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Trigo e carne pedem ações para liberar comércio externo

O agronegócio brasileiro está reivindicando maior liberalização e ações mais agressivas em comércio exterior


O agronegócio brasileiro está reivindicando maior liberalização e ações mais agressivas em comércio exterior, principalmente em relação ao Mercosul, como forma de melhorar seus resultados. Em pelo menos dois casos — trigo e carne bovina — essas alterações são apontadas como a única opção para a superação de sérios entraves para o planejado crescimento desses produtos.

No caso do trigo, há previsão de queda de safra de 53,9% no Brasil e redução da produção na Argentina e na Austrália. No entanto, a maior preocupação é a decisão da Argentina de cobrar 20% no imposto de exportação do grão e de 10% para farinha, o que prejudica os moinhos brasileiros.

Para a carne bovina, a principal preocupação é a diferença de tarifas cobradas sobre a exportação do produto entre os países do bloco sul-americano. Segundo Pratini de Moraes, presidente da Associação dos Exportadores de Carne Bovina, o Brasil paga uma tarifa média de 160%, acima de seus concorrentes do continente.

Liberação total

Para o presidente do Sindicato da Indústria do Trigo (Sindustrigo), Luiz Martins, o fornecimento de farinha de trigo só não será prejudicado se o governo brasileiro tomar providências imediatas, como convencer o da Argentina a equalizar as tarifas de exportação do trigo em grão e da farinha.

“É preciso tomar medidas de imediato, para que não haja um aumento de produtos importantes da cesta básica, como o pão, por exemplo”, afirma. Ele lembra que o Chile tomou uma medida imediata em resposta à iniciativa argentina: implantou uma tarifa de 17% sobre a farinha importada.

Outra opção, de acordo com Martins, é a liberação da importação de farinha de trigo de fora do Mercosul sem o pagamento da TEC (Tarifa Externa Comum), de 10%. “Há disponibilidade do produto em países como Ucrânia, Canadá e Polônia”, afirma.

Ele lembra que essas providências são urgentes, porque a safra brasileira deverá ser de 2,4 milhões de toneladas em 2006/07, uma queda de 53,9% em comparação à colheita anterior. “Além disso, a safra da Argentina, que já foi de 17 milhões de t, deve ficar em 13,5 milhões e há previsão de sérias perdas em outros produtores, como a Austrália”, recorda.

Martins afirma que o consumo brasileiro é de 10 milhões de t. Com a produção de 2,4 milhões de t e importação de 5 milhões da Argentina, haverá a necessidade de mais de 2,5 milhões de t: “Por isso, é preciso tomar medidas para evitar o colapso do abastecimento”.

Em conseqüência de dificuldades como essa, ele afirma que já existem moinhos parados no Paraná e as empresas do setor estão trabalhando com nível de ociosidade médio de 50%. A situação também é pouco benéfica para os produtores. Embora o preço tenha subido de US$ 175 para US$ 210 por tonelada no mercado externo, a produção será pequena no Brasil, o que significa que não haverá produto em quantidade para que os triticultores aproveitem essa alta.

Apesar das reivindicações do setor moageiro, o ministro da Agricultura, Guedes Pinto, não dá sinais de que a pasta trabalhe pela derrubada da TEC do trigo. Na terça-feira, Guedes reconheceu que será necessário importar trigo de fora do Mercosul, mas ele acredita que a elevação do preço vai estimular o plantio na próxima safra.

Carne quer acordo bilateral

O setor de carnes também pede mudanças. O presidente da Abiec, Pratini de Moraes, reclamou do insucesso nas negociações sobre um acordo comercial entre Mercosul e União Européia. Para ele, o Brasil deve partir para as negociações bilaterais com os europeus, já que as negociações multilaterais estão paradas.

“O Brasil exporta 200 mil toneladas de carne bovina para a UE pagando tarifas médias de 166%”, disse Pratini. Além disso, o presidente da Abiec lembra que o Brasil tem uma cota Hilton (carnes isentas de taxa para entrada na UE) de apenas 5 mil toneladas, enquanto a Argentina possui uma cota de 20 mil toneladas.

Outra assimetria foi constatada por Pratini nos embargos sanitários da UE às regiões afetadas pela febre aftosa. Segundo ele, os focos da doença no Brasil fizeram o bloco europeu bloquear as importações de Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo. Já nos focos da Argentina, apenas quatro ou cinco municípios foram embargados pelos europeus.

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