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Novas opções de matéria-prima para silagem podem aperfeiçoar a nutrição bovina

Pesquisadores garantem que até matérias-primas inusitadas como a mandioca e o feijão-guandu podem produzir boa silagem


A silagem é a famosa técnica de conservar forrageiras ou grãos de cereais para alimentação de bovinos. No Brasil, o mais comum é ensilar milho, sorgo e cana-de-açúcar. Porém, outros produtos estão abrindo o leque de opções para revolucionar a nutrição animal e ajudar os pecuaristas. “Tudo o que for verde e tiver matéria seca entre 30% e 35% pode ser ensilado. Esse é o principio da silagem, mas tem que ver se tem uma resposta econômica”, afirmou Luiz Képlin, zootecnista e consultor em nutrição animal.

Pesquisadores garantem que matérias-primas inusitadas como a mandioca e o feijão-guandu podem produzir silagens vantajosas. O trigo também deixou de ser exclusividade das lavouras sulistas, com foco na alimentação humana, e a silagem de trigo já conquistou rebanhos bovinos de Minas Gerais (leia mais: 18 dicas para produzir e ensilar de forma correta).  

Trigo para o gado

O mercado de trigo passou a ter uma cultivar exclusiva para a alimentação de bovinos em 2017, indicada tanto para corte como para a pecuária de leite. Adaptada para regiões de clima mais quente, a cultivar TBIO Energia II, desenvolvida pela Biotrigo Genética, foi testada em 20 propriedades do norte do Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Goiás durante a segunda safra 2016/2017.  

O pecuarista Andres Rojas produziu silagem de trigo com esta cultivar na fazenda Sertãozinho em 2017, com 500 hectares em Virgínia (MG). “Plantamos uma área experimental de três hectares”, afirmou Rojas em entrevista à Farming Brasil. O trigo foi cultivado para alimentar os 250 animais da raça holandesa que são criados na fazenda. Desse total, são 90 vacas em lactação, que produzem cerca de 3 mil litros de leite por dia.  

O pecuarista, que tradicionalmente plantava milho e aveia preta em 50 hectares da fazenda para produzir silagem, pretende diversificar a matéria-prima. Segundo ele, a maior vantagem com a adoção do trigo é reduzir os custos de produção. “Não tem comparação, é muito mais barato que o milho”, afirma o pecuarista. O custo de produção do trigo para silagem, sem contabilizar o custo com maquinário, ficou em R$ 1.250 por hectare, enquanto o milho pode custar até R$ 650 a mais.  

Com a novidade será possível mesclar as áreas cultivadas na segunda safra. “Eu estou bastante otimista com a oportunidade de reduzir os custos e ainda mais por ser uma alternativa viável e fácil de colher e plantar.” De acordo com o pecuarista, essa variedade de trigo se desenvolveu bem na região e não houve nenhum caso de doença.  

Qualidade da alimentação

Na fazenda Sertãozinho, a silagem ainda não foi para o cocho, mas a expectativa é bastante positiva. “Eu usei uma parte in natura na alimentação e o gado aceita muito bem”, diz o pecuarista. O resultado deverá ser positivo para o bolso do produtor. Rojas enviou algumas amostras da silagem de trigo produzida na safra 2016/2017 para análise em laboratório. De acordo com o resultado da análise, cada tonelada de matéria seca da silagem de trigo tem potencial para gerar 1.542 quilos de leite.  

De acordo com a sua experiência pessoal, avaliando a qualidade da silagem de milho safrinha e de aveia preta produzidos na mesma temporada na fazenda, Rojas calcula que cada tonelada de matéria seca pode se converter numa média de 1.300 quilos de leite e 1.000 quilos de leite, respectivamente.  

Embora o trigo tenha se mostrado mais competitivo e com maior potencial para elevar a produtividade do leite, Rojas vai estudar a melhor composição para a dieta animal, levando em conta outros elementos, como o concentrado. “Só diminuir os custos não adianta, a ideia é melhorar a qualidade da alimentação para conseguir mais leite por vaca e aumentar a eficiência com um custo totalmente competitivo.”  

