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Suinocultura: Farelo pode chegar ao fim em Mato Grosso

Medidas de socorro anunciadas pelo Mapa seguem sem efeito no Estado


Ainda operando no vermelho, criadores temem que a partir de novembro não haja mais insumo disponível

A suinocultura mato-grossense que há mais de um ano opera no vermelho tem ainda pela frente mais um tranco da conjuntura: a ameaça da falta de farelo de soja no mercado interno já a partir de novembro. Criadores dizem que as esmagadoras vêm chamando à atenção para falta do grão para moagem e que não haverá farelo disponível para atravessar a entressafra, ou seja, seriam pelo menos quatro meses de espera até que a soja da nova safra, que começa a ser colhida em meados de janeiro, tenha volume para ofertar o derivado em quantidade suficiente ao mercado interno.


Conforme o presidente da Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat), Paulo Lucion, se houver a necessidade de importar esse insumo o preço final da tonelada deverá atingir aproximadamente R$ 1,5 mil, 20% acima do que se paga atualmente, R$ 1,25 mil.

O problema é que a nova alta fará com que a diferença entre custo e receita para produção de um quilo de suíno dispare ainda mais porque o farelo, no decorrer deste ano, acumula elevação de mais de 100%, quando teve a tonelada reajustada – por pressão de demanda – de R$ 594,75, para atuais R$ 1,25 mil.

Conforme a Acrismat, no Estado, o custo de produção é formado em 70% pela alimentação e desse total 80% são de milho e farelo de soja. Ambas as commodities registraram preços históricos e para piorar o cenário, mesmo custando mais, a soja teve recorde de exportações. Quase não há mais grão disponível para comercialização. A entressafra da oleaginosa começou em Mato Grosso mais cedo, ainda no mês de junho quando mais de 98% da produção de mais de 21,36 milhões de toneladas estavam vendidos. O milho que em maio podia ser encontrado a menos de R$ 14 a saca, avançou para R$ 20, e agora se estabiliza em cerca de R$ 18, “ainda muito acima do que o segmento pode pagar”, adverte Lucion.

O presidente da Acrismat disse que o governo federal está ciente desta ameaça e espera por uma intervenção urgente. O Secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Caio Rocha, disse ao Diário, durante visita ao Estado na última segunda-feira, que não há a menor chance de faltar o insumo e caso haja necessidade, “o Mapa estará pronto para entrar no mercado e intervir”. A preocupação de Lucion é a de que o governo sempre espera o pior se confirmar para agir. “Além de não ter o alimento, estaremos ainda mais reféns da especulação sobre a escassez do farelo de soja e sabemos isso indica sobrepreço à tonelada”.

Nesta semana, com a abertura PorkExpo 2012 & VI Fórum Internacional da Suinocultura, que será realizada até o dia 28, em Curitiba (PR), Lucion frisa que o assunto será reforçado junto às entidades do segmento e que novamente encaminharão a preocupação ao Ministério.


REALIDADE - A crise no segmento teve início com o estrangulamento do mercado consumidor desde que a Rússia vetou a entrada de cortes em junho do ano passado e se acirrou nos últimos meses com a disparada das cotações do milho e da soja que impôs aos criadores do Estado o maior custo de produção e o menor preço de mercado pelo quilo vivo do animal.

Desde abril, quando a Acrismat tornou pública a situação do segmento, muitos pleitos foram encaminhados ao ministro Mendes Ribeiro Filho e medidas de socorro anunciadas. No entanto, como explica Lucion, quase nenhuma delas trouxe impacto positivo à atividade mato-grossense e “ainda seguimos no vermelho e continuamos sem perspectivas”. Completando, ele conta que a maior parte das medidas como renegociação, financiamento para aquisição de matrizes e subvenção do preço mínimo, quando não tiveram efeito para Mato Grosso, não puderam ser operacionalizadas.

“Cerca de 20% dos criadores renegociaram dividas. Entretanto, ficaram com limites reduzidos e, além disso, a negociação se baseia no caso a caso. De que adianta renegociar nestas condições? Nossa recomendação é para que não se renegocie, porque no final das contas, o criador permanece de mãos atadas e sem condições de obter capital de giro”, conta Lucion.

Sobre os preços mínimos, ele frisa que o atual valor de subvenção determinado pelo Mapa para o Centro-Oeste, R$ 2,15, não contribuiu para o segmento. “Isso poderia ser uma alternativa quando o custo de produção estava em R$ 2,30. Agora passou a R$ 2,50 e o Ministério precisa atualizar o mínimo. Interesse dos frigoríficos existe, mas o prêmio precisa aumentar em mais R$ 0,20”.

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