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Experiências do PR, SC e RS com araucária são tema de evento

O terceiro painel do evento “Araucária: pesquisa, inovação e tecnologias para sistemas de produção”


Foto: Pixabay

O terceiro painel do evento “Araucária: pesquisa, inovação e tecnologias para sistemas de produção” aconteceu em 12/11 e trouxe como tema transferência de tecnologia e extensão rural. Segundo o moderador do evento, o pesquisador Ivar Wendling, da Embrapa Florestas, “precisamos de uma extensão rural forte e atuante, para apoio efetivo ao produtor rural. No caso de cadeias produtivas como erva-mate e araucária, isso é bem importante.

Queremos tirar a araucária de uma posição de espécie marginal na economia e, para isso, precisamos de tecnologias e parcerias. Com isso, podemos fazer com que as informações cheguem aos produtores para fazer girar a roda da economia. E colocar a araucária como uma espécie importante novamente na questão econômica e ambiental”. O moderador ressaltou que a ideia é “discutir o sistema de produção para que a espécie possa, efetivamente, voltar a despertar o interesse em seu plantio e, consequentemente, acabar conservando a espécie mediante seu uso, mas também como opção de renda aos produtores”.

O primeiro palestrante foi Amauri Ferreira Pinto, coordenador estadual de florestas plantadas do IDR-Paraná. O coordenador abordou o plano de atuação da extensão rural com araucária no Paraná. “Um dos nossos objetivos é fazer a araucária voltar a fazer parte da questão econômica do estado”, explicou Amauri. A espécie está em terceira colocação no valor bruto de produção (VBP) entre os produtos não-madeireiros do estado (R$ 22 milhões), mas conta com uma série de entraves para melhor se desenvolver. “Um grande problema hoje está na legislação, que gera insegurança jurídica para plantar e conduzir florestas com araucária. Isso refletiu na queda de produtores atendidos e em área plantada com araucária”, avalia Amauri.

Nos próximos cinco anos, o IDR-Paraná vai trabalhar com foco no estímulo à produção de pinhão como fonte de renda aos produtores rurais. Para isso, um amplo programa começou em 2019 abrangendo 92 municípios de cinco regionais: Curitiba, Ponta Grossa, Irati, União da Vitória e Guarapuava, que estão na região de ocorrência da Floresta Ombrófila Mista, onde está a araucária. “O IDR-Paraná quer ajudar a organizar a cadeia: este é o primeiro fator a ser trabalhado”. 

Como fatores críticos de sucesso, o palestrante apontou a baixa organização da cadeia produtiva; técnicos não capacitados na tecnologia de produção; a falta de acesso a mercados institucionais e rede varejista; além da falta de sistema de informações sobre mercado e comercialização. Para isso, o IDR-Paraná vai atuar em algumas frentes, como o incentivo à formação de alianças de produtores, chamada Alianças P3 (propriedade produtora de pinhão);  capacitação de técnicos e viveiristas; worskshops de gastronomia; inserção do pinhão na merenda escolar; agregação de valor por meio de novos produtos; centrais de processamento, com uma experiência piloto em Bituruna/PR; desenvolvimento de polos turísticos, com Rotas do Pinhão; e desenvolvimento de critérios de certificação.

Com diversas metas, como 40 unidades de referência implantadas, 600 produtores assistidos diretamente, 100 mil mudas enxertadas plantadas, 150 técnicos capacitados em seleção e enxertia de materiais produtivos e com qualidade, 21 eventos para 1200 produtores (caso seja possível em virtude da pandemia), 10 alianças P3 constituídas e beneficiárias de equipamento para industrialização, o objetivo é revolucionar e estimular o ambiente, com aumento de renda aos produtores e triplicar o VBP estadual com pinhão. “Queremos estimular a conservação pelo uso, não pela restrição. Desconheço algum lugar no mundo em que a conservação pela proibição tenha resultado em alguma coisa. Com a conservação pelo uso, a gente consegue chegar em algum lugar”, finalizou.

Plano de atuação no Rio Grande do Sul

A segunda palestra trouxe o plano de atuação da extensão rural com araucária no Rio Grande do Sul e foi ministrada pela assessora técnica em manejo de recursos naturais Adelaide Ramos, da Emaster/Ascar-RS. Segundo a palestrante, “o plano nasceu da demanda do setor, em virtude de sua importância econômica, social e ambiental”. “Hoje ainda temos a exploração extrativista de madeira e pinhão, com raras iniciativas de plantios”, completou.

