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Usinas açucareiras podem absorver destilarias

O resultado de preços aviltados do álcool e elevados do açúcar já é visível nas primeiras previsões da safra 2009/10


O resultado de preços aviltados do álcool e elevados do açúcar já é visível nas primeiras previsões da safra 2009/10. A consultoria Datagro estima que a produção de açúcar no Brasil será 4,8 milhões de toneladas maior no próximo ciclo, que começa oficialmente em 1 de maio. Essa relação de preços entre os dois produtos também permite a analistas anteverem que as usinas exclusivamente alcooleiras, ou seja, as destilarias autônomas, devem passar por sérias dificuldades financeiras. Ainda, que a condição deve estimular a consolidação do setor. "É provável que essas destilarias sejam alvo de aquisição por essas usinas mais estruturadas e que vão conseguir aproveitar os bons preços do açúcar", avalia Plínio Nastari, presidente da Datagro.

Cálculos do mercado indicam que as destilarias autônomas representem a moagem de 80 milhões de toneladas de cana na próxima safra, o que significa cerca de 15% dos cerca de 535 milhões de toneladas que devem ser processados no Brasil, segundo estimativa da Datagro.

Somente em 2009, essas usinas amargam vendas no vermelho desde o dia 6 de março com a venda do anidro quando o preço saiu do patamar de R$ 0,82 para R$ 0,78, abaixo do custo médio de produção que está nos níveis de R$ 0,81 por litro, segundo a consultoria. Já o prejuízo com a comercialização do hidratado vem desde 20 de fevereiro, quando os preços saíram de R$ 0,78 para R$ R$ 0,72 - enquanto o custo de produção médio é de R$ 0,75, também de acordo com a Datagro.

Nastari explica que, além da necessidade de vender o produto para fazer caixa, o que determinou a queda forte nas cotações dos álcoois foi a combinação de menor consumo no mercado interno, resultante da crise, e também das exportações abaixo do esperado. "O consumo doméstico caiu 500 milhões de litros entre novembro e março e as exportações foram 200 milhões de litros menor", detalha Nastari.

Por outro lado, o cenário atual e futuro para o açúcar não podia ser melhor. Aos preços atuais, o mercado interno está pagando pelo açúcar o equivalente a 17 centavos de dólar a libra-peso, 70% acima do custo de produção, que equivale a 10 centavos de dólar a libra-peso, segundo cálculos da Datagro. Para o mercado externo, a remuneração é 12,8 a 13,2 centavos de dólar por libra-peso.

"Mas o ideal para o setor no Brasil é que os preços em Nova York fiquem no patamar atual, sem altas muito significativas. Isso para não atingir valores muito acima do custo de produção na Índia, que é de 15,5 centavos de dólar por libra-peso. Se isso acontecer, os indianos vão aumentar muito sua produção e voltar a derrubar os preços", alerta Nastari.

Mesmo com preços mais altos para açúcar, as fixações para a próxima safra ainda estão no patamar de 40%, segundo Arnaldo Luiz Corrêa, Archer Consulting. Os preços médios estão em 13,70 centavos de dólar por libra-peso. "Se houvesse mais crédito de corretoras e tradings às usinas, essa fixação poderia ser maior", a valia o especialista. No entanto, ele não acredita que as usinas que ainda não fixaram muito estão perdendo dinheiro. "Elas precisam, entretanto, ficar atentas à tendência de queda do dólar", acrescenta Corrêa, em palestra ontem no seminário realizado pela Açúcar Guarani, em São Paulo.

Câmbio

No mesmo evento, o ex-presidente do Banco Central (BC), Gustavo Franco, disse que não consegue vislumbrar a taxa de câmbio se sustentar nos níveis de R$ 2,20, sobretudo com o diferencial de juros altos na economia brasileira em relação a de outros mercados. "A direção é para baixo", diz Franco sobre o rumo do câmbio. Ele justifica sua tese argumentando que, além do câmbio já ter mudado sua trajetória de crise de forma rápida, estacionou em patamar alto e tem perdido fôlego com o retorno do capital externo de risco ao Brasil. Para ele, será uma surpresa se o Produto Interno Bruto (PIB) voltar a cair no primeiro trimestre deste ano. "Não acho que estamos vivendo uma recessão. Espero um crescimento pequeno nos primeiros três meses do ano e uma recuperação maior nos trimestres seguintes. Mas a economia deve voltar a mostrar o crescimento da economia nas estatísticas a partir de 2010", afirma Franco.

Açúcar x ÁlcoolCom um mix de 60,37% para álcool, as usinas em 2008/09 produziram 31 milhões de toneladas de açúcar, volume que deve atingir, segundo a Datagro, 35,9 milhões de toneladas, e equivaler a um mix para álcool de 57,2%. Esse é o incremento máximo para açúcar dentro da estrutura já instalada pelo setor no Brasil, segundo Plínio. "O Centro Sul tem capacidade para 32 milhões de toneladas de açúcar, mas vai produzir 31,1 milhões. Aqui já consideramos perdas com clima, com ineficiência na manutenção industrial, entre outros fatores", pontua Nastari. Já a expansão para o álcool está prevista em 378 milhões de litros, ínfimo aumento de 1,38%.

A Acúcar Guarani, controlada pelo grupo francês Tereos, deve produzir nesta safra o mesmo volume de açúcar da safra anterior, ou seja, 1,2 milhão de toneladas.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 12)

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