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MG: produção integrada de alimentos beneficia 15 famílias de agricultores

Chamado de “sisteminha” o arranjo produtivo garante segurança alimentar e está presente em municípios de Minas


Foto: Divulgação

Unir produção de peixes, hortaliças, frutas, milho, feijão, ovos, galinhas e outros pequenos animais para alimentar uma família de quatro pessoas e ainda comercializar o excedente. Esse é o objetivo de uma tecnologia de produção integrada de alimentos, batizada de “sisteminha”, adotada em vários municípios do Norte de Minas. Entre eles, Riacho dos Machados, um dos primeiros da região a implantar, em 2018, com sucesso, uma unidade demonstrativa do sistema.

A iniciativa tornou-se referência e acabou incentivando a criação de outros 14 projetos iguais no município. Até o momento, um total de 15 famílias de agricultores locais foram beneficiadas.

Essa forma de produzir também já funciona em outros municípios da região mineira, tais como Mato Verde e Porteirinha, entre outros. “Hoje já temos muitos sisteminhas implantados aqui no Norte mineiro. Entre 30 e 35 deles, favorecendo o mesmo número de famílias”, calcula Arquimedes Batista Neves Teixeira, gestor regional do Projeto Dom Helder Câmara, da Emater-MG, vinculada à Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), em Janaúba. 

Segundo o gestor, 80% desses sistemas foram montados com recursos do Dom Helder Câmara, programa do governo federal que conta com a parceria da Emater-MG na assistência a pequenos agricultores do Semiárido.

O extensionista agropecuário do escritório local da Emater-MG de Riacho dos Machados, Osmar Martins Campos, pontua as principais vantagens do sistema: baixo custo de investimentos e a capacidade de adaptação. “Pode ser facilmente adaptado às necessidades das famílias rurais, e ou urbanas, que ocupam pequenos espaços. E gera uma solução dimensionada para atender as recomendações nutricionais de uma família de quatro pessoas”, afirma.

Produção integrada

O sisteminha foi desenvolvido pela Embrapa, que focou na segurança e soberania alimentar de famílias do Nordeste brasileiro. A principal atividade do sistema é a criação de peixes, em um tanque, com mecanismos de recirculação e filtragem. A água, que contém resíduos e nutrientes como, por exemplo, o nitrogênio liberado pela combinação de dejetos e restos da ração dos peixes, também é usada para molhar e adubar a horta, pomar ou pequenas lavouras.

Como se trata de um arranjo produtivo, o sisteminha pode ser adaptado às necessidades, experiências e escolhas do agricultor familiar e às condições dos solos e climas do lugar e do mercado local. “Não é uma tecnologia isolada, mas tem muitas possibilidades de combinações. O básico é a piscicultura, e cada produtor adota os módulos de acordo com seu interesse e necessidade, otimizando o uso de água e adotando uma tecnologia simples”, informa o extensionista agropecuário da Emater-MG. 

Para Osmar, o importante é aliar a produção de proteína animal, da criação do peixe, e o cultivos de hortas, frutas e lavouras de milho, feijão, entre outras atividades, utilizando um manejo agroecológico. “Tudo em pequenas áreas”, salienta. O baixo consumo de água do projeto é outro ganho para os beneficiários que o técnico chama atenção. Um fator relevante para municípios do Norte de Minas que, como Riacho dos Machados, estão localizados no semiárido mineiro, onde a escassez hídrica é um desafio enfrentado todo ano pelos moradores da região.

“Dentro de um tanque de nove mil litros, o produtor pode criar de 180 a 200 alevinos e, em até 90 dias, pode tirar para consumo alimentar ou deixar mais tempo, ganhando peso”, explica Arquimedes. De acordo o técnico, os usuários retiram um terço da água a cada três dias para molhar as plantas e posteriormente, fazem a reposição do que foi tirado.

Ainda segundo Osmar, uma das características do sistema é o rodizio ou escalonamento de produção, o uso da criatividade do produtor e a formação de multiplicadores. No escalonamento, o plantio é feito aos poucos.

“Escalonamento significa, por exemplo, plantar hoje uma rua de milho, com 20 ou 10 covas e repetir com o feijão. Na outra semana, você planta de novo e assim sucessivamente, de tal maneira que esses alimentos nunca faltem na propriedade”, explica.

Sobre a criatividade, Martins disse que está relacionada ao que produtor vai escolher para plantar no seu espaço, seguindo sua aptidão e padrão de consumo alimentar. E a ideia é torná-lo um disseminador do projeto. “Eles têm hábitos e são multiplicadores da experiência. Querem receber visitas e sentem bem em mostrar o que estão fazendo”, diz.

Beneficiária satisfeita

A agricultora familiar Izabel Maria de Jesus Aguiar, 56, da Fazenda Baixa do Brejo, na zona rural de Riacho dos Machados, é uma das que foi contemplada pela política pública. Ela optou pelo cultivo de hortaliças e de bananas prata, mas tem planos de plantar também milho, mandioca e feijão, no período chuvoso, além de continuar com a criação de peixes.

“Está sendo muito bom pra nós. Sempre trabalhamos na roça, plantando cana, milho, criando galinha, porco e esse projeto é uma benção de Deus. Vale a pena pra quem tem coragem e vontade de trabalhar”, afirma.

Na propriedade, herança dos pais do marido Elton de Aguiar, Izabel e o único filho do casal, de 17 anos, dividem o território da fazenda com outros parentes. Em casas e espaços, delimitados de Baixa do Brejo, também moram dois irmãos e um sobrinho do esposo. Todos eles foram beneficiados com a implantação do sisteminha.

O extensionista Osmar Martins destaca que mesmo o sisteminha sendo “idealizado na alimentação da família e não na comercialização”, nada impede que o projeto se torne também uma fonte de renda, se houver excedentes na produção.

“É um programa de segurança alimentar adequado à uma pequena propriedade, mas se o produtor não consegue consumir, ele pode vender porque senão vai ter perdas”. Segundo o técnico, em Riacho dos Machados as famílias comercializam os alimentos que sobram no mercado da cidade, nas feiras de sábado e terça-feira.

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