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Como acabar com o capim-annoni?

Planta invasora diminui oferta de alimento e causa perdas em gado de leite e corte


Foto: Marcel Oliveira

O capim-annoni é uma gramínea que veio da África do Sul e infestou campos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. A espécie invasora tem sido um problema sem controle nos últimos 50 anos. Ela bloqueia o crescimento de outros tipos de vegetação, impactando na produção de forragem, diminuindo a oferta de alimento para os animais e, consequentemente, resultando em perdas de produtividade e renda no gado leiteiro ou de corte. O assunto foi debatido em uma live promovida pelo Senar-RS e a Embrapa Pecuária Sul. 

A pesquisadora da Embrapa Pecuária Sul, Fabiane Lamego, destaca que a planta é velha conhecida dos produtores e na rede de pesquisa foram encontradas características interessantes, como a planta ser capaz de vegetar inclusive no asfalto. Um estudo feito em parceria com a Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) mostrou que uma única planta de capim-annoni produz, no ano, 80 mil sementes. Em um cenário de 10% apenas se tornando planta seriam, pelo menos, 8 mil novas plantas. Em um hectare 80 milhões de sementes, avaliando apenas 10%. “Isso explica porque é tão difícil conseguir eliminar e precisamos de estratégias conjuntas”, explica.

A Embrapa Pecuária Sul trabalha para desenvolver métodos de combate ao capim-annoni em um projeto chamado Mirapasto ou Método de Recuperação de Pastagens Degradadas. O método identifica quatro práticas que devem ser adotadas para reverter a degradação e aumentar a produção do pasto.

O primeiro ponto é o controle de plantas indesejadas. Experimentos baseados no uso de herbicidas, com pulverização em jato dirigido não são o ideal porque eliminam o capim-annoni mas também todas as outras plantas nativas ao redor. “Priorizamos o campo nativo. Além disso as sementes ficam e podem se estabelecer novamente” explica Fabiane. 

O controle tem sido baseado numa máquina chamado campo limpo, que é um aplicador seletivo, desenvolvido em uma parceria pela Embrapa e a empresa Grazmec . O contato do herbicida com a planta se dá por córneas umedecidas. A barra é regulada de maneira a ter contato só com a planta daninha pela sua diferença de altura com o restante do campo. “Numa área de experimento do Mirapasto saímos de 85% de infestação para 10%, isso trabalhando o projeto ano a ano”, conta a pesquisadora.

Na foto o aplicador seletivo de herbicidas Campo Limpo - Crédito: Kéke Barcellos

O segundo pilar do projeto está em conhecer o solo quanto às suas características físicas, químicas e biológicas para avaliar se é necessário fazer o revolvimento. “Fazer a análise de solo é sempre imprescindível porque assim se consegue saber sobre os elementos, por exemplo, fósforo disponível, e o que tenho disponível para formar nutrientes. Se eu revolvi sem saber posso demorar muito a repor isso”, comenta a engenheira agrônoma e instrutora do Senar-RS, Daniela Schossler.

O terceiro ponto é fazer a reposição das espécies. “Depois de observar o solo, que níveis de fertilidade restam, fazer reposição, fez o controle do capim-annoni então já houve um desembolso que tem que retornar ao produtor para a atividade ser viável. A partir disso deve ser feita a introdução de espécies para chegar a uma pastagem nativa mais próxima do que era antes do annoni”, ressalta o pesquisador Embrapa Pecuária Sul, Naylor Perez.

Ele explica que se o controle for feito no final do verão, no inverno já é possível ter pastagem. A introdução da espécie deve ser condizente com a fertilidade do solo: se há baixa fertilidade não usar leguminosas e sim gramíneas como azevém. 

“Terminado o ciclo de inverno o que restar de cobertura nativa vai ser 15 a 20% no máximo e isso é impensável para nutrir o animal e repor os gastos. Muitas vezes o que se precisa fazer é introduzir um pasto de verão alto para produzir forragem ate que a área nativa se recomponha, algo que demora em torno de 2 a 3 anos”, diz Perez.  

O último ponto é o controle da oferta de pasto. Essa recomendação é importante para manter as plantas produzindo bem, transformando em biomassa para o alimento animal. Os níveis ideais de tamanho para os animais também são os que combatem o annoni. “A pastagem alta gera sombreamento que é nociva à produção de capim-annoni”, finaliza.


 

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