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Como controlar o mofo cinzento (Botrytis cinerea)?

Leia sobre o controle de mofo cinzento (Botrytis cinerea).


Foto: Agrolink

O mofo cinzento é causado pelo fungo Botrytis cinerea, espécie polífaga que pode atacar mais de 200 gêneros de plantas em todas as regiões agrícolas no mundo. No Brasil, além do tomate, ataca as hortícolas (alface, pimentão, cebola, morango etc.), ornamentais (violeta, gerânio, roseira, kalanchoe, begônia, lírio, gerbera etc.), fruteiras (maçã, pêra, uva, ameixa etc.) e mudas de eucalipto. Pelo fato de ser polífago e atacar as plantas em condições de sementeira, viveiro, casa de vegetação, campo, armazenamento e transporte, trata-se de uma doença importante com difícil controle.

A doença é mais destrutiva em casa de vegetação, devido ao ambiente úmido, menor luminosidade e ambiente menos arejado, aspectos que  favorecem o fungo. Os sintomas geralmente são encontrados em folhas, flores, hastes e frutos. Nas folhas surgem manchas pequenas ou lesões marrons, e nas hastes ocorrem lesões necróticas. Nas hastes feridas, pode ocorrer apodrecimento de todo o ramo. Em pétalas, surgem pequenas manchas ou bolhas claras, que se tornam marrom ou avermelhadas com a evolução da doença.

Se as condições ambientais e do tecido da planta são favoráveis ao fungo, as manchas se multiplicam, coalescem, ocorre mumificação de algumas partes da planta, surgindo crescimento micelial e esporulação cinza abundante.

Nos frutos, geralmente os sintomas surgem no amadurecimento ou após a colheita, quando armazenados, surgindo lesões aquosas que rapidamente se espalham pelo fruto. Surge um mofo cinzento pulverulento e abundante.

O fungo é necrotrófico, o que significa que pode crescer e se multiplicar em tecidos mortos ou em restos culturais. Os esporos produzidos nos restos culturais são removidos e transportados pelo vento, gotas de água, insetos, pessoas e equipamentos utilizados na área de produção. O fungo se reproduz em temperaturas acima de 12ºC (ideal entre 15 e 20ºC), com umidade relativa acima de 90%, e a temperatura ótima para infecção da planta ocorre entre 15ºC e 25ºC. Áreas com ocorrência de neblina e orvalho favorecem o surgimento da doença.

O fungo pode paralisar o seu crescimento após penetrar na planta, voltando a se desenvolver quando as condições ambientais estiverem favoráveis, comportamento conhecido como infecções quiescentes (ou latentes). Pesquisadores observaram infecções de B. cinerea em hastes de tomateiro ficarem quiescentes por até 12 semanas. Já no solo ou em restos culturais, se observou estruturas do fungo em atividade por pelo menos 12 meses, o que favorece a incidência da doença. Quanto à disseminação, estruturas do fungo são facilmente disseminadas pelo vento, podendo ser levadas para novos campos de cultivo.

 

Mofo cinzento (Botrytis cinerea) no tomateiro 

A doença ocorre tanto em cultivos em campo quanto em cultivo protegido, em altas condições de umidade relativa do ar. Todos os órgãos aéreos da planta são afetados. As pétalas senescentes são bastante suscetíveis ao fungo, e é por elas que o fungo infecta os frutos de tomate, causando sintomas de podridão mole, podendo ocorrer ruptura da epiderme no centro da área lesionada. A lesão fica com coloração acinzentada, e nuvens de esporos podem ser observadas ao balançar os tecidos doentes após período de alta umidade.

Também surgem lesões necróticas nos folíolos, que podem se expandir e atingir e pecíolo, e, posteriormente, o caule. As lesões no caule podem se aprofundar, resultando em uma murcha da planta na parte acima da lesão.

 

Controle do mofo cinzento (Botrytis cinerea) no tomateiro 

Para o controle do mofo cinzento, deve-se integrar diferentes medidas de controle, como práticas de saneamento, mudanças no ambiente, controle químico, substâncias em pré e pós-colheita e controle biológico.

 

Controle sanitário

Visam eliminar ou reduzir inóculos do fungo na área, além de prevenir a disseminação da doença para plantas sadias. São feitas práticas como remoção, destruição ou enterrio de restos culturais, remoção de partes de plantas infectadas, podas de partes doentes etc. Também deve-se usar sementes e mudas sadias, realizar a semeadura em substratos leves, bem drenados, férteis e livres de patógenos. Os substratos podem ser desinfetados antes do plantio, usando vapor ou produtos recomendados.