Ele planeja parar de produzir aveia preta e a silagem de trigo vai complementar o milho na nutrição das vacas. A ideia do pecuarista é diversificar a produção com a inclusão de 25% de silagem de trigo na dieta dos animais. “A cada 100 quilos de silagem, 25 quilos serão de trigo e 75 quilos de milho”, contou Rojas à Farming Brasil.  

Saudação à mandioca

Estudos recentes comprovaram os benefícios da silagem de mandioca, por exemplo, que pode aumentar a produtividade quando usada na pecuária de leite e ainda ajudar no controle de parasitas como os carrapatos.  

De acordo com Ronaldo Bandoch, técnico de campo do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Mato Grosso do Sul (Senar/MS), isso acontece porque a mandioca tem um composto químico chamado ácido cianídrico, presente nas folhas, ramas e raízes. “Quando este material passa pelo processo de moagem, a maior parte da toxina se evapora com a secagem, entretanto, os resíduos que permanecem são digeridos pelos animais e expelidos pelo suor agindo como um repelente contra estes parasitas”, afirma Bandoch.  

A silagem de mandioca só não é mais utilizada por falta de informação. Porém, as pesquisas mostram que a alternativa pode ser muito vantajosa para a nutrição animal. “É uma ração balanceada, já que a raiz é fonte de energia e carboidratos, a rama contém minerais e a folha é fonte de proteína que varia de 28% a 32%”, afirma o técnico de campo.

Segundo Képlin, além da desinformação sobre os benefícios da silagem de mandioca, outro fator reduz o uso no campo. “As regiões onde temos mandioca não são áreas com pecuária”, explica o consultor. Mas, quem tiver acesso à planta pode aproveitar para fazer silagem tanto da folha da mandioca quanto da rama e se beneficiar do baixo custo de produção.  

Segundo o técnico, a mandioca é cultivada por dois anos e pode ser cortada a cada quatro meses. De acordo com o Senar/MS, no primeiro corte o custo da silagem de mandioca é de R$ 0,26 por quilo. No segundo corte, o preço recua para R$ 0,12 por quilo e o valor ainda cai para R$ 0,9, no terceiro corte.  

Enquanto isso, a pesquisa indica que a cada corte a silagem fica mais nutritiva. Isso gera ganhos sucessivos na produção diária de leite, avançando de 0,900 mililitros por dia por animal no primeiro corte para 1,050 mililitros por animal por dia no terceiro corte da mandioca. “É mais barato que o milho porque os produtores podem conseguir a rama de graça com os vizinhos que plantam mandioca e a adubação vem do esterco do gado”, diz Bandoch. Outras opções são comprar as plantas ou começar a plantar mandioca.  

O objetivo principal é reduzir os custos com uma alternativa que traga resultados na produção. “Os produtores estão muito satisfeitos quanto à questão do combate ao carrapato e também com a parte produtiva”, conta Bandoch. Das trinta propriedades que ele atende em Anaurilândia (MS), dezessete já estão usando a mandioca na nutrição animal. Um dos produtores conseguiu reduzir o uso de ração em 500 quilos e aumentou a produção de leite em 25 litros diários.  

Silagem de feijão-guandu

Outra opção de sucesso para a silagem é o feijão-guandu. Embora faltem pesquisas para quantificar as vantagens da leguminosa na nutrição animal, alguns benefícios são evidentes. De acordo com Alexandre Agiova, pesquisador da Embrapa, os principais ganhos do feijão-guandu cultivado com milho ou sorgo são o aumento da produtividade e uma produção mais sustentável.  

“O guandu está diminuindo a quantidade de CO2 que está no solo, ele fixa nitrogênio e aumenta a produtividade e a renda do produtor”, diz o pesquisador. A resistência da leguminosa às intempéries é outro fator positivo. “O guandu resiste melhor à seca do que o milho e o sorgo. Isso compensa qualquer perda na produção para silagem”, afirmou Agiova em entrevista à Farming Brasil. Apesar da falta de comprovação científica dos benefícios da cultura, alguns produtores já estão utilizando a leguminosa no Mato Grosso do Sul e muitos são auxiliados pelo programa Mais Inovação, do Senar/MS.  

