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Setor tem dificuldades de manter tecnologia Bt

Com desenvolvimento demorado e caro manutenção da tecnologia esbarra em manejo de resistência


Foto: Marcel Oliveira

A chamada tecnologia Bt é utilizada em culturas como soja, milho e algodão e é sinônimo de algumas plantas transgênicas.  O termo é composto pelas iniciais do nome científico da bactéria Bacillus thuringiensis. Esse microrganismo, naturalmente encontrado no solo, produz uma proteína que é tóxica para alguns insetos mas não tem efeito sobre outros organismos, atuando no controle de lagartas, por exemplo.

A biotecnologia é inserida no DNA das plantas por um gene que expressa toxicidade para algumas espécies. Esse processo é longo e custa caro por isso produtor, pesquisa e indústria precisam se alinhar para conseguir manter as biotecnologias com eficiência por mais tempo. O assunto foi discutido em uma live promovida pela Syngenta nesta quinta-feira (25). O debate teve a participação de Júlio Cesar Fatoretto, gerente global de Avanço de Portfólio de Produtos - Sementes e Traits – da Syngenta, Márcio de Castro Silva Filho, professor do Departamento de Genética da USP, Celito Breda, diretor da Fundação Bahia e Adriana Brondani, fundadora da Biofocus.

Fatoretto explicou como é o processo de desenvolvimento de uma nova biotecnologia. Começa com a seleção de bactérias, genes, isolamento de genes, avaliação de como esse gene vai se expressar na planta. Depois vem o processo de transformação da planta e a inserção do gene na planta, seguindo para os processos de identificar os resultados na planta, se ela controla a praga-alvo e começa o processo de introduzir no germoplasma. Em paralelo a isso andam os estudos sobre a biossegurança do produto para meio ambiente, lavoura e produtor. Essas pesquisas são realizadas não só no país de registro do produto mas também naqueles para onde se exporta. “Esse processo dura em média de 10 a 15 anos. Por isso é difícil trazer novos produtos para controle biológico de insetos”, conta.

Perda de eficiência é comum

O professor Márcio destaca que é comum que o produtor perca a eficiência da biotecnologia ao longo dos anos. Os insetos têm grande variabilidade genética e os estudos buscam evitar que duas espécies cruzem e sejam resistentes à tecnologia. O manejo de resistência pode aumentar a durabilidade. “Nenhuma tecnologia persiste por todo tempo, é algo biológico, mas precisamos aumentar o tempo de atuação. Por isso é fundamental entender o manejo e entender como os insetos quebram a resistência da biotecnologia”, explica.

Breda que é produtor no Oeste da Bahia e no Piauí, observa que a principal dificuldade é que como o produtor viu que as variedades Bt tinham maior produtividade investiu só nisso e esqueceu de manejos de resistência, como o refúgio. Hoje poucas proteínas ainda têm funcionado no Matopiba. “Aqui a tecnologia contra Spodoptera frugiperda, por exemplo, já perdeu a efetividade e temos poucos químicos que agem bem em lagarta, já tem resistência também. Esse cenário é preocupante. Não podemos desistir das boas práticas de manejo”, alerta.

Boas práticas podem aumentar vida útil

No Brasil, hoje, são 48 eventos aprovados que conferem às plantas a característica de resistência a insetos, isoladamente ou combinada com outras tecnologias, como tolerância a herbicidas. A redução do ritmo de lançamentos de biotecnologias e o relaxamento dos agricultores com práticas de manejo preocupam. E o cenário não é animador. A previsão de novas soluções não é estimada antes de 2029. Adriana defende que, cada vez mais, essa discussão seja feita para manter o padrão da agricultura brasileira. "A tecnologia que temos tem que ser preservada ao máximo porque não há expectativa de novas. Demora, custa caro. O produtor tem que investir em manejo, como o refúgio ,mas muitas vezes não faz por comodidade”.

O refúgio é uma das melhores maneiras de evitar o desgaste da biotecnologia. Consiste em áreas onde não se planta cultivares Bt justamente para que os insetos não adquiram resistência. “Na nossa região, apesar da conscientização, o refúgio indicado não é implementado. A não continuidade da prática oportunizou o surgimento de lagartas, como a Helicoverpa. Temos aqui um programa fitossanitário mas as boas práticas de manejo ainda precisam contar com a integração de cadeias”, aponta Breda.

O produtor ainda aponta outras medidas que ajudam no combate à perda de efetividade e insetos resistentes. Ele orienta que as lavouras não tenham tiguera, soqueira, não usem somente tecnologias de sementes transgênicas, façam manejo cultural, respeitem o vazio sanitário, aliem ferramentas de controle biológico ao químico. “Usando só o químico e transgênico perderemos os dois. Tem que ter o biológico e cultural associado. Eu, como produtor, convoco setor produtivo, empresas desenvolvedoras, instituições de pesquisas e Mapa para que a gente crie formas efetivas de manejo, de forma regional, adaptado a cada necessidade”, completa.

Para o gerente da Syngenta essa tríplice (produtor, pesquisa e indústria) são as únicas capazes de vencer o problema, atuando de forma conjunta. Entre as medidas está observar e conhecer o inseto resistente para só aí fazer o manejo de resistência e estabelecer ferramentas que o produtor consiga implementar na sua lavoura. “Isso é muito importante. Não existe bola de cristal mas um pouco de cada ferramenta ajuda, implementar boas praticas na hora certa, de forma certa vai fazer a diferença”, define.
 

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