O plano traçado busca desenvolver a sustentabilidade sócio-econômica e ambiental da cadeia produtiva da araucária, com o estímulo à produção de matéria-prima de qualidade, transformação e beneficiamento, com agregação de valor à produção e melhor comercialização; além do estímulo à adequação ambiental das propriedades rurais. O segundo ponto busca consolidar, conservar e preservar os remanescentes das florestas nativas de araucária, com a recuperação de áreas degradas e diminuição da pressão sobre as florestas nativas através da oferta de seus produtos com origem de florestas cultivadas. O terceiro ponto procura resgatar e incentivar o uso do pinhão na segurança alimentar, na culinária e na presença na cultura das famílias, em virtude de seu alto valor nutricional e por ser uma iguaria gastronômica; além de consolidar e fomentar o ecossistema da floresta com araucária e seus produtos, em especial o pinhão, como opção para turismo e agroindustrialização.

“Temos hoje um contexto de identificação da nossa origem e procura pelo mais natural, e também uma busca pelas belezas, o que atrai o turismo”, analisa Adelaide. A palestrante apontou que, na agroindustrialização, ainda existem problemas como o armazenamento do pinhão, disponibilidade em pouco tempo do ano e agroindústrias ainda em ritmo muito incipiente. “Precisamos de um esforço para atingir estes elos da cadeia produtiva para acessar tecnologia visando agregar valor e manter as famílias envolvidas”, completou.

Para isso, o plano busca enfrentar os desafios de estabelecer uma base tecnológica de transferência de tecnologia e de capacitação e promover a criação de instrumentos financeiros para sua implementação, integrando instituições públicas, de classe e privadas para sua execução. Para isso, é necessário sensibilizar lideranças, técnicos, produtores e empresários sobre a importância da cadeia produtiva; assegurar a inclusão e participação dos pequenos e médios produtores rurais, micro, pequenas e médias empresas e indústrias e, especialmente, assegurar a regularidade jurídica e ambiental aos produtores e demais atores envolvidos no processo. “É de fundamental importância a construção coletiva de parcerias que trabalhem nos diferentes elos da cadeia, para criar um movimento coletivo e implantar essa proposta”, finalizou.

Experiência em Santa Catarina

O terceiro palestrante do painel foi Natal João Magnanti, coordenador da Associação Vianei de Cooperação e Intercâmbio no Trabalho, Educação, Cultura e Saúde (Avicitecs), que trouxe informações sobre a cadeia produtiva do pinhão no planalto serrano de Santa Catarina. A região abrange 18 municípios e a Avicitecs trabalha desde 2003 com o apoio a diversas cadeias produtivas, sendo o pinhão um importante ativo em sistemas agroflorestais (SAFs).

Além do apoio aos produtores com diversos projetos, a Associação produz materiais sobre os projetos, destacando os conhecimentos e saberes dos produtores rurais, e também participa de iniciativas como articulação no movimento internacional de slow food. Outro ponto de atuação são projetos e publicações em parceria com instituições como Embrapa, UFSC, Ecovida, com as experiências locais tanto nos sistemas de produção quanto dos alimentos. Magnanti explicou que estão participando de uma iniciativa para construção coletiva de um selo para extrativismo sustentável, com inúmeros produtos da sociobiodiversidade como pinhão, mel e frutos de sistemas agroflorestais.

Magnanti destacou iniciativas de políticas públicas em relação a comercialização, agroindustrialização e pesquisa no planalto serra catarinense, tais como discussões sobre desoneração do ICMS sobre a comercialização do pinhão; inserção do pinhão em programas como PNAE e PAA; monitoramento dos preços de venda pela Conab/SC, para um melhor dimensionamento da cadeia; e projetos de pesquisa com diversas instituições como Embrapa, Fapesc, CNPq, Udesc, UFSC (campi Florianópolis e Curitibanos), Consea.

O coordenador destacou um projeto para otimização do processamento do pinhão, para agregar valor e possibilitar novos produtos, que está em análise para aprovação em parceria com a Embrapa Florestas, e projetos de fortalecimento das cadeias produtivas. 

“Temos percebido um aumento no número de produtores que formalizam a venda do pinhão mas, na média, os valores pagos aos produtores ainda são baixos. A maior parte do ganho fica com os atacadistas”, esclareceu. “É um aspecto importante também a ser trabalhado”.

Encerrando a fase de palestras, aconteceu um debate entre os palestrantes, com discussões aprofundadas sobre novos produtos e sua viabilidade; a legislação e seu impacto na cadeia produtiva da araucária e do pinhão; preservação e conservação.

Após o painel, aconteceu a apresentação de quatro trabalhos científicos.

Para assistir a gravação do evento, acesse o canal da Embrapa no Youtube.

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