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Levantamento de custos põe suinocultura paranaense na balança

Pesquisa realizada mostra que a produção integrada segue sem reajustes diante de preços melhores do mercado


As dificuldades vividas pela suinocultura brasileira em 2018 colocaram os produtores em estado de alerta. As reviravoltas no mercado interno e nas exportações impactaram diretamente o desempenho da atividade, deixando muitos suinocultores no vermelho. O episódio do embargo russo, iniciado em novembro de 2017 e encerrado em outubro de 2018, marcou uma temporada de perdas na atividade. Afinal, o maior país do mundo era responsável por um volume significativo de importações da carne suína brasileira.

Os baixos preços pagos aos produtores, resultado da oferta excedente no mercado interno, junto à alta das cotações dos grãos, insumo fundamental para a produção de ração, provocaram incertezas no setor. Como segurar as contas em meio a margens tão apertadas?

Com a reabertura do mercado russo, 2019 trouxe expectativas mais otimistas para a suinocultura brasileira. A perspectiva de aumento das importações por países asiáticos, principalmente em função da epidemia de peste suína na China, sinalizou condições mais favoráveis aos criadores, em especial aos paranaenses. Afinal, o Estado é o segundo maior produtor nacional de suínos e ocupa o terceiro lugar no ranking nacional de exportação.

Neste cenário de recuperação, ter os números da atividade na ponta do lápis tornou-se mais importante do que nunca. Por meio desse controle financeiro é possível quantificar os gastos e entender os componentes dos custos de produção, verificando desperdícios e/ou até mesmo fazendo um comparativo com outros sistemas e regiões.

Diante disso, nos meses de junho e julho deste ano, o Sistema FAEP/SENAR-PR realizou o levantamento dos custos de produção na cadeia da suinocultura paranaense. O roteiro percorreu as regiões Sudoeste, Oeste e os Campos Gerais, reunindo produtores, lideranças e representantes de empresas do setor para compilar os dados necessários para uma análise de rentabilidade da atividade. A metodologia utilizada foi inicialmente desenvolvida pela Embrapa e aperfeiçoada pelo mestre em economia rural e consultor da FAEP, Ademir Francisco Girotto.

“Fizemos reuniões com os suinocultores de cada região para verificar os sistemas de produção e as variações que podem acontecer e acontecem. Além disso, também tivemos participação das agroindústrias e vendedores de equipamentos e insumos, para que todos estejam em consenso acerca dos números”, aponta Girotto.

Detalhar os números para conhecer a realidade da suinocultura paranaense é o primeiro passo para uma atividade cada vez mais profissionalizada. Tal conduta se mostra indispensável, principalmente, para lidar com os percalços que aparecem no caminho. Além disso, ter conhecimento e embasamento técnico sobre o próprio negócio são os diferenciais na hora de firmar bons acordos.

Para o presidente da Comissão Técnica (CT) de Suinocultura da FAEP, Reny Gerardi, os resultados do levantamento em mãos servem de referencial para as negociações com o setor industrial. “Precisamos de um parâmetro, para poder sentar na mesa e discutir os preços de comercialização. Se o produtor não tem os números da sua atividade, fica mais difícil argumentar em relação aos custos e negociar o preço recebido”, destaca.

O levantamento realizado pela FAEP abrange a cadeia produtiva de suinocultura de forma integral, ou seja, foram coletados e analisados dados de todas as fases do sistema, contemplando produtores integrados e independentes.

Ou seja, esse levantamento será fundamental para os suinocultores que trabalham integrados à agroindústria, pois é o momento de reajustes para o setor produtivo, aponta Gerardi. Após um ano bastante conturbado para a atividade, a mudança de cenário já pode ser percebida pelos produtores, com o aumento das exportações e preços melhores em relação ao ano passado. Porém, os reajustes não atingiram todo setor.

“As integradoras ainda não repassaram os preços do mercado aos produtores integrados. O produtor independente já está tendo resultados satisfatórios, principalmente pela peste suína na China. O integrado ainda não. Agora vamos ter condições de exigir uma remuneração adequada”, destaca o presidente da CT de Suinocultura da FAEP.

Os resultados dos custos de produção mostram essa disparidade. Dos modelos analisados em sistema de comodato, ou seja, quando a empresa integradora ou cooperativa fornece, sem custos, os animais, alimentação, produtos veterinários e assistência técnica, ao produtor integrado, apenas um obteve saldo positivo nas três regiões. Isto é, somente a unidade Crechário, da região Oeste, indica que seus suinocultores integrados estão tendo seus custos de produção cobertos.

