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Subsídio argentino ameaça trigo brasileiro

A decisão da Argentina em aumentar o subsídio ao trigo ameaça a produção brasileira


A decisão do governo argentino em aumentar o subsídio ao trigo produzido naquele país ameaça a produção e a indústria de farinha de trigo brasileira. O alerta é da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), que já solicitou medidas ao governo brasileiro. De acordo com o presidente da Abitrigo, Samuel Hosken, o subsídio concedido no país vizinho inviabiliza a produção de farinha de trigo nos moinhos brasileiros, coloca em risco os empregos do setor e ainda prejudica os produtores, que teoricamente não teriam mais para quem vender. “Devido ao subsídio, o moinho argentino compra a tonelada do trigo por US$ 120. Já o moinho brasileiro que importa da Argentina paga pelo mesmo trigo US$ 190. Essa situação inviabiliza a produção de farinha nos moinhos brasileiros”, afirmou.

A redução das alíquotas de exportação pela Argentina também prejudica a cadeia produtiva brasileira, lembrou Hosken. A alíquota de exportação do trigo para o Brasil é de 20%, da farinha é 10% e a pré-mistura de farinha caiu de 10% para 5%. Com todos esses fatores como “pano de fundo”, contou Hosken, grandes moinhos brasileiros estão firmando “joint-venture” para produzir farinha no país vizinho - nesse caso, eles se tornariam meros “distribuidores” do produto argentino no Brasil. Já os moinhos menores, que não têm força financeira para esta operação, optariam em importar trigo da Argentina. “Isso destruiria toda a indústria brasileira”, apontou Hosken. No Brasil, há 206 moinhos de farinha de trigo, dos quais 47 detêm 86% do mercado. O setor emprega cerca de 35 mil pessoas. Já os produtores de trigo somam cerca de 160 mil em todo o País.

Comissão técnica

Durante reunião em Brasília na semana passada, representantes do setor moageiro exigiram providências do governo federal. Segundo Hosken, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior formará uma comissão técnica para estudar as ações da Argentina e as infrações cometidas junto à Organização Mundial do Comércio (OMC), entre elas a diferenciação de impostos. No Ministério da Agricultura, ficou definida a formação de outra comissão técnica. “Nessa situação (subsídio argentino), o Brasil será 100% dependente da Argentina, e isso não aceitaremos em hipótese alguma”, destacou. No ano passado, o Brasil importou cerca de US$ 1 bilhão de trigo argentino - cerca de 6,5 milhões de toneladas. Quase 95% do trigo vendido pela Argentina tem como destino o Brasil.

Paraná

Para o analista técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar) Cassiano Bragagnolo o subsídio argentino é preocupante, porém atinge os produtores rurais em menor escala. “O prejuízo é para a cadeia toda, mas para os moinhos a situação é pior porque eles perderiam competitividade”, comentou. Para o agricultor, restaria ainda como alternativa vender a produção para o mercado externo. “Não é a melhor opção porque os custos aumentariam, reduzindo a rentabilidade do produtor. Mas não deixa de ser uma alternativa”, ponderou.

Maior produtor nacional de trigo, o Paraná deve ter este ano área de quase um milhão de hectares cultivados com o grão - 10% a mais do que na safra passada. Segundo Bragagnolo, o aumento da área se deve à cotação do produto, que vem animando os agricultores. “O trigo está com preço bom - hoje (ontem) está cotado a R$ 28,20 a saca em Ponta Grossa. Na safra passada (2005/06), o preço recebido era de R$ 23,40, em média, e na anterior, R$ 19,50”, apontou Bragagnolo. Na última safra, o Paraná produziu cerca de 2,23 milhões de toneladas de trigo, segundo a Ocepar.

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