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Transgênicos e nanotecnologia foram debatidos no Congresso de milho e sorgo

O milho é a cultura transgênica que mais avança nos últimos anos, ocupando hoje 35 milhões de hectares em todo o mundo, sendo que 24% das cultivares plantadas possuem genes que conferem resistência a insetos ou a herbicidas


Um tema ainda bastante polêmico, apesar de as primeiras cultivares transgênicas terem sido plantadas há 12 anos. Hoje, 12 milhões de agricultores em 23 países – sendo que 90% são de baixa renda – cultivam transgênicos em 114 milhões de hectares em todo o mundo. Os dados são da safra 2006/2007 e revelam um mercado global estimado em US$ 7,5 bilhões, onde a área ocupada cresce a uma média de 10% ao ano. “Nunca, na história da agricultura, uma tecnologia foi adotada de forma tão rápida e constante”, analisa Edilson Paiva, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG) e vice-presidente da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança).


Os Estados Unidos lideram o plantio de transgênicos, com 60 milhões de hectares, país seguido pela Argentina, com 19 milhões de hectares. O Brasil ocupa a terceira posição, com pouco mais de 15 milhões de hectares ocupados com a soja RR (Roundup Ready), tolerante a herbicidas, e com o algodão Bollgard (com tecnologia Bt). O milho é a cultura transgênica que mais avança nos últimos anos, ocupando hoje 35 milhões de hectares em todo o mundo, sendo que 24% das cultivares plantadas possuem genes que conferem resistência a insetos ou a herbicidas. “Apesar de todo o conhecimento já existente, os transgênicos são rotulados como vilões por grupos sem informação”, diz Paiva.

E esta rotulagem, continua o pesquisador, é um obstáculo para a geração de alimentos e de energia. “Temos um agronegócio estruturado e podemos nos beneficiar desse conhecimento. Os conflitos de competências já resultaram em um enorme atraso tecnológico e temos que correr atrás desse prejuízo”, explica Edilson, se referindo à necessidade de que profissionais com isenção ideológica e experiência técnica e científica na área biotecnológica atuem nas discussões sobre a liberação de transgênicos. “Não vejo competitividade no agronegócio brasileiro em cenários futuros se essas tecnologias não forem adotadas”, antecipa.

‘Sou a favor da ciência’, diz Paterniani

O pesquisador da Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo) Ernesto Paterniani, referência em melhoramento genético de milho no Brasil, reforça que as restrições impostas à CTNBio no período de 1998 a 2004 provocaram enormes prejuízos à agricultura brasileira. “A transgenia é uma conseqüência da evolução do melhoramento genético na agricultura, assim como os milhos híbridos foram no século passado. Sou a favor da ciência e da liberdade para que o produtor tenha poder de decisão para usar ou não a tecnologia”, defende.

No processo de transgenia, as plantas selecionadas após o processo de transferência de genes manifestam especificamente a característica desejada. Desta forma, têm-se cultivares resistentes a herbicidas e/ou a insetos. No caso do milho Bt, por exemplo, apenas um gene extraído da bactéria Bacillus thuringiensis é responsável por conferir à planta resistência às lagartas que, ao se alimentarem das folhas, são intoxicadas e mortas. Estudos científicos desenvolvidos pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) mostram, segundo Paterniani, que a proteína gerada a partir do gene é específica para combater somente aquela praga, sendo inócua para seres humanos, animais de sangue quente, peixes, pássaros e até mesmo para outros insetos. “Além da redução no uso de agroquímicos, o ganho econômico é evidente”, conclui Paterniani.


Edilson Paiva, da Embrapa Milho e Sorgo, explica que após a aprovação da Lei de Biossegurança em 2005 oito produtos foram autorizados pela CTNBio para comercialização: soja RR e algodão Bollgard, da Monsanto, milho e algodão Liberty Link da Bayer (resistentes a herbicidas), dois eventos de milho Bt (MON 810 da Monsanto e Bt11 da Syngenta) e duas vacinas contra a circovirose suína, principal doença infecciosa da produção de suínos. “Todas as liberações foram concedidas a empresas da iniciativa privada, multinacionais. É urgente a definição de uma política pelo governo brasileiro sobre o tema e o investimento nas instituições públicas para que elas participem deste contexto”, antecipa Paiva.

Nanotecnologia – A mesma crítica contra as posições antagônicas sobre os transgênicos e outras tecnologias foi feita pelo pesquisador Richard Domingues Dulley, do IEA (Instituto de Economia Agrícola). “Esses movimentos polarizados e radicais ignoram ou não dão importância à biotecnologia. Aquém dos possíveis problemas que podem ser causados pela atividade na agricultura estão os danos causados pelo uso indiscriminado dos agrotóxicos”, pondera Dulley. A aplicabilidade da nanotecnologia na agricultura, por exemplo, deverá percorrer longos caminhos até estar disponível no campo. Possibilidades, segundo o pesquisador, será a utilização de nanosensores inseridos em plantas ou animais que indicarão, em tempo real, as reais condições, como o ataque de doenças e estresses, como o hídrico.

Os temas foram debatidos durante o XXVII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, realizado pelo Iapar (Instituto Agronômico do Paraná), a Embrapa Milho e Sorgo e a Embrapa Transferência de Tecnologia, Unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que encerrou ontem em Curitiba (PR).

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