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Subsídio ao crédito rural beneficia toda a economia


Subsidiar os juros pagos pelo produtor rural pode significar um retorno à economia de até quatro vezes o valor gasto, segundo estudo da Universidade Federal de Viçosa (UFV). O levantamento mostra que as despesas com o crédito agropecuário geram um aumento na renda do País, de modo que toda a sociedade se beneficia, não só o setor. Na safra atual, a equalização dos juros - diferença entre a taxa de mercado e o valor oferecido ao agricultor - poderá representar R$ 7 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB), ou 1,3% do PIB do agronegócio (R$ 524,5 bilhões no ano passado), de acordo com cálculo feito com base na metodologia da UFV.

O volume, no entanto, poderia ser maior, pois da oferta de R$ 39,45 bilhões de crédito rural, apenas R$ 13 bilhões foram financiados com juros fixos e equalizados. "Ao aumentar o volume de crédito com juros livres, o governo deixou de incentivar o setor e gerar mais renda para o País", avalia o pesquisador Eduardo de Castro, da UFV. Na safra atual, o valor ofertado com juros livres - sem subsídio - cresceu 121%, enquanto o recurso com taxa controlada aumentou apenas 7,9%.

O crédito subsidiado respondeu por 32% do total liberado, participação superior aos 24% destinados em 2002/03. "Destinamos mais recursos para a equalização de juros que o governo anterior", diz Ivan Wedekin, secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

"Aumentando o montante de juros livres, o governo não estimula o setor e freia a concessão de crédito", diz Glauco Carvalho, economista da MB Associados. Para o vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Carlos Sperotto, o estudo é um sinalizador de que o governo deve continuar emprestando a juros fixos. "É um demonstrativo de que o investimento na agricultura é altamente rentável", avalia.

Subsídio ineficiente:

Para a economista Amarilis Romano, da Tendências Consultoria, nem sempre o subsídio é para produtos eficientes e, por isso, é mais rentável o governo aplicar os recursos em infra-estrutura, que barateariam os custos de produção. "A soja cresceu sem subsídio", afirma. "Além disso, estamos questionando os subsídios internacionais, como podemos pedi-los?", argumenta.

Para Carvalho, a agricultura é subsidiada em todo o mundo e o montante gasto pelo Brasil é ínfimo. Segundo ele, na Suíça, por exemplo, 73% da receita do agronegócio é proveniente de ajuda. "Há um benefício econômico e social de gerar mais produção e emprego. É um subsídio de baixo montante e de qualidade", diz Wedekin.

O estudo da UFV tomou como base a safra 2002/03, quando o País colheu 123,1milhões de toneladas e o governo liberou R$ 21,7 bilhões para o crédito agrícola. Segundo o levantamento, deste total, R$ 5,3 bilhões foram financiados com a equalização dos juros. Para bancar os juros fixos, o governo gastou R$ 748 milhões.

O levantamento usou uma metodologia em que mostra quanto de demanda em outros setores o crédito rural gera, multiplicando, deste modo, a renda. Segundo o estudo, para cada real aplicado no agronegócio, há um retorno de R$ 3,57. "Os benefícios gerados para a economia são maiores que os custos da política agrícola", afirma Castro. Na agricultura familiar, no entanto, o retorno é menor: 1,75 vezes o que foi gasto. Segundo ele, na safra atual, os valores podem ser até maiores. "Quanto mais integrado o setor aos demais segmentos da economia, maior o efeito multiplicador no PIB", avalia Castro. Para chegar ao montante, o pesquisador usou como parâmetros dados da matriz produtiva em 1995, último número pesquisado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo ele, como desde aquela época o agronegócio aumentou sua tecnologia, talvez o efeito sobre a demanda das demais cadeias produtivas da economia seja maior.

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