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Zarc da 1ª safra do feijão estabelece cuidados

Agricultores familiares da região central recebem orientações


Foto: Marcel Oliveira

Minas Gerais já trabalha com as orientações do zoneamento agrícola de risco climático para a cultura do feijão de 1ª safra do ano agrícola 2020/2021. O estado é o segundo maior produtor de feijão do Brasil, com produção total estimada em 539 mil toneladas e área plantada de 355,2 mil hectares, segundo dados do 8º Levantamento de Grãos (Safra 2019/2020) da Conab. No país, o estado mineiro está atrás apenas do Paraná no ranking dos maiores produtores.  Além disso, cerca de 70% da cultura do feijão em Minas vêm da agricultura familiar.

O zoneamento agrícola de risco climático tem por objetivo identificar, a cada ano, os municípios aptos e os períodos de semeadura para o cultivo de feijão no estado, em três níveis de risco: 20%, 30% e 40%.  Suas instruções ajudam a minimizar os riscos relacionados aos fenômenos climáticos, permitindo a cada município produtor identificar a melhor época de plantio da cultura, nos diferentes tipos de solos e as melhores cultivares.

Este zoneamento é um instrumento de política agrícola e gestão de riscos na agricultura. O que está em vigor em Minas Gerais consta na Portaria Nº 40 de 22 de abril de 2020 do governo federal, publicada no Diário Oficial da União (DOU) pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

“A portaria estabelece datas limites para o plantio em determinadas regiões do estado. Então se o produtor cultiva fora dos intervalos definidos, o risco é dele. Ele não pode se credenciar a nenhum seguro, por seca ou excesso de chuva, por exemplo”, informa o coordenador técnico estadual de Culturas da Emater-MG, Sérgio Brás Regina. A Emater-MG é vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa).

Para o coordenador da Emater-MG, o papel do extensionista da empresa, na divulgação da portaria, é esclarecer ao produtor de feijão da importância de cumprir o que determina o Mapa. “Principalmente aqueles que estão pleiteando crédito, para que não cultivem fora dos intervalos previstos”, destaca.

Segundo Sérgio Regina, cabe ao extensionista local, alertar o agricultor dos riscos climáticos. “Por exemplo, de cultivar feijão das águas (primavera/verão) e ter problemas de excesso de chuvas na colheita, porque ele pode perder o feijão todo ou então ter um feijão de qualidade inferior. Então o papel do técnico é esse. Orientar o produtor, no sentido dele conhecer a portaria e evitar riscos desnecessários”, explica.

Jequitibá

O agricultor familiar José Ricardo Falcão Moreira, presidente da Cooperativa dos Agricultores Familiares de Jequitibá e Região (Cooperaje), que reúne 54 filiados da região central de Minas, afirma que segue à risca as orientações da Emater-MG para evitar prejuízos com oscilações climáticas e outras ocorrências durante a colheita de feijão.

“Geralmente plantamos em março, depois do período chuvoso, e colhemos em junho. Procuramos plantar em lugares mais altos. Mesmo assim, tivemos prejuízos com a enchente deste ano, que destruiu muitas lavouras de feijão”, admite José Ricardo. Jequitibá foi uma das cidades da região central que foi alagada pelas chuvas da última semana de janeiro deste ano. O Rio das Velhas, que corta a cidade, quase transbordou.

Segundo o presidente da Cooperaje, além das orientações de cuidados climáticos, as técnicas que trabalham no escritório da Emater-MG de Jequitibá também atuam em outras demandas dos produtores. “Recebemos a assistência da Emater, que é muito boa. As meninas daqui nos atendem muito bem (referindo às extensionistas locais). Por exemplo, quando queremos cuidar de uma planta doente, fazer uma análise da terra ou saber da quantidade de adubos que devemos utilizar”, explica.

Ainda conforme José Ricardo, a leguminosa que a Cooperaje adquire de seus associados é destinada ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). A quantidade comercializada varia, segundo o agricultor. “O pessoal colhe em média, cerca de 3 mil quilos de feijão por hectare, nas três safras, mas a produção total varia de acordo com os contratos que assinamos com as prefeituras e os cronogramas das escolas. Em 2019, por exemplo, entregamos 103 toneladas do carioquinha da variedade Estilo para a chamada pública da prefeitura de Belo Horizonte”, informa.

Segundo a técnica agropecuária da Emater-MG de Jequitibá, Mara Dias de Castro, a preocupação com os problemas climáticos, que podem prejudicar a cultura do feijão, faz parte das ações da empresa no município, que atende 40 agricultores familiares na atividade.  “Recomendamos sempre a usarem sementes de qualidade, certificadas e tratadas para evitar algumas doenças. Também recomendamos evitar o plantio em épocas de risco de chuvas fortes na floração e na colheita, pois isso pode trazer muitos prejuízos aos agricultores”, argumenta.

Dados do escritório da empresa em Jequitibá apontam para a existência de 40 agricultores familiares e três médios produtores envolvidos no cultivo de feijão no município. A produção anual é de cerca de 180 toneladas da leguminosa. A agricultura familiar tem uma área de plantio de 40 hectares e os médios produtores têm uma área de 25 hectares.

Como a produção da cooperativa local é muito voltada para o mercado de feijão do Pnae, a técnica da Emater-MG aponta para a necessidade de profissionalizar esse segmento.  “Hoje em dia é o produto que representa maior valor agregado e volume para a cooperativa”, justifica.

A técnica agropecuária informa que os produtores locais iniciam seus plantios em fevereiro. “Mas com maior volume de semeadura entre os meses de março e abril”, ressalva. Ainda conforme Mara Dias, o feijão de 2ª safra (feijão da seca ou safrinha) tem risco climático mais baixo. “Diria 20%, pois o período de chuva já está passando e aqui o feijão é todo irrigado”, explica. 

Por outro lado, segundo a técnica, na 3ª safra (outono/inverno) o risco climático é de 30%. “Temos poucos produtores que se arriscam a plantar. Quanto mais tardio esse plantio, maior será o risco na colheita. Também temos escassez de água para irrigação nesse período, em Jequitibá”, informa, completando que o feijão de 1ª safra (feijão das águas) não é aconselhado no município, pois o risco de chuvas fortes é maior, na temporada.

Preço do feijão não tem relação com Covid-19

O preço alto do feijão nos supermercados, que tem incomodado muitos consumidores, não tem relação com a pandemia da Covid-19, segundo a área técnica da Emater-MG. “A oscilação do preço do feijão é sazonal e depende basicamente da oferta e da procura pelo alimento. As interferências da pandemia são pontuais e não têm influenciado nos preços”, garante o coordenador técnico estadual de Culturas, Sérgio Brás Regina.

Segundo o coordenador, a principal razão para a variação dos preços foi a quantidade de chuvas na 1ª safra mineira e brasileira da leguminosa, somada à sazonalidade dessa época do ano.  “Houve um excesso de chuva que prejudicou muito a colheita e também a qualidade dos feijões colhidos, deixando os estoques muito baixos. O preço do feijão já tem normalmente uma alteração no intervalo entre a colheita da 1ª safra e 2ª safra. Isso acontece todos os anos. Nos feijões de 2ª safra, os preços voltarão ao normal, provavelmente”, explica.

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