Como melhorar a qualidade da silagem?

Um dos problemas da produção de silagem é a falta de padronização. Cada produtor maneja a sua própria forrageira e, na maioria das propriedades, a qualidade da silagem não é avaliada. De acordo com Luiz Képlin, zootecnista e consultor em nutrição animal, o pecuarista precisa começar a se preocupar com a silagem desde o cuidado com o solo e manejar bem a lavoura. “O produtor não sabe o que ele quer produzir e 50% do que o gado come é silagem”, afirma Képlin.  

Segundo o zootecnista, o milho que apresenta mais palha tem uma espiga com menos qualidade e o excesso de palha na compactação da silagem dificulta a picagem. “Temos híbridos no Brasil hoje que variam de 8% a 25% de palha na espiga, não tem por que escolher um que tem 20%.”  

Outra orientação do consultor em nutrição animal é melhorar a precisão da produção de silagem. “O silo é como uma conta bancária. Se o produtor tem R$ 100 mil quando fecha, ele tem que ter R$ 100 mil quando abrir o silo. Se tem R$ 90 mil é porque houve perda”, diz Képlin. O problema é o que o produtor não pesa o que ele ensila e nem o que ele tira, então muitos não têm noção das perdas. “Pesagem de precisão é fundamental, é o que animal come que se transforma em leite.”  

Silagem do futuro

Embora haja novas opções de silagem, o milho deve seguir liderando o ranking de matérias-primas e também precisa evoluir. De acordo com Képlin, o produtor deve buscar híbridos de milho com mais potencial produtivo. “Ele não vai querer milho barato”, afirma o consultor. “Nós temos híbridos que são compatíveis com os melhores do mundo, mas eles são destinados para a produção de grãos.”  

O que acontece muitas vezes é que as próprias empresas de sementes investem em dias de campo para a produção de grãos, mas não têm a mesma atenção com os híbridos destinados à silagem. Képlin espera que o segmento evolua a tal ponto que seja possível encontrar híbridos de milho para silagem com recomendações específicas para cada raça bovina e fase da pecuária, como a recria, por exemplo.  

Dicas para produzir silagem

O processo de ensilagem, da colheita ao fechamento do silo, deve ser feito de forma rápida. De acordo com Jackson Silva e Oliveira, pesquisador da Embrapa Gado de Leite, o ideal é que o silo seja preenchido e fechado em apenas um dia.  

Um dos pontos que compromete uma silagem de alta qualidade é o momento da colheita. De acordo com Oliveira, colher com a umidade correta facilita a fermentação, facilita a picagem e a compactação, e diminui as perdas. “A umidade da forragem, ou sua porcentagem de matéria seca (MS%), é o fator que determina o momento da colheita. Ela deve ser feita quando o teor de MS da forragem estiver entre 30 e 35%”, afirmou o pesquisador da Embrapa Gado de Leite.  

1 – Organização

Planejamento é fundamental. Fazer silagem de qualidade envolve custos, riscos e conhecimento  

2 – A cultivar

Ao escolher o híbrido para a silagem, o produtor deve buscar aqueles que produzam bastante grão e que sejam bem adaptados à região e às condições de manejo.  

3 – Ensilagem

Uma boa compactação faz com que a fase de respiração seja bem curta e que a fase de fermentação inicie mais rapidamente.  

4 – Evite perdas

A compactação com camadas muito altas, maior que 20 centímetros, não fica bem feita, prejudica a qualidade e aumenta as perdas.  

5 – Vedação

Quando se usa lona preta na vedação é preciso protegê-la do sol com terra ou capim. Sem isso, ela se enfraquece, torna-se mais permeável ao ar, situação que favorece a perda de silagem.  

6 – Conservação

O uso de inoculantes pode garantir uma boa fermentação e manter a qualidade da silagem.

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