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Cerrado tem potencial para 2 milhões de hectares

Região se destaca por clima favorável a duas safras e alta estabilidade do cereal


Foto: Eliza Maliszewski

O Brasil é um grande consumidor de trigo mas não produz tudo que precisa. Pelo contrário. A Conab estima que nesta safra o país produza 5,2 milhões de toneladas e importe 7,2 milhões de toneladas. Essa janela abre mercado e oportunidade para o cultivo de trigo no Cerrado. A região vive uma expansão na triticultura e o cultivo já é pesquisado há anos, com desenvolvimento de cultivares irrigadas, tanto no inverno quanto em segunda safra, na sucessão com soja. O assunto foi debatido em uma das lives da AgroBrasília Digital.

A região do Cerrado tem o recordista nacional de trigo, com média de 139,8 sacas por hectare. Comporta as condições ideais para a expansão do cereal: produtores qualificados e tecnificados, clima favorável não suscetível à micotoxinas e doenças como a Giberela presente nas lavouras do Sul, genética disponível em cultivares adaptadas para a região, alta estabilidade e potencial de glúten. O pesquisador da Embrapa Cerrados, Julio Albrecht, defende que há capacidade de aumentar a área atual de 200 mil hectares para 2 milhões de hectares. “O Cerrado produz um dos melhores trigos com qualidade industrial para panificação e conseguimos fazer duas safras, uma de sequeiro e outra irrigada, com média de 6 toneladas por hectare, chegando até 8 toneladas por hectare”, diz.

Além disso o trigo do Cerrado chega na entressafra, já que o trigo do Sul chega em outubro e o argentino em dezembro. “Para o produtor é ótimo na rotação de cultura, porque ele precisa de uma gramínea e manter ativa sua estrutura de pivôs. O Cerrado tem muito a oferecer para a autossuficiência de trigo no Brasil”, acredita Albrecht.

Irrigado x sequeiro

O trigo irrigado se destaca pela homogeneidade na produção. A Coopa-DF conta com moinho próprio e o que favorece o setor é que usa produto da região, evitando encarecimento com frete. “Como o clima não varia, todos os anos temos materiais muito parecidos e não sofremos com as diferenças de padrão que o Sul sofre, por exemplo. Para o comprador isso é importante porque ele sabe o que vai encontrar e valoriza o produto”, destaca o presidente da cooperativa, José Guilherme Brenner.

Já no sequeiro o que desafia o trigo da região é a brusone. "Para ter maior volume, moinhos maiores, industrias de panificação maiores temos que incentivar o trigo no sequeiro. Para isso precisamos de variedades resistentes à brusone. Temos que pensar também que o trigo não pode ter só produtividade. Ele demanda qualidade industrial, que interesse ao moinho”, completa.

VEJA: Trigo brasileiro se destaca em genética

Autossuficiência em trigo

Cláudio Malinski, responsável técnico da Coopa-DF e produtor de trigo, acredita que o cereal está em plena evolução. “Quando eu cheguei aqui, em 1980, já tinha trigo irrigado. Naquela época ficávamos felizes com 40 sacas por hectare. Com o avanço e pesquisa hoje temos padrões maiores”, conta.

O trigo é encarado pelo produtor como um pacote, sendo inserido no sistema para permitir que outras culturas tenham bom desempenho. “Como ele cria muita palha, favorece a lavoura seguinte. Se você quer milho bom, plante trigo. Se você quer feijão de qualidade, plante trigo. Se você quer soja com menos buva e amargoso, plante trigo”, reforça.

Um dos grandes desafios do setor é reduzir a dependência externa. “Creio que o trigo de sequeiro aqui vai ser mais produtivo e competitivo do que no Rio Grande do Sul, por clima e custo menor. Tenho plena certeza que vamos ver o trigo do Cerrado como supridor da demanda nacional, tornando o país autossuficiente”, reforça Malinski.

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