CI

Febrac mostra os avanços da pesquisa genética para a pecuária

Dados permitem saber precocemente que animais são melhores em termos de ganho de peso, por exemplo


Foto: Marcel Oliveira

A pesquisa genética na pecuária e os ganhos trazidos para o desenvolvimento de animais ideias, ou para mitigação de qualidades não desejadas, foi um dos temas trazidos para debate pela Federação Brasileira das Associações de Criadores de Animais de Raça (Febrac) na programação da Expointer Digital desta terça-feira (29), em transmissão que ainda pode ser acessada no Canal 1 do site www.expointer.rs.gov.br/.

Professor da Unesp, José Fernando Garcia, um dos precursores em pesquisa genômica molecular no País, e profundo conhecedor do tema na pecuária, apresentou um histórico do mapeamento genético do humano primeiro animal com interesse comercial, um bovino, e avançou para os dias atuais e dilemas futuros.

“Em 2001, na virada do século, ainda era impensável, por ser caro, mapear o genoma de um animal. Até que em 2002 a comunidade científica se juntou, na Alemanha, e obteve recursos para mapear um”, conta Garcia.

O animal escolhido, após amplo debate, se definiu que seria um bovino, de raça taurina, e uma fêmea Hereford foi sequenciada em seus genomas. O trabalho completo de análises e estudos avançou até 2009, quando, para Garcia, o uso na pecuária deu um salto.

“Em dez anos, esse trabalho passou do nada para o uso no dia a dia. Converso com inúmeros criadores e associações de pecuaristas, que já tem intimidade com o assunto”, explica Garcia.

O professor, porém alertou para necessidade de associações de criadores assumirem mais o mercado de gestão de bancos genéticos, análises e armazenamento genômico antes que empresas privadas o façam. E citou a dianteira já tomada há anos pela Angus Genétic Genetics Inc. (AGI), da American Angus Association, dos Estados Unidos.

“No Brasil é a Angus que está na liderança dos trabalhos genômicos também, seguido pelo Nelore”, opina Garcia.

Hoje, diz o pesquisador, com a coleta de pelos do rabo de uma vaca holandesa, também uma das primeiras mapeadas, se pode saber o quanto de leite ela produzira desde cedo. O que pode ser ainda mais importante do que na pecuária de corte, já que uma fêmea de leite terá uma produção ao longo de muitos anos, e o abate para produção de carne ocorre uma única vez.

O “saber genômico”, acrescenta Garcia, ou melhor, a análise dos dados que esse avanço tecnológico permite reduziu de uma década para entre seis meses e dois anos o conhecimento sobre características de um animal e seu melhoramento para recria. Até a década passada se matinha, por exemplo, 10 mil animais vivos para testes de progênie, ao custo de US$ 200 mil dólares, para se ter uma base de comparação.

“Isso acabou. Antes, só se sabia as reais qualidades de produção da carne de um animal com o abate. Hoje, se pode certeza maior de 80% de como será essa característica de forma extremamente precoce. Era o universo dos sonhos de qualquer criador até pouco tempo”, ressalta o pesquisador, que participou do grupo internacional de estudo que deu início ao mapeamento genético em bovinos.

As informações do DNA, explica, hoje ajudam no direcionamento da seleção de animais produtores, com uso de marcadores genéticos que permitirão avaliar, a partir de um único exame nos primeiros meses de vida do animal, características como ganho de peso, produção de leite, maciez da carne e resistência a doenças.

Saiba mais sobre os estudos

- Um grupo internacional de cientistas, com participação brasileira, sequenciou pela primeira vez o genoma de um animal bovino – uma vaca da espécie Bos taurus – em um trabalho finalizado iniciado 2002 e finalizado em 2009. Um segundo grupo apresentou as primeiras aplicações do sequenciamento: um mapeamento da diversidade genética encontrada entre 20 raças distintas.
- Os resultados dos trabalhos foram descritos em dois artigos destacados na capa da edição revista Science em maio de 2009. O sequenciamento, que revela a distinção genética entre o gado, seres humanos e outros mamíferos, foi o primeiro realizado com ruminantes e, de acordo com os autores, o primeiro dirigido a uma espécie animal de interesse comercial.
- De acordo com José Fernando Garcia, coordenador do Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular Animal da Universidade Estadual Paulista (Unesp), e um dos participantes brasileiros dos dois consórcios, as informações impulsionaram até hoje pesquisas voltadas para o aumento da qualidade da carne e do leite dos países produtores.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.