CI

Tecnologia quer desenvolver café sem cafeína

Estima-se que a variedade esteja desenvolvida em cinco anos


Foto: Pixabay

O Portal Agrolink noticiou nesta segunda-feira (4) que o Instituto Agronômico (IAC) vai receber R$ 34,8 milhões para desenvolver pesquisas inéditas. Uma delas objetiva desenvolver uma nova cultivar de café arábica naturalmente sem cafeína ou com baixíssimos índices.

VEJA: IAC recebe R$ 34,8 milhões para pesquisas inéditas

A pesquisa vai ocorrer dentro do Núcleo de Pesquisa Orientado a Problemas - SP (NPOP-IAC), em Campinas (SP). Para atingir a nova cultivar será usada a técnica de edição genômica CRISPR/Cas9, ganhadora do mais recente prêmio Nobel de Química. A tecnologia pretende “silenciar” o gene responsável pela síntese da cafeína na planta e atingir uma nova variedade comercial com atributos agronômicos e industriais.

Os pesquisadores pretendem transferir esta característica de cafeeiros silvestres, não cultivados, para uma variedade produtiva e resistente. "Isso é fazer edição genômica, é como se, ao editar um texto, o DNA equivalesse a uma frase e dentro desta frase fosse alterada uma letra", explica o pesquisador do IAC, Oliveiro Guerreiro Filho.

Guerreiro destaca que para isso há dois caminhos que levam ao mesmo resultado: um deles é o melhoramento genético clássico, que requer de 25 a 30 anos para obter resultados; e o outro é a edição genômica. 

Como isso funciona: existe um determinado gene que é responsável pela síntese da cafeína, chamado gene da cafeína sintase - ele transforma a teobromina em cafeína nas plantas. "Quando nós editamos esse gene, mudamos o código genético, ele deixa de sintetizar a cafeína, deixa de transformar a teobromina em cafeína nos grãos, e a planta deixa de produzir cafeína”, define.

Não existe no mercado um café naturalmente descafeinado. A maior parte do café descafeinado presente no mercado é obtida por meio de processos químicos, que alteram também o aroma e o sabor da bebida. 

O pesquisador explica que essa mesma tecnologia se desdobra e poderá ser usada para obter, por exemplo, cultivares resistentes à determinada praga ou doença. Estima-se que a variedade esteja desenvolvida em cinco anos a equipe depois ela segue para estudos de com avaliações de plantas editadas em casa de vegetação e campo. 

Estima-se que cerca de 10% do café consumido mundialmente é descafeinado, portanto, um mercado em potencial. Desenvolver uma cultivar de café arábica naturalmente desprovida de cafeína é uma demanda antiga. 

Em 2003 a pesquisadora do IAC, Maria Bernadete Silvarolla, encontrou no banco de germoplasma do IAC plantas de baixo teor de cafeína originárias da Etiópia. Essa descoberta facilitaria a transferência da característica desejada, já que é mais fácil transferir genes, por meio de cruzamentos, entre plantas de uma mesma espécie. A conquista foi veiculada pela revista Nature, publicação de divulgação científica mais citada do mundo.

A partir dessa descoberta, o desenvolvimento de uma variedade de café naturalmente com baixo teor de cafeína seria feito pelo método clássico de melhoramento genético, isto é, com hibridações e seleções sucessivas. Esse método tradicional de seleção vem sendo conduzido no IAC desde 2003/2004, pois embora pertencentes à mesma espécie, os cafeeiros originais identificados com baixa cafeína não reuniam o perfil comercial necessário para serem imediatamente cultivados, apresentando baixa produtividade e vigor vegetativo, além de serem suscetíveis a doenças e pragas, com a maior parte de nossas cultivares. 

O longo período de seleção de uma cultivar de café se explica por algumas particularidades relacionadas à natureza perene da espécie e à necessidade de avaliação das gerações mais avançadas em ambientes distintos. "A nova cultivar deve ser estável, ou seja, sempre do mesmo jeito, em qualquer ambiente cultivado", explica Guerreiro.

Cerca de 90% do parque cafeeiro brasileiro de café arábica são compostos por cultivares desenvolvidas pelo Instituto Agronômico. O Estado de São Paulo é o maior consumidor, processador e exportador do Brasil, que é o maior produtor mundial de café. O setor cafeeiro nacional movimenta o valor bruto de produção de R$ 25 bilhões, por ano. Os principais desafios são a qualidade da bebida, o mercado de cafés especiais e a sustentabilidade da produção.
 

* com informações da assessoria de imprensa

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.