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Atraso na colheita contamina milho

“A permanência do milho no campo, por quaisquer questões operacionais, acarreta maior surgimento de fungos”


“A permanência do milho no campo, por quaisquer questões operacionais, acarreta maior surgimento de fungos”, afirma o pesquisador da área de fitopatologia da Embrapa Milho e Sorgo em Palmas (TO) Rodrigo Veras da Costa, ao alertar para a gravidade da contaminação do grão pelas micotoxinas, substâncias químicas tóxicas produzidas por determinados tipos de fungos.

Veras falou sobre o tema durante o I Workshop de micotoxinas: impactos nas cadeias produtivas de milho e sorgo, no 32º Congresso Nacional de Milho e Sorgo, ocorrido de 10 a 14 deste mês, na Universidade Federal de Lavras (Ufla). “As fumonisinas e as zearalenonas, micotoxinas provenientes de fungos da fase de pré colheita, podem provocar o surgimento de determinados tipos de câncer”, enfatizou o pesquisador. Além do grave problema de saúde pública, a presença das micotoxinas provocam perdas diretas na produção e na produtividade das culturas, reduzem o valor comercial ou impedem a exportação dos produtos afetados.

“É necessário reduzir o problema, que não é apenas relacionado ao âmbito agronômico. É uma questão de saúde pública.” No milho, esses fungos podem proliferar desde a fase em que o cereal está no campo, de acordo com as condições de temperatura, umidade e presença de oxigênio. Esse atraso na colheita, bastante praticado pelos agricultores – com o objetivo de atingir a umidade ideal na lavoura, economizando tempo e dinheiro em etapas seguintes, como levar o cereal ao secador – aumenta ainda mais a ocorrência das micotoxinas.

No milho, Rodrigo Veras explica que os fatores que causam a contaminação estão relacionados a baixos níveis de resistência de determinadas cultivares, clima e outras condições diversas, além da incidência de insetos. “O milho Bt (transgênico), nesse sentido, tem importância fundamental quando reduz os danos causados por insetos. Consequentemente, a ausência de danos nas espigas evitam a proliferação de fungos e o desenvolvimento ainda maior do problema”, explica.

De acordo com Dagma Dionísia da Silva, agrônoma e pesquisadora da área de fitopatologia da Embrapa Milho e Sorgo da Embrapa Minas, as micotoxinas são metabólicos sintetizados por fungos, que contaminam grãos e são tóxicos para humanos e animais. Elas são responsáveis por alguns tipos de câncer nos humanos, mas causam problemas no sistema reprodutivo dos animais, principalmente em suínos. Alguns gêneros de fungos iniciam a infecção do grão ainda no campo e podem continuar afetando depois da maturação e até mesmo depois de processado, podendo chegar ao consumidor final, caso as práticas de manejo não sejam adequadas, como adubação equilibrada, evitar a prática de monocultura, evitar colheitas tardias, uso de cultivares mais resistentes ao fungo e armazenamento adequado. “No Brasil, muitas vezes, o grão fica a exposto a céu aberto, por excesso de produção. Ainda é preciso melhorar a infraestrutura.”

Mais rigor

Segundo a pesquisadora, 42% do milho brasileiro apresenta contaminação por fungos, “mas isso não significa que produza micotoxinas”, resguarda. A maior parte da contaminação está abaixo da tolerância estabelecida pela legislação no Brasil. O problema tem exigido legislações mais rigorosas em todo o mundo. O grão oriundo do Brasil é considerado de boa qualidade e ainda seguro, o que não significa que possa haver relaxamento na fiscalização e nas campanhas de orientação aos produtores.

As micotoxinas podem atingir também outros grãos, como o sorgo, trigo, algodão (caroço para ração) aveia, cevada, feijão, girassol, castanhas, amendoim (mais consumido) arroz, café e cereais em geral. A presença de micotoxinas, além de afetar a saúde de animais e humanos, pode causar prejuízos comerciais, já que está entre os produtos de maior exportação. O agronegócio, as grandes e médias propriedades contam com assistência técnica permanente. O foco das políticas públicas de prevenção deve estar voltado para pequenos produtores, muitas vezes desinformados sobre as práticas de manejo. “O país tem conseguido resultados significativos no manejo adequado e na produção de grãos com melhor nível de resistência. Não cabe alarde, mas sim conscientizar os produtores na tentativa de reduzir o problema”, pontua Dagma.

Híbridos

Em relação às práticas de manejo, o pesquisador Rodrigo Veras elenca cinco pilares para controle do problema: resistência genética das cultivares; práticas culturais adequadas; controle químico e uso de cultivares transgênicas; ajuste na época da colheita e época certa de plantio. Em relação à primeira característica – a resistência genética – Rodrigo explica que ainda não há evidência para resistência completa em híbridos de milho. “A maioria dos híbridos comerciais ainda é suscetível, infelizmente.”

Segundo ele, as dificuldades para se chegar a um material com resistência estão relacionadas à amplitude da base genética do germoplasma e à forte influência do ambiente, entre outros fatores. “As alternativas que temos são a criteriosa identificação de híbridos comerciais para resistência aos principais fungos toxigênicos e às suas micotoxinas.” Em relação às práticas agrícolas adequadas, Veras reforça a necessidade de semeadura na época ideal, a adoção de baixa densidade de plantas associada à adubação nitrogenada feita de maneira correta, além do controle de insetos.
 

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