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Setor produtivo em nova batalha com a indústria do trigo

No momento em que a safra nacional de trigo começa a chegar ao mercado, produtores pedem auxílo à comercialização do cereal, enquanto indústria reivindica abertura do mercado


De um lado os produtores, que pedem a adoção de políticas de apoio à comercialização, frente à queda dos preços no momento em que o Brasil inicia a colheita de uma nova safra. Do outro, a indústria, que força a abertura do mercado e pede a prorrogação do prazo para importação de trigo de fora do Mercosul com isenção da Tarifa Externa Comum (TEC). A taxa de 10% foi provisoriamente suspensa pelo governo federal em fevereiro. Em maio, o prazo que venceria em junho foi ampliado para 31 de agosto. Agora, os moinhos querem uma nova prorrogação, para 30 de setembro.

A Gazeta do Povo teve acesso a um documento que teria sido enviado no final do mês passado pela Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) ao Ministério Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) pleiteando o novo prazo. Procurada pela reportagem, a assessoria da Abitrigo afirmou não ter conhecimento do documento e disse que prefere não se posicionar com relação ao assunto. O presidente da entidade, o embaixador Sergio Amaral, não foi encontrado para comentar o assunto.

Preocupado com uma queda ainda maior no preço, o setor produtivo afirma que não há necessidade de ampliação do prazo. Para a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) e o Sistema e Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) a TEC precisa ser mantida para evitar que os produtores sejam prejudicados pela concorrência com o trigo importado e subsidiado na origem. “Somos contra porque o cenário atual é bem diferente do início do ano, quando os preços internacionais estavam altos, o Brasil estava na entressafra e os estoques dos países do Mercosul estavam baixos”, destaca o presidente da Faep, Ágide Meneguette. “Hoje, a conjuntura é outra. Houve redução nos preços internacionais, a produção interna aumentou, e há possibilidade de importar da Argentina “, completa João Paulo Koslovski, presidente da Ocepar.

Ao invés de prorrogar a isenção da TEC, o setor produtivo propõe outras medidas. A principal delas é a implementação de uma política de apoio à comercialização da safra de nacional alocando recursos para programas como o AGF (Aquisição do Governo Federal); EGF (Empréstimo do Governo Federal); e PEP (leilão de Prêmio de Escoamento do Produto). Os preços recebidos pelos triticultores paranaenses já estão muito próximos do assegurado na Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), que é de R$ 28,80. Ontem, a saca do grão foi negociada a R$ 31,12 no Paraná, valor 21,5% inferior ao praticado em julho. Se as cotações internas continuarem caindo, o governo teria que intervir no mercado, comprando trigo pelo preço mínimo. “Neste momento de iminente dificuldade para o triticultor é necessário que o governo cumpra o compromisso de garantir os preços, conforme foi anunciado na Política Nacional do Trigo e, mais recentemente, no Plano Agrícola e Pecuário 2008/09”, diz Meneguette.

A nova safra, que já está sendo colhida em diversos estados, inclusive no Paraná, deve crescer 42% em relação à anterior. A produção brasileira, que somou 3,8 milhões de toneladas na safra passada, deve crescer para 5,4 milhões de toneladas em 2008, o suficiente para a suprir mais de 50% do consumo interno. O Paraná, maior produtor do país, tem potencial para colher até 3 milhões de toneladas de trigo, 49% a mais que na safra anterior e o equivalente a 55% da produção brasileira.

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