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Wagner Rossi fala sobre desafios e perspectivas para o futuro

"Temos tudo para sermos um grande fornecedor de proteína e de alimentos para o mundo", diz o ministro


A repórter Larissa Castro conversou com o ministro da Agricultura, Wagner Rossi. Ele nasceu em São Paulo mas mora em Ribeirão Preto desde a década de 70. Fez pós-graduação em economia, administração e política no Brasil e nos Estados Unidos. Foi professor da USP e da UNICAMP, tem mais de 30 anos dedicados à agropecuária. Foi também presidente da CONAB e agora no ministério tem a oportunidade de dedicar sua experiência em benefício ao homem do campo.

Larissa - Qual é o maior desafio da agropecuária brasileira hoje?

Ministro - Eu acho que é o país ter passado por uma revolução agrícola, ter conseguido estar entre as primeiras agriculturas do mundo e ainda não termos um sistema que realmente garanta renda ao produtor. Então, há uma certa contradição entre o enorme crescimento de produção e um produtor que muitas vezes tem dificuldade de cobrir seus custos e gerar um excedente para investir.

Larissa - Um estudo recente apontou o Brasil em primeiro lugar no mercado internacional com relação ao suco de laranja, mas o produtor ainda reclama do preço. O que pode ser feito neste sentido?

Ministro - Toda vez que é preciso melhorar um setor produtivo, tem que melhorar a cadeia produtiva como um todo, e eu digo isso porque sou ministro da Agricultura, portanto eu sou ministro do produtor, mas o produtor só vai estar bem se os outros elos da cadeia, como a transformação, a indústria, a comercialização, o exportador, todos tiverem seus ganhos. Um negócio só é bom se todos ganham, acontece que na laranja, o produtor foi penalizado no passado, por isso ele tem um pouco de receio. Mas a verdade é que os produtores mais competentes têm estado comigo e têm me dito que o avanço da Consecitrus é uma coisa real, que vai permitir o entendimento da cadeia produtiva e com isso beneficiar todos os elos da cadeia, em especial o produtor.

Larissa - Agora falando sobre o setor o canavieiro. Um dos problemas que os produtores encontram é a dificuldade de criar um estoque regulador do etanol?

Ministro - Este ano melhorou muito, nós conseguimos dois bilhões para financiamentos de estoque, com juros mais adequados. Quando há uma variação muito grande no preço do álcool cria-se um problema para fidelizar o consumidor, porque ele fica avaliando se é melhor colocar gasolina ou álcool no seu veículo, e em certo momento é coisa, depois já é outra, e isso cria, é claro, um mercado muito instável. Isso também gera distorções no país, porque nós somos uma grande região produtora, mas há outras regiões que são abastecidas por estas regiões produtoras, eles não produzem lá e por isso fica mais difícil para o sujeito se fixar no carro a álcool.

Larissa - Falando um pouco de mercado internacional, dá para criar um mercado sólido de etanol?

Ministro - É verdade que nós tivemos uma expectativa que se frustrou um pouco, porque nós esperávamos isso muito rapidamente. Isso não aconteceu porque os interesses internacionais são grandes, conflitantes e o poder de barganha no setor petrolífero é muito grande. Além disso, o etanol de milho que é usado nos EUA foi muito questionado porque de certa forma invade uma área que é de alimentos, diferentemente do nosso. Mas eu tenho uma convicção que o combustível que tem origem agrícola, que é limpo, renovável e tem tantas vantagens não só econômicas como ambientais, é uma escolha definitiva. O Brasil mostrou que é possível e o mundo vai aderindo gradativamente, como já está procurando, por exemplo, a adição nos combustíveis. Tenho certeza que o etanol vai se consolidar no mercado, só que não com a rapidez que nós todos esperávamos.

Larissa - Hoje o Brasil é considerado um dos maiores consumidores de café do mundo. Tem como melhorar ainda mais a qualidade do café que é consumido no mercado interno?