A falta de reajustes para o produtor nesse sistema acaba desencadeando uma série de prejuízos para o setor paranaense, pois mais de 50% da produção de suínos do Estado ocorrem a partir da integração vertical. Segundo Gerardi, isso mostra que o suinocultor paranaense que trabalha de forma integrada ainda está vivendo o ano de 2018, ou seja, com prejuízos.

“A integração no Paraná é muito forte, principalmente na região Oeste. Hoje o produtor integrado sabe que o independente está comercializando o produto praticamente pelo dobro em relação ao ano passado. Enquanto o produtor integrado não viu essa porcentagem de aumento”, argumenta Gerardi.

Para o presidente da Associação Paranaense de Suinocultura (APS), Jacir Dariva, sem esse reajuste, o produtor integrado acaba pagando duas vezes. “Estão colocando todos os suinocultores no mesmo balaio. Com o levantamento, os produtores terão uma fonte segura que mostra todas as realidades do setor”, ressalta.

Setor produtivo apresenta descompasso

A granja Peretto, no município de Dois Vizinhos, na região Sudoeste, possui uma Unidade Produtora de Leitões Desmamados (UPD) com 800 matrizes. Após mais de dois anos sem reajuste no preço pago pela empresa integradora, a granja recebeu apenas 3% este ano. “Esse valor não é condizente com a realidade. Vimos as melhorias no mercado, em relação ao custo dos insumos e preço do quilo de suíno. Sem contar o aumento que tivemos com alguns gastos, como mão de obra e equipamentos”, aponta Graciano Peretto, responsável pela administração da granja.

Além desse suporte nas negociações, Peretto destaca a importância de o produtor ter um comparativo com outras granjas para analisar os custos. “Às vezes, temos algum gasto mais elevado e não percebemos, algo que podemos cortar ou mesmo diminuir. Tendo isso em mãos, a gente consegue ver com mais clareza”, destaca.

No Oeste, a situação se repete. A granja Mielke, em Marechal Cândido Rondon, também sente os reflexos da falta de reajuste nos preços pagos pela agroindústria. Jhéssica Mielke, segunda geração a frente dos negócios da família, afirma que não houve aumento de rentabilidade em relação ao ano passado. “Estamos trabalhando abaixo da margem. O que recebemos não cobre nossos custos”, queixa-se.

Com a alta dos preços no mercado suíno, a família esperava uma melhoria nos lucros, que não aconteceu. Ainda, a granja, que produz leitões desmamados (UPD), está em processo de ampliação para 1,8 mil matrizes. “O que recebemos não cobre nem os investimentos. Se não tivermos o retorno esperado, vai ficar bem complicado”, desabafa Jhéssica.

Essa falta de reajuste levou a família a participar do levantamento dos custos de produção do Sistema FAEP/SENAR-PR. Com os resultados, Jhéssica espera que a Comissão de Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadec) ganhe forças para conseguir um preço justo para os suinocultores integrados da região.

Nos Campos Gerais, a realidade vivida pelo produtor Roberto Westphal, de Castro, já é diferente. Membro de uma Cadec em Carambeí, Westphal garante que os 31 produtores integrados conseguem reajustes anuais. “Para mim, a rentabilidade está boa. O nosso relacionamento ficou muito melhor depois da Cadec”, afirma o produtor, que possui uma Unidade Produtora de Leitões (UPL) com 600 matrizes.

Além disso, Westphal destaca o levantamento dos custos de produção como uma baliza entre as regiões. “A abertura de mercado trouxe grandes expectativas para a suinocultura, mas ainda é uma incógnita. Os integrados têm uma realidade diferente do independente. Com esses números, conseguimos ter uma noção melhor de todo o setor”, acrescenta.

Atuação das Cadecs

As Comissões de Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadecs) tornaram-se peça-chave no relacionamento do setor produtivo com as agroindústrias. Estabelecidas pela chamada Lei da Integração (Lei 13.288/2016), que trouxe mais equilíbrio e transparência nesse sentido, as Cadecs funcionam como um espaço de discussão para todos os assuntos relacionados.

Dessa forma, o levantamento dos custos de produção será uma referência para a tomada de decisões nas comissões. “Onde estão as Cadecs, a agroindústria passou a conversar diferente com o produtor porque precisam cumprir determinadas normas aprovadas pela Lei da Integração. Estamos em pé de igualdade. Antes era uma caixa preta”, reforça o presidente da Comissão Técnica de Suinocultura da FAEP, Reny Gerardi.

Segundo o presidente da APS, Jacir Dariva, esse é o momento de renegociar. “Todo o setor está esperando esse levantamento. A atuação das Cadecs, agora, vai ser de extrema necessidade”, salienta Dariva. “É um resultado de extrema confiança. As Cadecs e os produtores terão números que dificilmente serão contestados, porque passam credibilidade”, finaliza.

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