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Produtores temem não conseguir vender safra de tabaco

Um grande volume ainda está nos galpões e empresas estariam se recusando a comprar


Foto: Marcel Oliveira

A safra 19/20 de tabaco não está fácil. Depois de uma quebra de mais de 30% em função da estiagem, do fechamento prévio das indústrias em função da Covid-19, de preços praticados abaixo da tabela, gora os fumicultores temem ficar com a safra no galpão. Muitos não estão conseguindo comercializar o tabaco.

Um produtor do município de Dom Feliciano, na região Centro-Sul gaúcha, diz que está com três mil quilos em casa e não há interessados para a compra. Nem os atravessadores, comuns nesta época, apareceram. “Tenho contrato com uma fumageira mas me informaram que só vão levar o tabaco que fecha o valor dos insumos que comprei no sistema de integração (por meio de contrato a empresa fornece insumos e recebe em tabaco). O restante não sei o que fazer. Só tive propostas abaixo de R$ 40 a arroba”, relata. Pela tabela de classificação a classe mais superior do tabaco, chamada de B01, está em R$ 180,75 a arroba.  O fumicultor teme não conseguir pagar as dívidas nem garantir o sustento da família. 

Cenário preocupa

Recentemente as Federações da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (FAESC), do Paraná (FAEP) e do Rio Grande do Sul (FARSUL), cobraram que as 12 indústrias fumageiras cumpram a Lei da Integração e façam a reposição imediata dos custos de produção na tabela de preços do tabaco. A lei 13.288/2016 prevê que o preço do tabaco deve sempre resultar de acordo entre produtores de fumo e as empresas. No começo desta ano as empresas abandonaram a mesa de negociação sem resultados. As variações de percentuais sugeridas foram 5,5% a 9,4%, com mais 2% acima do custo como reposição de perdas anteriores. As empresas reajustaram por conta própria, sem repor perdas.

Com isso, por mais uma safra, o custo de produção superou a renda na atividade. Segundo a Comissão para Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração do Tabaco (CADEC) os custos de produção para esta safra variam de R$ 8,19 a R$ 9,38 por kg. 

Para a próxima safra, que já está em implantação, as empresa fumageiras devem dipensar 55% dos safreiros a partir de julho. Necessidade de redução no número de trabalhadores nas linhas de produção também deverá impactar o total de contratados.

Segundo a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), nos três estados do Sul são quase 150 mil famílias envolvidas e quase 300 mil hectares em produção. Para a próxima temporada muitos já anunciaram que não vão investir no tabaco. Ainda não há um número oficial. Outro produtor da região de Canguçu (RS) que conversou com nossa reportagem conta que na região onde mora pelo menos 8 famílias não vão plantar mais. “A gente tem um custo alto. Fertilizantes e defensivos estão com preços altos e o fumo valendo quase nada. Ano passado vendi a uma média de R$ 150 a arroba e neste nem chegou a R$ 60. Vou estudar outra cultura pra plantar”, conta o agricultor de 58 anos.

A cadeia

Líder mundial em negócios com tabaco e detentor de 25% das vendas do produto no planeta, o Brasil fechou 2019 com US$ 2,14 bilhões e 549 mil toneladas em exportações, segundo dados do Ministério da Economia. O aumento foi significativo, pois os números finais revelaram o incremento de 7,6% em dólares e de 19% no volume de tabaco embarcado em relação ao ano anterior (2018), quando haviam sido embarcadas 461 mil toneladas, gerando US$ 2 bilhões em divisas. O tabaco seguiu para 111 destinos diferentes.

O Portal Agrolink entrou em contato com entidades do setor e empresas fumageiras e aguarda resposta.

 

 

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