CI

Tradição na mesa do brasileiro, feijão inflaciona alimentação

Saca de 60 quilos do grão chegou a ser negociada por R$ 300


Ao longo deste ano, os brasileiros vão consumir 3,2 milhões de toneladas de feijão. Neste inverno, no entanto, o preço deste alimento tradicional, que agrada a ricos e a pobres, chama a atenção por atingir picos de R$ 300 pela saca de 60 quilos e quase R$ 7 pelo quilo nas prateleiras dos supermercados, com elevação de quase 40% em cinco meses.

Curinga na mesa dos brasileiros de todas as classes sociais, por combinar com diversos pratos, ter preço normalmente acessível e até cumprir papel de substituto da proteína animal, o feijão atingiu neste mês cotações que surpreenderam consumidores e também produtores. Números divulgados pela Emater do Rio Grande do Sul nesta semana apontam que a saca de 60 quilos do grão chegou a ser negociada por R$ 300, como preço máximo, e por R$ 203,95 como preço médio. Se os valores forem comparados com os da terceira semana de julho de 2015, quando o preço médio (corrigido para os dias atuais) era de R$ 136,37, a variação chega a 49,3%.

Apesar de robustos, os números do Estado, que é produtor de feijão preto, são menos vigorosos que os do país. Durante a semana, o feijão carioca, o mais cultivado do Brasil, passou de R$ 500 em algumas praças de Goiás e da Bahia. No início do mês, com a notícia de que a variedade estava batendo em R$ 600, houve casos de roubos a lavouras do Sul de Minas Gerais. Alguns agricultores da região contrataram seguranças para proteger suas propriedades.

As explicações para o fenômeno que está fazendo o consumidor pensar duas vezes antes de colocar o produto no carrinho de compras na prateleira do supermercado o quilo do feijão saiu de R$ 4,96 em fevereiro para R$ 6,96 neste mês, aponta pesquisa semanal feita pela Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) — são conhecidas. A cultura é considerada muito sensível ao clima e vem registrando quebras sistemáticas. Isso tem desestimulado o produtor, que prefere utilizar as áreas disponíveis para plantios mais rentáveis, como a soja.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que a produção brasileira de feijão deverá fechar 2016 com 2,9 milhões de toneladas, 6,6% menos que em 2015, o que explica a escassez, já que o consumo estimado é de 3,2 milhão de toneladas.

Apesar da alta dos preços, o analista de mercado Carlos Cogo diz que o produtor de feijão precisa ter cautela porque a oscilação é artificial. “Trata-se de uma cultura que tem não política específica de preços”, ressalva. “Num ano, o feijão pode ser cotado a R$ 10 a saca e virar adubo, porque a colheita não vale a pena, e no outro pode chegar a R$ 600”, compara. “Essa falsa ideia de valorização pode levar a uma corrida do agricultor pelo aumento de área que, em vez de lucro, pode trazer prejuízo”, alerta.

No Rio Grande do Sul, somando a primeira e a segunda safras, foram plantados 62 mil hectares de feijão, com uma produção total de 99 mil toneladas. O agrônomo da Emater/RS, Renan Corá de Lima, estima uma pequena ampliação da área, de 6% a 8%, motivada pelo aquecimento dos preços. “Mas ainda é cedo para fazer uma previsão, já que o plantio se inicia apenas em setembro no Estado”, afirma.

Cautelosos, produtores preveem aumento de até 15% no plantio

Embora satisfeitos com os bons preços do feijão neste ano, os agricultores do Rio Grande do Sul encaram o atual momento sem euforia. Presidente da Aprofeijão, entidade que congrega cerca de 500 produtores do segmento, Tarcísio Cereta acredita que o aumento da área plantada pode chegar a até 15%. Plantador de feijão na região de Sobradinho, ele reconhece que realmente tem sido mais atrativo dedicar áreas à soja e ao milho, culturas com desempenhos mais consistentes no mercado. “Nós viemos de quatro anos de problemas na cultura do feijão, com quebras de safra e produção de baixa qualidade por causa da umidade”, recorda, admitindo que isso deixa o produtor desconfiado e sem estímulo. “Neste ano, com os bons preços e a perspectivas do La Ninã, se o tempo for seco e frio, mas sem muita geada, quem plantar feijão em setembro vai ter lucro”, prevê.

O presidente da Comissão do Feijão da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) e do Sindicato Rural de Sobradinho, João Carlos Guariense, compreende que o preço do feijão está ligado à escassez do produto no mercado nacional, mas não acredita num grande aumento de área. “O feijão é uma cultura de muito risco, muito sensível ao clima, achamos que vai haver crescimento, mas com cautela”, projeta.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Frederico Westphalen, Nadir José Busato, lembra que o município já foi um dos maiores produtores de feijão preto do país, desempenho que foi minguando com as dificuldades. “Hoje, temos aqui uma produção quase nula de feijão entre os pequenos agricultores, que não conseguem competir com as propriedades maiores, que já apostaram na mecanização. O produtor vai aumentar o plantio este ano, sim, mas não muito, pois as sementes são escassas e estão caras, em média R$ 5 o quilo”, diz. 

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.