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Transgênicos avançam em lavouras no Rio Grande do Sul


O Rio Grande do Sul se prepara para colher a quarta safra de soja transgênica. Agricultores e técnicos estimam que a área represente 70% da produção do Estado, estimada em 8,4 milhões de toneladas na temporada 2002/03. A variedade transgênica Rondup Ready, da Monsanto, que no início era contrabandeada da Argentina, atualmente são produzidas ilegalmente por multiplicadores dentro do território gaúcho. Se os produtores dizem plantar transgênicos pela redução de custo, não negam o temor na hora que importadores como a China decidem exigir certificação da soja brasileira.

Segundo Luiz Paraboni Filho, diretor da Cooperativa Tritícola de Erechin (Cotrel), "o custo (do transgênico) é menor, mas a produtividade e o preço são os mesmos". Com produtividade média de 40 sacas por hectare, o agricultor gaúcho gasta 15 sacas para custear a lavoura de soja convencional. Com a a semente modificada, o gasto é de 10 sacas, pelo menor uso de herbicidas.

O ganho pode ser por tempo limitado, alertam alguns especialistas. Como foram desenvolvidas na Argentina, as variedades hoje cultivadas no Rio Grande do Sul não estão adaptadas à realidade do Estado e podem trazer de volta algumas doenças, avalia o pesquisador da Embrapa Soja, José Tadashi Yorinori. É o caso por exemplo da "mancha olho de rã". Causada por fungo, a doença causa o desfolhamento da planta e está erradicada no Brasil, mas é resistente as variedades transgênicas da Argentina.

Mesmo com dúvidas, o fato é que os transgênicos encontraram um território fértil para germinar no Rio Grande do Sul: um clima propício para a produção de sementes e produtores buscando menores custos. "Alguns sementeiros fecharam as portas e se especializaram em transgênicos, porque há alta demanda por esse material", resume Rui Rosinha, assessor do conselho diretor da Fundação Pró-Sementes. "Com essa multiplicação dentro do Estado, os transgênicos são um caminho sem volta para o Rio Grande do Sul", acredita Gelson Melo de Lima, gerente da unidade de grãos da Cooperativa Tríticola Mista Alto Jacuí (Cotrijal).

Para a Fundação Pró-Sementes, os transgênicos são um "desastre" para o setor sementeiro gaúcho. Apesar de custar metade do preço, a semente convencional perde mercado a cada ano. "Há cinco anos, nossas sementes detinham 50% das vendas estaduais, hoje não chegam a 20% " , diz Rosinha. Outro fator que encoraja o produtor é o fato de a comercialização estar garantida a preços de mercado. Poucos conseguem prêmio por plantar soja convencional. "Vendemos a saca por apenas R$ 2 a mais após realizados os testes para comprovar que o grão é convencional", diz um produtor Coxilha. Mas a recente exigência de certificação pela China deixou os agricultores em alerta. "Até setembro está garantido. Mas é uma preocupação", diz o produtor Gelso Pezzini, de Santa Bárbara, ao lembrar que a China aceitará a certificação provisória até o segundo semestre. Depois de setembro, o Brasil terá que emitir um certificado definitivo.

Como a questão dos transgênicos está na Justiça, o governo federal colocou em consulta pública uma portaria para certificar a soja como convencional e estuda junto com o setor privado a melhor maneira de segregá-la. No Rio Grande do Sul o produtor teme ficar fora desse mercado. "A exportação da soja gaúcha está garantida. Caso seja preciso segregar, podemos direcionar o produto para mercados que aceitam transgênicos como o Oriente Médio e outros países asiáticos", diz Carlo Lovatelli, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove).

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