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Só preço mínimo evita crise na agricultura

A incidência da ferrugem asiática na soja na Grande Primavera do Leste está inviabilizando a sojicultura na região


A garantia do governo de um preço de no mínimo R$ 33,00 pela saca de soja, o que permitirá ao produtor rural pagar o que investiu na lavoura e manter o seu crédito para continuar produzindo – esta é a saída defendida pelo consultor e agricultor Naildo da Silva Lopes para evitar que a agricultura de Mato Grosso mergulhe numa crise de consequências imprevisíveis. Ele afirma que com o aumento dos custos de produção e a brutal queda do preço da soja, o produtor rural está na corda bamba, sem saber o que fazer para pagar as dívidas que contraiu para plantar oleaginosa na safra 2004/2005.

Produtor rural em Santa Rita do Trivelato, Silva Lopes, que além de atender sojicultores desse município presta também consultoria a agricultores de Nova Mutum, afirma que com os preços atuais da soja muita gente não vai conseguir pagar seus débitos. O custo médio do hectare de soja no médio norte na safra 2004/2005 ficou em torno de R$ 1.200,00.

Para cobrir esse custo, o sojicultor precisaria colher 66,6 sacas/hectare, com base no preço atual da soja, mas a média de produtividade na região é de 50/55 sacas. No início da semana passada, quem já tinha soja para vender não conseguiu mais do que R$ 22,00 em Nova Mutum e R$ 18,00 em Santa Rita do Trivelato pela saca – muito menos da metade do preço que a oleaginosa alcançou no ano passado.

Ferrugem asiática

Em Santa Rita do Trivelato, quem teve problemas com a ferrugem asiática e precisou fazer duas aplicações na lavoura, gastou mais R$ 170,00 por hectare – R$ 145,00 com fungicidas e R$ 25,00/ha com a pulverização – valor que corresponde a mais de 10 sacas de soja/hectare. E quem plantou soja em terras arrendadas ainda vai ter que tirar da produção entre seis e oito sacas por hectare para pagar o proprietário da área.

Nas suas andanças pelas fazendas dos dois municípios nos quais presta consultoria, Silva Lopes tem procurado convencer os produtores rurais a não abandonar a sojicultura, como muitos tem propalado diante de uma inevitável crise na agricultura se o governo não tomar medidas urgentes para contornar o problema dos sojicultores que não vão conseguir pagar suas dívidas. “O desânimo é total, inclusive com relação ao futuro da agricultura de Mato Grosso” – garante Silva Lopes.

Não vender

Ele tem aproveitado também o contato com os produtores rurais para convencê-los a não vender a soja se o governo não garantir um preço mínimo para assegurar o pagamento de suas dívidas da safra 2004/2005 – em Santa Rita do Trivelato e Nova Mutum que juntos plantam quase 600 mil hectares de soja – foi colhido apenas 3% da área. “O jeito é o sojicultor entregar a produção nos armazéns e ficar com o certificado de depósito para mostrar aos credores que ele tem como saldar os débitos, só que não vai conseguir se vender a soja pelo preço atual” – ressalta o consultor. “Se há uma coisa que o produtor rural gosta de fazer é pagar suas dívidas. Mas com o preço da soja no patamar que está isso é impossível” – diz Silva Lopes. Lembra também o consultor, que além do aumento brutal de alguns insumos da soja, quando o sojicultor comprou os produtos para plantar, pagou preços do topo por causa do valor do dólar. Agora, com a defasagem cambial, o preço da soja caiu muito no mercado externo.

Ferrugem asiática inviabiliza a sojicultura

A incidência da ferrugem asiática na soja na Grande Primavera do Leste, que engloba os municípios de Campo Verde, Paranatinga, Poxoréo e Dom Aquino, está inviabilizando a sojicultura na região. O grosso da colheita está começando agora, mas em algumas propriedades que já completaram a retirada da soja das lavouras, a produtividade média caiu de 45 sacas para 33 sacas/hectare.

A situação é muito crítica, porque o sojicultor está gastando muito para produzir e o que o mercado está pagando pela oleaginosa não cobre os custos de produção – admite o secretário municipal de Agricultura de Primavera do Leste, engenheiro agrônomo Valdir Machado da Silveira Pinto, também produtor rural. Apesar de Primavera do Leste estar bem próximo do terminal de cargas da Ferrovias Brasil em Alto Taquari, a soja estava cotada terça-feira da semana passada a R$ 20,00 a saca.

“Não temos saída: se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come...” – afirma o secretário Silveira Pinto para comparar a situação do agricultor da região. Segundo ele, para manter a produtividade da lavoura, o sojicultor está tendo gastos que não cobrem os custos de produção. E se não investir, aí não colhe nada, porque a ferrugem asiática está devastando tudo.

Alto custo:

Quem já fez ou vai precisar fazer até três aplicações de defensivos na lavoura tem um acréscimo de US$ 86,00 por hectare, incluindo o fungicida e a pulverização. Mas tem sojicultor que poderá ter que fazer até cinco aplicações de fungicidas até a hora de colher. “Esse custo de 86 dólares por hectare nós não tínhamos até dois anos” – lembra Silveira Pinto.

A incidência da ferrugem asiática é maior nas áreas de abrangência de lavouras que utilizam irrigação para a produção principalmente de sementes de soja. O problema é que a umidade facilita a proliferação do fungo, o que aumenta os riscos da doença atacar as lavouras de soja com maior intensidade no atual período de chuvas mais intensas.

Aturdidos com o ataque da ferrugem asiática, os sojicultores da Grande Primavera do Leste – só o município planta 260 mil hectares da oleaginosa – aguardam os resultados das alternativas que entidades como a Federação da Agricultura de Mato Grosso – Famato e a Associação de Produtores de Soja – Aprosoja estão buscando para resolver o problema dos produtores rurais que não terão como pagar seus débitos.

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