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IAC lança Boletim Agrometeorológico para regiões cafeeiras paulistas

Março deverá ser marcado por chuvas mais frequentes sobre as regiões cafeeiras


Foto: Pixabay

Será que chove? Para perguntas que parecem simples e vivem na boca da galera, quando é preciso ter resposta segura, é necessário contar com embasamento na ciência. E informação confiável é o que o agricultor precisa para adotar o manejo ideal e no momento adequado. Porque com um passo errado, os investimentos podem ir por água abaixo.

Para levar aos cafeicultores informações sobre o monitoramento das condições climáticas de diferentes regiões do estado de São Paulo, o Instituto Agronômico (IAC-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, lançou o Boletim Agrometeorológico: condições observadas e previstas para o cafeeiro do estado de São Paulo. A publicação online, com periodicidade mensal, foi lançada em fevereiro de 2021 e está disponível no site do IAC. As novas edições poderão ser acessadas a partir do dia 5 de cada mês. Já estão disponíveis as de janeiro/fevereiro e fevereiro/março.

"Esse monitoramento já vem sendo realizado desde 2012 por um projeto coordenado por mim, em parceria com a Embrapa-Café, e agora decidimos compartilhar essas informações com os produtores de forma direta e constante", diz a pesquisadora do IAC e responsável pela publicação, Angelica Prela Pantano. O Boletim faz parte do projeto Clima IAC e objetiva divulgar informações relevantes para a agricultura, reforçando o cumprimento da missão do Instituto de gerar e transferir ciência e tecnologia.

De acordo com a segunda edição do Boletim, o mês de março tem início com o tempo mais firme sobre as regiões cafeeiras paulistas, com possibilidades de pancadas irregulares e de baixa intensidade, em algumas regiões. "No entanto, já no primeiro final de semana do mês, a tendência é que as chuvas retornem às regiões produtoras de maneira mais generalizada e com volumes satisfatórios", afirma a cientista.

De maneira geral, março deverá ser marcado por chuvas mais frequentes sobre as regiões cafeeiras, desde Votuporanga até Franca e Mococa. "As chuvas poderão ocorrer quase que diariamente, porém de maneira irregular, já que deverão ocorrer mais na forma de pancadas do que invernadas", complementa. A boa notícia é que as condições estão favoráveis para o enchimento de grãos e o início da maturação.

De acordo com as previsões do tempo, os volumes de precipitação para março serão próximos às normais climatológicas. Isso indica possível melhora nas condições hídricas do solo, suprindo as necessidades e elevando os níveis de umidade do solo em todas as regiões.

Condições hídricas do solo estiveram melhores em fevereiro que em janeiro

Ao longo de todo o mês de fevereiro, os volumes de precipitação pluvial ficaram abaixo das normais climatológicas em todas as regiões cafeeiras paulistas, exceto Espírito Santo do Pinhal. "Porém, as condições hídricas do solo estiveram melhores quando comparadas a janeiro", diz Angelica. No segundo mês de 2021, houve grande variação de volume, que ficou entre 93 mm e 234 mm. "Essas chuvas foram mais intensas ao longo da primeira quinzena, alguns episódios foram registrados na segunda quinzena do mês. Porém, na maior parte do Estado, os volumes registrados foram inferiores aos esperados", explica a pesquisadora do IAC.

Em Votuporanga choveu cerca de ¼ do volume normal para fevereiro, que seria em torno de 190 mm. A localidade com menor volume de chuva registrado ficou em torno de 52 mm, apenas. De acordo com Angelica, a condição de temperaturas elevadas e precipitação abaixo do esperado levou as cultivares de café mais precoces a entrarem na fase de maturação. "No entanto, produtores que realizaram o plantio de novas áreas ainda se preocupam com os volumes de chuvas e, em algumas regiões, a irrigação tem sido uma alternativa para suprir as necessidades e diminuir o estresse hídrico", comenta.

As regiões de Guaíra e Votuporanga estão em situação de déficit hídrico, devido ao baixo volume de chuva registrado. No início de fevereiro, os cafeeiros estavam na fase de enchimento de grãos e, em alguns locais, em início da maturação. "No entanto o período seco ocorrido em janeiro pode prejudicar o enchimento e crescimento dos frutos", avalia Angelica.

Na primeira edição, foram veiculadas informações sobre as condições de temperatura e precipitação aplicadas ao balanço hídrico, que fornece as condições hídricas do solo. "Isso para o mês anterior. Para o mês seguinte, aplicamos os dados de temperatura e precipitação previstos, na elaboração do balanço hídrico, de forma que o produtor tenha uma perspectiva de como serão as condições hídricas do solo no próximo período", conta a pesquisadora do IAC, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA). Segundo a cientista, no mês de janeiro as chuvas foram desejadas em todas as regiões cafeeiras, pois os frutos estavam no estádio de desenvolvimento e necessitando de água.

