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Jovem cafeicultora de Minas Gerais é finalista em concurso internacional de inovação

Com 22 anos, agricultora se destacou pela produção de cafés especiais em município da Zona da Mata


Foto: Sheila Flores

A jovem Bruna Carolina da Silva, 22 anos, da Comunidade do Baú, em Fervedouro, Zona da Mata mineira, se classificou em segundo lugar no Premio a La Innovación Juvenil Rural de América Latina y el Caribe (Prêmio Juventude Rural Inovadora na América Latina e no Caribe), anunciado no último dia 10. Bruna disputou a final do concurso, na categoria Geração de Renda, pela experiência inovadora e empreendedora com a produção de cafés especiais, batizado de “Café Especial da Bruna”. Um café é considerado especial quando tem um processo de produção diferenciado e atinge pontuação entre 80 e 100 pontos, na tabela de classificação sensorial da Specialty Coffee Association (SCA).

O “Café Especial da Bruna” fez, na prática, jus ao nome. A produção, que teve início no ano passado, foi toda artesanal e contou somente com a mão de obra familiar, composta pela Bruna, a mãe Sônia da Silva, o pai Célio José da Silva e a irmã mais nova, Maria Betânia. Em 2019, o produto obteve a nota de 82,25 pontos, conquistando o vice-campeonato do Concurso Municipal de Qualidade de Café, em Fervedouro. 

Além disso, toda a produção do “Café Especial da Bruna” seguiu um modo cuidadoso para agregar valor e qualidade ao produto, como explicou a jovem rural de Fervedouro. “O nosso processo foi desde a colheita seletiva dos grãos maduros, evitando ao máximo os grãos verdes, com peneira 16, deixando somente grão uniforme e sem defeitos. Depois, os grãos foram lavados e esparramados em um terreiro suspenso para secar. Após a secagem, ainda catamos manualmente os cafés verdes que restaram”. Ao final, ainda segundo Bruna Carolina, o café foi torrado, moído e embalado em sacolas com válvula para manter a qualidade e sabor até chegar ao consumidor final.

Das cinco sacas colhidas de 60 quilos cada, a cafeicultura já vendeu quase tudo para compradores de Fervedouro, São José dos Campos e da cidade vizinha Miradouro, restando somente uma saca e meia da safra passada. O preço da saca do café especial foi de R$ 1 mil, mais que o dobro do pago pela saca do café convencional, também produzido na propriedade familiar, e que costuma alcançar em torno de R$ 400,00. A comercialização está sendo feita via redes sociais, como Instagram e Facebook, além do Whatsapp.

O Premio a la Innovacíon Juvenil Rural de América Latina y el Caribe é uma iniciativa do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), da Organização das Nações Unidas (ONU). O objetivo é identificar, recompensar e disseminar iniciativas inovadoras e sustentáveis realizadas por jovens com idade entre 18 e 35 anos, de países da América Latina e do Caribe.

Expectativa

Com o bom resultado no concurso, Bruna está animada e faz planos para o futuro. A expectativa agora é que o desempenho na competição internacional agregue mais valor ao produto e potencialize a comercialização.  “O resultado vai nos ajudar a divulgar mais o café nas redes sociais e alcançar outros lugares. Até o final do ano, queremos colher mais cinco sacas e vender nossa produção para cafeterias. Já estamos buscando parcerias. A minha intenção é continuar na roça, gerando mais renda. Dinheiro não é tudo, mas temos de ganhar pra ficar na roça. Temos de sonhar”, argumentou.

O êxito da jovem rural foi comemorado pela Emater-MG, que presta assistência técnica à jovem e sua família. A empresa, vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), foi também a responsável por incentivar a cafeicultora, da região produtora de cafés denominada Matas de Minas, a se inscrever para participar da competição virtual.

“Foi tudo on-line. Preenchemos um questionário dos promotores do evento, com as informações da produção, mão de obra e retorno financeiro do empreendimento. A iniciativa dela foi o investimento na produção de cafés especiais”, explicou o extensionista agropecuário, Adenilson Mendes Chaves, do escritório local da Emater-MG, em Fervedouro.