Ministro - O Brasil é o maior produtor. Nós fizemos uma nova regulamentação sobre isso e é obrigatório agora que o café vendido no país seja de qualidade. Eu estou até um pouco agastado com alguns setores do mercado que pediam isto há tanto tempo e quando o governo fez eles marcaram uma reunião comigo, querem adiar a vigência da obrigatoriedade de cafés bons para o nosso país. Mas eu já vou antecipar, nós não vamos prorrogar, porque este avanço da qualidade do café para o consumidor é fundamental. Como eu disse o Brasil tem todo tipo de café, o maravilhoso, o ótimo, o bom, o regular e até o fraco, mas o nosso povo vai tomar o melhor café, porque ninguém toma café com tanto prazer como o brasileiro.

Larissa - Em relação à situação da agropecuária: no mês de Outubro o preço da arroba do boi passou de 100 reais. O que pode ser sobre isso?

Ministro - A agropecuária tem uma peculiaridade. Não é possível fazer preços tão baixos que desestimulem o produtor, porque se ele não ganhar dinheiro, não vai produzir. Então é preciso um preço bom para o produtor, mas ao mesmo tempo não podemos penalizar o consumidor, que é a população. Então o preço da arroba do boi é feito em grande parte em cima de erros do passado. Como se sacrificou um número imenso de matrizes e os pecuaristas estavam muito descapitalizados em uma certa época e eles tinham que fazer recursos, então o que aconteceu, eles venderam as fêmeas, as matrizes, com isso houve uma produção muito menor de bezerros e depois claro, de bois. Isso tudo gerou uma oferta contida, mas isso aconteceu muito mais gravemente na Argentina e em outros países do mundo inteiro. O Brasil é a maior pecuária de corte do mundo, cerca de 200 milhões de cabeças e somos os maiores exportadores de carne de boi, o que acontece é que este preço não é correspondente ao preço histórico, é um preço de demanda exagerada e oferta contida. Existe ainda uma diferença entre o avanço que a agricultura conseguiu e o avanço que a pecuária conseguiu. A pecuária tem uma utilização de pastos muito fracos, nós precisamos melhorar nossos pastos, através de correção de solo, de manejo, de adubação e para isso nós estamos criando programas específicos para recuperar, por exemplo, terras degradadas e reincorporá-las na produção, de modo a que aumentamos a relação cabeça por hectare. Nós temos uma baixíssima ocupação e com isso a oferta de bois acaba ficando pequena para o grande consumo. O povo está comendo carne, isso é um dado importante, e o mundo inteiro está comprando carne brasileira, outro dado importante.

Larissa - Como que o senhor vê a agropecuária no futuro?

Ministro - Olha, veja o presente, nós somos 26% do PIB do Brasil, somos 42%, este ano talvez cheguemos a 44%, das exportações brasileiras e empregamos 40% da mão-de-obra, então eu vejo a pecuária como uma grande âncora da vitória da economia brasileira. Nestes últimos 12 meses a agropecuária contribuiu com cerca de 60 bilhões de superávit da área agrícola e pecuária para a economia brasileira. Nós tivemos déficit na área industrial e de serviços, e a agropecuária foi o esteio que garantiu um país de pé. Isso é reconhecido hoje e nós somos reconhecidos mundialmente como a agricultura que está com o maior nível de desenvolvimento, não só produtivo, mas também tecnológico e fazemos tudo isso respeitando o meio ambiente. O Brasil aumentou nos últimos 20 anos só 25% da área de produção, mas aumentou 152% da produção, isso porque no Brasil nós temos 55% de toda nossa cobertura vegetal original, aquela da época que Pedro Álvares Cabral encontrou. Então nós temos a terceira agricultura orgânica do planeta, temos 1.770.000 hectares em que se produz sem colocar nenhuma grama de química e somos o primeiro no mundo em exploração com sustentabilidade das florestas. Temos quase 6.300.000 hectares de florestas brasileiras que são exploradas, mas são respeitadas, não são destruídas. Eu acho que nós temos tudo para sermos um grande fornecedor de proteína e de alimentos em geral para o mundo.

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