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Vázio sanitário é uma arma contra a ferrugem da soja no PR

Hoje, a soja representa cerca de 25 % da receita da agropecuária do Paraná


* Por Almir Montecelli

Até os anos 60, o café era o principal produto agrícola do Paraná, seguido do trigo e milho, da pecuária de corte, de leite e suínos. A cultura da soja foi responsável por grandes transformações no cenário agrícola paranaense, propiciando a abertura das últimas fronteiras agrícolas, a implantação de sistemas de armazenagem e indústrias para extração de óleo e produção de ração. Hoje, a soja representa cerca de 25 % da receita da agropecuária do Paraná. De certa forma, a soja substituiu a riqueza gerada pelo café e, em parte, pelo algodão. Não podemos falar da economia do Paraná sem citar o complexo soja.

Pois bem: a rentabilidade dessa cultura está ameaçada pela ferrugem asiática, uma doença que se instalou, há anos, no Brasil, mas que só nos últimos anos adquiriu importância econômica em função dos seus prejuízos. A Embrapa e outras instituições de pesquisa, como a Coodetec, centram esforços para produzir variedades senão resistentes pelo menos tolerantes à Phakopsora pachyrhizi, fungo causador. As indústrias químicas produzem fungicidas no intuito de controlar essa doença. No entanto, a ferrugem avança apesar desses esforços e do aumento do custo de produção das lavouras.

Os órgãos de pesquisa estimam que o custo da ferrugem asiática no Brasil - perdas e aumento do custo de produção - está se aproximando dos R$ 5 bilhões, um prejuízo considerável, equivalente a 166 milhões de sacas. No Paraná, as perdas estimadas são de R$ 600 milhões, o que representa cerca de 10% do valor da produção de soja. Um prejuízo que pode se agravar caso não tomarmos atitudes urgentes.

Felizmente, a natureza nos dá uma arma simples, barata e de baixo impacto ambiental para reduzir a incidência dessa doença: o vazio sanitário. Como o agente causador da ferrugem asiática necessita de uma ponte para passar de uma cultura para outra, a soja guaxa ou tiguera (que nasce de restos de colheita) precisa ser extirpada das lavouras. Essa soja é a principal ponte verde entre uma safra e outra, perpetuando a presença da Phakopsora pachyrhizi nas lavouras e propiciando sua expansão para outras regiões. Se os restos da cultura permanecerem verdes, a umidade e o vento se encarregam de ampliar os focos da ferrugem.

Pelo menos cinco Estados já adotaram o chamado vazio sanitário para extinguir os restos de cultura, com excelentes resultados em termos de redução dos focos da doença. Agora é a vez do Paraná, onde as instituições públicas e privadas vêm discutindo a implantação dessa metodologia de controle da doença. A Secretaria da Agricultura, a Embrapa, a Coodetec, a Fundação Meridional, a Ocepar e a Associação Paranaense de Produtores de Sementes (Apasem) estão juntas no esforço para tornar o vazio sanitário uma realidade.

No entanto, as normas e procedimentos definidos por essas instituições só terão efeito se forem seguidos pelos produtores, pois a decisão que permite reduzir a níveis aceitáveis a incidência da ferrugem da soja depende deles. Embora o remédio para esse sério problema sanitário possa parecer amargo, é preciso tomá-lo na dosagem certa. E em tempo de salvarmos a lavoura.

* Engenheiro agrônomo e presidente da Apasem (Associação Paranaense de Produtores de Sementes)

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