Segundo Mendes, ele fez a inscrição da jovem no prêmio latino por acreditar que seria uma forma de incentivar ainda mais a jovem e tornar o seu produto mais conhecido. “O meu interesse pela participação dela no prêmio foi buscar uma maneira de premiar a força de vontade da jovem.  Motivá-la a buscar conhecimento, acreditar na atividade e promover uma mudança no processo produtivo do café cultivado na propriedade”, argumentou. “Se ele não tivesse falado, nem teria feito”, admitiu Bruna Carolina.

Assistência técnica

A propriedade da família Silva tem 17 hectares, sendo quatro hectares destinados à lavoura de café.  O restante da terra é dividido em pastagem, forrageiras e área de reserva legal. Além da cafeicultura, a família também se dedica à produção de leite, sendo atendida pela Emater-MG há muito tempo, seja no acesso ao crédito rural ou assistência à lavoura de café, por meio de orientações para análise de solo, adubação e construção dos terreiros suspensos de secagem do café.  Também atua na participação em torneios leiteiros e agora na produção de cafés especiais.

Em 2019, ano que marcou a entrada da jovem cafeicultora de Fervedouro no mundo dos café especiais, a empresa pública mineira de extensão rural atendeu 624 agricultores no município, sendo 595 deles só na cafeicultura.  A produção de café representa 80% da produção agrícola de Fervedouro, sendo grande geradora de ocupação e renda para o município, segundo dados do escritório local.

Especiais em Minas

Os cafés especiais ou gourmets são da espécie arábica, a mesma cultivada pela jovem rural de Fervedouro. É também a mais cultivada do Brasil e uma das mais plantadas no mundo. Um café especial de alta qualidade utiliza-se sempre 100% da espécie arábica, pois essa tem características específicas de aroma, corpo, acidez e doçura. O número de variedades é grande, com particularidades que se diferem umas das outras. Todas elas têm potencial para produzir uma excelente bebida, sendo, naturalmente cultivadas as que apresentam maior rendimento econômico.

Minas Gerais é o maior produtor de café arábica do Brasil, respondendo por mais de 70% da produção total do país, segundo o coordenador técnico estadual de Cafeicultura, da Emater-MG, Bernardino Cangussú.  De acordo o técnico, a produção de cafés especiais está presente em todo o estado. “Todas as regiões de Minas Gerais produzem cafés excepcionais e esses cafés se distinguem pela diversidade de sabores e aromas, devido, principalmente, às variações de clima, altitude e sistemas de produção”, afirmou.

Exportação

Dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) apontam que, nos primeiros cinco meses deste ano, o Brasil exportou 2,7 milhões de sacas de cafés diferenciados (aqueles que têm qualidade superior ou algum tipo de certificado de práticas sustentáveis) que representaram 16,1% do total embarcado no período. A receita foi de US$ 455,4 milhões, correspondendo a 20,7% do total gerado com os valores da exportação total de café no período. Já o preço médio da saca de cafés diferenciados ficou em US$ 171,04.

Os dez maiores países importadores da modalidade representaram 78,7% dos embarques no período de janeiro a maio deste ano. Os Estados Unidos seguem sendo o país que mais recebe cafés diferenciados do Brasil, com 498,5 mil sacas exportadas (equivalente a 18,7% de participação nas exportações da modalidade), seguido pela Alemanha, com 359,9 mil sacas (13,5%) e Bélgica, com 324,6 mil sacas (12,2%).

Na sequência estão: Japão, com 261,8 mil (9,8%); Itália, com 201,8 mil (7,6%); Reino Unido, com 111,6 mil (4,2%); Espanha, com 109,2 mil sacas (4,1%); Suécia, com 80,6 mil sacas (3,0%); Canadá, com 76 mil sacas (2,9%); e Coreia do Sul, com 70,9 mil sacas (2,7%).

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