As cooperativas da Região Noroeste do Rio Grande do Sul começaram a receber nesta semana os primeiros grãos da safra de soja. Conforme a gerente adjunto da Emater Regional de Santa Rosa, Aldo Schmidt, o volume colhido nos 45 municípios de abrangência ainda é inferior a 1%. A possibilidade de a comercialização do grão transgênico ser impedida pelo governo não assusta as cooperativas. Confiante, o gerente da unidade de negócios de grãos da Cooperativa Tritícola Regional de Santo Ângelo (Cotrisa), Armindo Terhorst, acredita que o governo vai garantir a venda.
"Para nós, a situação é a mesma de antes. Estamos recebendo soja e observamos níveis de impureza, óleo e proteína. Não temos como separar a soja convencional da transgênica", diz. Não há mudanças de conduta também por parte da Cooperativa Agropecuária Alto Uruguai (Cotrimaio), de Três de Maio. Apesar de ter 75% de sua soja identificada como não-transgênica, condição garantida por meio de um programa de acompanhamento da produção, a cooperativa recebe também o grão de associados que não participam do programa.
"Há produtores apreensivos, mas por enquanto a situação é a mesma. O agricultor pode receber o pagamento no momento em que quiser vender", diz o presidente, Antônio Wünsch. A Polícia Federal de Passo Fundo, que investiga o plantio ilegal de soja transgênica no Estado, garantiu ontem que prosseguirá a ação e vai apreender o produto que for comercializado. Em fevereiro, a PF coletou soja em silos e constatou que cinco de sete amostras continham soja geneticamente modificada. Segundo o delegado Mário Vieira, indústrias e cooperativas que venderem transgênicos terão o produto apreendido.
Em Entre-Ijuís, o produtor V. D. garantia nesta terça-feira que, se conseguisse colher os 10 hectares de soja transgênica previstos, venderia hoje mesmo à cooperativa parte de sua produção. Sem receio de assumir o cultivo, o agricultor plantou semente modificada geneticamente pela primeira vez nesta safra. "Não tenho medo. A situação é irreversível, terão de liberar a venda da safra. Se isso não ocorrer, vai quebrar o país", opina.
Com o dinheiro da venda dos primeiros grãos, pretende pagar as dívidas. O agricultor demorou para experimentar a semente transgênica devido à dificuldade de encontrá-la por um preço acessível. Nesta safra, em apenas oito de seus 45 hectares plantados há soja convencional. Garante que foi conquistado pela redução dos custos. "Se proibirem a venda, deixo de cultivar soja", garante.