadores. "Além disso, seria muito difícil convencer o mercado e o Fundo Monetário Internacional (FMI) de que seja necessário esse tipo de subsídio em um momento em que o desempenho brasileiro nas exportações tem sido muito bom", afirma Barros, lembrando que o agronegócio é um setor amplo e a medida teria que superar ainda entraves burocráticos.

A busca pelo mercado externo, segundo Morais, da Jumil, é o resultado de um mercado interno retraído. Em sua avaliação, as vendas domésticas deverão apresentar uma retração entre 30% e 40% este ano em comparação ao ano passado. Em 2004, o setor registrou negócios de R$ 7,13 bilhões, um crescimento de 16,1% em comparação ao resultado de 2003, quando as vendas internas totalizaram R$ 6,14 bilhões. "As exportações não conseguirão cobrir a queda no mercado interno", diz.

Momento de investir

Apesar da retração do mercado interno e o dólar pressionando as margens, Morais acredita que é no momento de crise o período ideal para se investir. Apenas para o lançamento de novos produtos a Jumil irá investir este ano, pelo menos, US$ 1 milhão. "Iremos lançar um implemento destinado para adubação e plantio de cana, que ainda não temos. Além disso, pretendemos inovar as linhas direcionadas para laranja, frutas e café, que são os setores que deverão apresentar os melhores resultados este ano", afirma Morais. A estratégia do executivo é que parte dos lançamentos seja direcionada para o mercado externo, que representou 20% do faturamento de US$ 62 milhões no ano passado. "Queremos elevar para 30% a participação das exportações em nosso negócio", explica.

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