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SP tem único laboratório de sanidade apícola do país

Unidade fica em Pindamonhangaba e traz conhecimento para a saúde das colmeias


Foto: Pixabay

As abelhas são fundamentais para a agricultura, sendo os principais polinizadores para várias culturas. Em 2018 elas representaram R$ 43 bilhões, para a economia brasileira. A saúde das abelhas é objeto de pesquisa do Laboratório Especializado de Sanidade Apícola (LASA) do Instituto Biológico, localizado em Pindamonhangaba (SP). Este é o único do país na área e realiza diagnóstico de vírus, fungos, bactérias e parasitas que acometem as abelhas Apis mellifera africanizadas. 

Entre outras questões a unidade busca explicar e diminuir a mortalidade das abelhas. “Dentre outras atividades de pesquisa, nosso laboratório tem capacidade para identificar o DNA e o RNA de patógenos ou parasitas presentes e possíveis variações de genótipos, que levam a diferenças em termos de virulência e forma das doenças se instalarem”, afirma a pesquisadora, Érica Weinstein Teixeira.

Ela explica que os insetos estão ameaçados em todo mundo por um conjunto de fatores que vão desde as mudanças climáticas, uso de monoculturas que levam a perda de habitat dos insetos até o uso indiscriminado de agroquímicos.

O IB estuda as doenças que acometem as abelhas há mais de uma década. Segundo a pesquisadora o declínio de polinizadores figura como uma das grandes ameaças à humanidade em tempos atuais, tanto no que diz respeito à produção de alimentos, como ao desequilíbrio de ecossistemas. “As abelhas, assim como qualquer outro animal, são acometidas por microrganismos patógenos e parasitas e, em virtude da debilitação fisiológica que pode ser causada por qualquer um dos fatores mencionados estão cada vez mais vulneráveis. “Esses fatores podem agir de forma única ou combinada, em diversas intensidades. Em formas mais graves, as colônias podem sucumbir e entrar em colapso”, explica a cientista especialista em sanidade apícola.
 
Estudo avaliou fungo mortal para abelhas

Um estudo inédito desenvolvido pelo IB em conjunto com a Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) focou o fungo Nosema ceranae, que pode causar diversas alterações fisiológicas e de comportamento nas abelhas melíferas africanizadas.

A pesquisa demonstrou pela primeira vez que a infecção natural por N. ceranae deprime o sistema imune de abelhas campeiras. “Descobrimos que este microrganismo é prejudicial ao sistema imune de abelhas mais jovens e mais velhas, já a dispersão, mitigação e controle da doença, irá depender do contexto social da colônia”, explica a pesquisadora. 
 
Érica ressalta que este fungo unicelular vem sendo apontado como um dos responsáveis por declínio de populações de abelhas e colapsos no Hemisfério Norte. Pesquisas conduzidas pelo Instituto Biológico, juntamente com outras instituições brasileiras, já demonstraram, porém, que a sua ocorrência não é recente no país, estando amplamente presente no Brasil há pelo menos três décadas. 

“Portanto, ele não é uma nova ameaça, diferentemente do que vem sendo preconizado para sua presença em clima temperado e em abelhas melíferas europeias. Nosso grupo de pesquisa demonstrou ainda que em colônias bem manejadas esse fungo não causa colapsos”, explica Érica ao se referir aos trabalhos sequencialmente produzidos pelo LASA relacionados a este microorganismo. 

O “bem manejadas” significa que se as colônias tiverem boa alimentação ao longo de todo o ano, troca de quadros velhos por cera alveolada, por exemplo, além de todos os cuidados preconizados para as boas práticas apícolas, estarão aptas a lidarem de forma mais efetiva frente aos diversos estressores biológicos ou não presentes. Com isso, elas terão o sistema imunológico mais forte para conseguir vencer esse e outros fungos que elas têm contato.  

“Ocorre que em grandes áreas em que são exploradas uma única cultura, as abelhas vivem em determinadas épocas do ano em um grande deserto de recurso alimentar, não tendo alimentos disponíveis, sem falar em abrigos naturais destruídos. Por isso, é muito importante pensarmos em formas de proteger esses organismos que trazem, inclusive, melhores produtividades para essas culturas, com seu serviço ecossistêmico”, explica a pesquisadora do IB. 

Com a nova descoberta, Érica explica que os cientistas sabem que considerando a existência de diversos mecanismos sociais e individuais para reduzir infecção por fungo e sua dispersão na colônia, as abelhas podem responder de forma diferente, dependendo do contexto social. “Ficou demonstrado então que, dada à existência de mecanismos sociais e individuais para reduzir a infecção por fungos e sua dispersão na colônia, abelhas podem responder de forma diferente, dependendo das condições de criação”, afirma. 
 
 

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