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Criminosos miram máquinas e insumos

Só no Paraná são quase 23,4 mil ocorrências em dois anos e meio


Foto: Arquivo

Não bastassem os golpes de falsa venda de máquinas, agora criminosos miram as máquinas e os insumos em propriedades rurais. Com o bom desempenho do agronegócio produtores têm investido em maquinários de alto valor, o que chama a atenção de quadrilhas. 

Os grupos se aproveitam da vulnerabilidade das zonas rurais para cometer os roubos. Segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública do Paraná (Sesp), ao longo dos últimos dois anos e meio, o estado registrou 2.354 roubos a propriedades rurais (quando bandidos armados rendem as vítimas) e 19.261 furtos (em que ladrões levam os bens quando a vítima não está no local ou não percebem a ação).  Além disso, 1.026 veículos foram furtados e 750 foram roubados no meio rural. Juntos, são quase 23,4 mil ocorrências em meio rural, no período: média de 779 por mês. 

O número de casos vem caindo, mas ainda estão em um patamar preocupante: são 25 furtos ou roubos em meio rural por dia. Os dados dizem respeito apenas aos crimes em que as vítimas registraram boletim de ocorrência. 

“Precisamos que o poder público faça a parte dele e garanta nosso direito à segurança. Precisamos ter segurança para continuar produzindo”, disse o presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR, Ágide Meneguette. 

A FAEP vem estimulando que os agropecuaristas fortaleçam a segurança local, participando dos Conselhos Comunitários de Segurança. Segundo a entidade os casos sugerem que os bandidos estão de olho em produtos específicos. Em alguns casos ao ver a marca e modelo do trator desistem do ato, de acordo com o que pedem receptadores. Os insumos também chamam a atenção dos criminosos. Em um caso registrado em Engenheiro Beltrão, Noroeste do Paraná, os ladrões furtaram 180 quilos de inseticida (avaliados em R$ 28 mil), além de 18 galões de glifosato e dez galões de outro defensivo e, na mesma noite, levaram uma carga de sementes de milho de um vizinho.

Para as forças de segurança, este tipo de crime só se sustenta em razão de uma figura específica: a do receptador, ou seja, aquele que compra os produtos furtados ou roubados. Afinal, as quadrilhas de assaltantes só agem porque há mercado para os bens obtidos de forma criminosa. A pena prevista para receptação não passa de cinco anos de reclusão. Na maioria dos casos, esses criminosos respondem pelo crime em liberdade. Em caso de condenação, podem cumprir a pena em regime semiaberto. 

No caso de implementos agrícolas e de insumos, fica ainda mais claro que os produtos furtados ou roubados são comercializados entre os próprios produtores rurais, em um mercado clandestino e criminoso. 

Em setembro de 2018, por exemplo, a Polícia Federal (PF) deflagrou a Operação Roda Livre. Em menos de um mês, 18 tratores foram recuperados. Quatro dessas máquinas estavam em uma revendedora onde os equipamentos eram negociados com produtores rurais da região. Na maioria dos casos, os agricultores compravam o implemento de boa-fé. 

Segundo o delegado João Paulo Sorigotti, da comarca de Terra Rica, Noroeste paranaense, as quadrilhas estão cada vez mais especializadas, o que dificulta o trabalho da polícia. Além disso falta efetivo na polícia militar para atender o interior e cerca de 150 municípios paranaenses não têm delegacia da Polícia Civil, responsável pela investigação dos crimes. “No caso de furto de gado, por exemplo: às vezes, o pecuarista descobre um ou dois dias depois. Quando é boi gordo, os bandidos levam direto para o frigorífico e já matam no mesmo dia. Então, é um crime bem difícil de descobrir”, apontou. 

Como se tratam de crimes considerados menores, sem violência os criminosos dificilmente ficam presos. Enquanto isso os casos se espalham pelo país. Em agosto uma quadrilha foi presa no Rio Grande do Sul que agia de modo violento e atacava propriedades rurais em várias cidades gaúchas, sempre com o objetivo de roubar tratores e máquinas agrícolas.Todos os veículos agrícolas eram depois transportados para outros Estados e até para outros países.

No ano passado foi desmantelado o maior esquema de vendas de máquinas agrícolas roubadas que se tem notícias no país. Os crimes aconteciam em estados como São Paulo e Santa Catarina e seguiam para o Paraná. Estima-se que os criminosos movimentaram R$ 4 milhões.

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