 

Controle do ambiente

Umidade relativa do ar acima de 90% e presença de água livre são pré-requisitos para a infecção do fungo, e são condições comuns nas casas de vegetação. Uma forma de reduzir o filme de água nas plantas é aumentar a circulação de ar no ambiente, utilizando equipamentos de ventilação, abertura das cortinas laterais durante o dia, aumentar o espaçamento entre as plantas, realizar podas de limpeza, remover ramos excessivos, evitar irrigação por aspersão, irrigando por gotejamento etc. Caso a irrigação seja por aspersão, em campo, optar por irrigações mais pesadas e espaçadas em vez de irrigações leves e frequentes. Ressalta-se também a importância do controle da umidade no armazenamento e transporte dos produtos. Outro fator importante é controlar a entrada de material e pessoas em ambiente protegido, evitando a entrada do patógeno.

Na propagação de plantas, o enraizamento é favorecido por ambientes úmidos, porém isso favorece a disseminação da doença. Para isso, alguns cuidados podem ser tomados:

  • Agrupar as estacas por maturidade, evitando que estacas mais maduras permaneçam molhadas mais tempo que o necessário;
  • As estacas recém-plantadas precisam de longos períodos de alta umidade, o que favorece também o fungo. Assim, deve-se separar fisicamente estacas recém-plantadas de estacas mais velhas e das plantas estabelecidas, que podem servir como fontes de inóculo.

Outra alternativa é o uso de coberturas da casa de vegetação que absorvam radiação infravermelha de comprimento de onda longo, a qual reduz a umidade relativa dentro da casa de vegetação, pois reduz o resfriamento à noite. Já o uso de filmes plásticos que absorvem luz ultravioleta ou próximo de UV também reduzem o mofo cinzento em casa de vegetação.

 

Controle químico

Os fungicidas podem ser eficientes para o controle do mofo cinzento, mas não compensam as práticas de controle do ambiente, principalmente manejo de umidade, e controle sanitário. Como a doença pode atacar praticamente todas as partes da planta, o controle químico é dificultado, fora o fato de que existem relatos de resistência do fungo aos fungicidas.

Para evitar o surgimento de resistência por parte do fungo, recomenda-se alternar fungicidas com diferentes modos de ação, e misturar fungicidas sistêmicos com protetores.

 

Controle biológico

O controle biológico pode ser feito com produtos à base de Trichoderma spp. e Bacillus spp. É uma alternativa interessante para o controle do mofo cinzento. Diversos organismos antagonistas foram estudados para o controle do fungo, como os:

  • Fungos: Trichoderma harzianum, Clonostachys rosea, Cladosporium spp., Ulocladium atrum e outros;
  • Bactérias: Pseudomonas cepacia, Bacillus subtilis, Erwinia sp. e outras
  • Leveduras: Exophiaia jeanselmei, Cryptococcus albidus, Aureobasidium pullulans e outras.

 

Outras medidas

Além das práticas recomendadas anteriormente, recomenda-se também evitar ferimentos nas plantas durante os tratos culturais e armazenar os produtos logo após a colheita. Também ressaltamos a importância de fazer adubação e calagem adequadas, visto que o cálcio fortalece a parede celular da planta, reduzindo a suscetibilidade ao fungo. Evitar o excesso do nitrogênio, evitando o crescimento exagerado da folhagem e formação de microclima favorável à doença. Por fim, recomendamos evitar plantios em áreas sujeitas a nevoeiros e orvalhos, onde a umidade favorece a doença.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

HAUSBECK, M. K.; MOORMAN, G. W. Managing Botrytis in greenhouse-grown flower crops. Plant Disease, v. 80, p. 1212-1219, 1996.

HOLLIDAY, P. Fungus diseases of tropical crops. Cambridge: Cambridge University Press, 1980. 607p.

JARVIS, W. R. Managing diseases in grenhouse crops. Plant Disease, v. 73, p.190-194, 1989.

MOORMAN, G. WLEASE, R.J. Residual efficacy of fungicides used in the management of Botrytis cinerea on greenhouse-grown geraniums. Plant Disease, v.76, p.374-376, 1992.

MORANDI, M. A. B.; MAFFIA, L. A. Manejo integrado do mofo cinzento, causado por Botrytis cinerea. Jaguariúna: Embrapa Meio Ambiente, 2005. 35p. il. (Embrapa Meio Ambiente. Documentos, 44).

MORANDI, M.A.B.; MAFFIA, L.A.; MIZUBUTI, E.S.G.; ALFENAS, A.C.; BARBOSA, J.G. Suppression of Botrytis cinerea sporulation by Clonostachys rosea on rose debris: a valuable component in Botrytis blight management in commercial greenhouses. Biological Control, v.26, p.311-317, 2003.

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