Em todo o estado de São Paulo podem ter ocorrido plantios de novas áreas. Em geral, o transplantio das mudas é feito a partir de setembro-outubro, contando com as chuvas de setembro a março. Porém, em períodos mais longos com falta de chuva, é recomendada a irrigação para garantir o pegamento dessas mudas. "Onde não há essa possibilidade, podem ocorrer perdas de mudas e/ou desenvolvimento atrasado das mesmas", afirma Angelica.

De acordo com a publicação, no período observado de 1° a 31 de janeiro foram registradas chuvas em grande parte das regiões cafeicultoras paulistas. Os acumulados variaram entre 200 mm e 250 mm. De forma geral, esse volume é considerado normal para o primeiro mês do ano. "São previstos esses volumes de precipitação, no entanto, para algumas regiões, como Franca, por exemplo, apesar de ser um volume aparentemente alto, foi inferior ao esperado, o que resultou em uma condição de déficit hídrico no solo", completa.

Porém, Angelica relata que essas chuvas ocorreram, principalmente, ao longo da primeira quinzena de janeiro. Nos últimos dez dias do mês, as chuvas foram muito irregulares, principalmente nas regiões produtoras situadas na Mogiana, como em Franca, Caconde e Mococa, onde os volumes acumulados ficaram próximos a 10 mm. "Essa segunda quinzena mais seca ocasionou déficit hídrico, o que pode afetar o desenvolvimento dos frutos de café, uma vez que estão em fase de desenvolvimento e estádio próximo à maturação", explica. Essa situação de déficit hídrico e as altas temperaturas contribuem para o adiantamento da maturação do cafeeiro. Na região de Marília e Garça, nos últimos dias de janeiro, os volumes registrados foram próximos de 20 mm.

Apesar de serem registrados volumes satisfatórios de chuva em praticamente todo o estado no mês de janeiro, apenas Campinas e Espírito Santo do Pinhal fecharam o mês com excedente hídrico. As demais localidades apresentaram déficit hídrico no terceiro decêndio de janeiro.

A princípio, o Boletim abordará as condições para as regiões cafeeiras mas, futuramente, poderá ser aplicado em outras regiões e para outros cultivos como milho, azeitona e cana-de-açúcar, por exemplo.

Risco de peneira baixa

A pesquisadora comenta a possibilidade de o desenvolvimento dos grãos ser prejudicado pela seca mais prolongada. "Poderemos ter peneira baixa na próxima safra em algumas lavouras, pois a falta de água nesse período de desenvolvimento dos frutos os deixa em tamanho menor, prejudicando a qualidade do grão e até a da bebida", alerta.

Os volumes de chuvas têm sido menores do que os previstos. De acordo com a pesquisadora do IAC, no estado de São Paulo, em geral nos meses de janeiro, analisados dados de chuva no período de 30 anos conforme as normas climatológicas, observa-se que normalmente os volumes de chuva variam de 200 a 300 mm. "Isso não significa que ocorrerá em todos os anos, é o que chamamos de variabilidade climática, em alguns anos pode chover acima e em outros abaixo do esperado, em outros ainda pode ser próximo a esse volume", explica.

As condições climáticas sofrem variações entre locais, períodos e também de um ano para o outro. "As previsões podem nos ajudar no manejo em programação das atividades agrícolas, mas são previsões, feitas por meio de modelos agrometeorológicos e matemáticos, e sofrem as variações constantes do tempo, como entradas de frente fria, de zona de convergência, de vento e outros", conta. Os modelos são ferramentas que devem ser utilizadas diariamente, de forma que as variações atmosféricas sejam computadas permanentemente e levadas em consideração para gerar as previsões.

Neste trabalho são parceiras do IAC a Rural Clima e a Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola (Fundag). A Rural Clima é empresa especializada em previsão do tempo para áreas agrícolas, com atuação em todo o território nacional. A parceria se dá por meio de um projeto financiado pelo Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela pesquisadora Angelica Prela Pantano, com a colaboração da pesquisadora visitante vinculada ao IAC, Ludmila Bardim Camparatto, e do agrometeorologista e proprietário da empresa, Marco Antonio dos Santos.

Segundo Angelica, esse projeto é um upgrade de projetos anteriores, quando era realizado o monitoramento climático das regiões cafeeiras paulistas. "Nos próximos quatro anos, com a colaboração da Rural Clima, teremos a junção do monitoramento com a previsão climática, o que possibilitou a implantação desse boletim", comenta.

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