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Controle (manejo integrado) da Helicoverpa armigera

Leia sobre o controle (manejo integrado) da Helicoverpa armigera.


Foto: Agrolink

A praga Helicoverpa armigera foi registrada de forma oficial pela primeira vez no Brasil em 2013. De lá pra cá, diversos surtos da praga ocorreram nas culturas como tomate, cereais, citros, algodão, feijão, milho e soja, sendo conhecida também como lagarta-do-algodão ou lagarta-do-tomate.

Essa praga possui algumas características que dificultam o seu controle, como o fato de ser polífaga, se alimentando de muitas espécies de plantas, possuir grande mobilidade (podendo se dispersar a longas distâncias) e ter diapausa opcional, facilitando a sua sobrevivência em condições desfavoráveis. Os adultos podem migrar para mais de 2.000 km de distância. Possuem rápida taxa reprodutiva e alta fecundidade. Além disso, a praga desenvolveu resistência à inseticidas, dificultando mais ainda o seu controle.

A lagarta helicoverpa pode completar seu ciclo de vida com temperaturas entre 17,5 e 32,5 °C. Temperaturas de aproximadamente 25°C são as ideais para a lagarta, ao passo que temperaturas acima de 35°C causam a morte das larvas, e temperaturas abaixo de 15°C fazem com que as pupas entrem em diapausa.

 

Características e danos causados pela Helicoverpa armigera

Os ovos da Helicoverpa armigera são branco-amarelados, com aspecto brilhante logo após a deposição, e se tornam marrons próximo à eclosão. As lagartas inicialmente são pouco móveis na planta, e possuem coloração que varia de branco-amarelada a marrom-avermelhada, e se alimentam das partes mais tenras das plantas, produzindo uma espécie de teia ou pequeno casulo. 

A partir do quarto ínstar, apresentam tubérculos abdominais escuros bem visíveis na parte dorsal do primeiro segmento abdominal, em forma de semicírculo. As lagartas, quando tocadas, ficam em forma encurvada, provavelmente para se defender.

Conforme se desenvolvem mais, a coloração das lagartas muda, variando de amarelo a verde, com listras amarronzadas nas laterais, e vão causando danos mais severos nas culturas, se alimentando de folhas e hastes. Também podem causar danos em botões florais, frutos, maçãs, espigas e inflorescências. As larvas podem ser encontradas perto de furos em frutos e flores.

Quando o inseto atinge a fase de pupa, o desenvolvimento pupal ocorre no solo, podendo entrar em diapausa dependendo das condições climáticas, característica que favorece a praga.

Já na forma adulta, a mariposa fêmea possui coloração amarelada, e o macho, coloração acinzentada. As asas posteriores são mais claras e possuem uma borda marrom na extremidade apical.

As mariposas colocam os ovos à noite nas folhas das culturas, geralmente isolados ou em pequenos agrupamentos, preferencialmente na face superior das folhas ou sobre os talos, flores, frutos e brotações terminais com superfícies pubescentes. Cada fêmea durante o período de oviposição pode colocar de 2.200 até 3.000 ovos sobre as plantas, caracterizando seu alto potencial reprodutivo.

Em algodão, os ovos são colocados em folhas recém-formadas, e as lagartas atacam botões e cápsulas. A lagarta helicoverpa é resistente à diversos inseticidas e ao algodão Bt. Já no milho, principal hospedeiro dessa praga, os ovos são colocados nas plantas perto ou durante a floração, e a praga invade as espigas e consome os grãos em formação.

 

Controle (manejo integrado) da Helicoverpa armigera

O controle da Helicoverpa armigera deve ser feito com diferentes estratégias, buscando atingir um controle eficiente da praga sem promover o surgimento de resistências. Deve-se identificar a praga corretamente, realizar o monitoramento, conhecer a dinâmica populacional da praga, entender os fatores ambientais e atacar a praga no seu ponto de fraqueza.

 

Monitoramento da Helicoverpa armigera

O monitoramento adequado é fundamental para o sucesso no controle da H. armigera. Os adultos dessa praga podem ser monitorados com o uso de armadilhas luminosas, coletando machos e fêmeas, ou de armadilhas iscadas com feromônio sexual, capturando apenas os machos.

A intensidade de captura dos adultos pode auxiliar a prever a intensidade de ocorrência de ovos e lagartas na área. Os valores da captura dos adultos deve ser correlacionado com os valores de amostragens de ovos e lagartas nas plantas, em tempo real ou nos dias subsequentes.

O uso de feromônio sexual também pode ser usado como estratégia de controle, pois o produto confunde os machos na busca por fêmeas para o acasalamento.

 

Uso de plantas resistentes

Pode-se usar plantas com tecnologia Bt, variedades que são geneticamente modificadas com o gene da bactéria que é tóxica para alguns insetos. Porém, as pragas podem se adaptar a essa tecnologia. Para reduzir o desenvolvimento de insetos resistentes às plantas Bt, e assim prolongar a efetividade dessa tecnologia, é fundamental usar áreas de refúgio junto a áreas de produção.

Parte da área cultivada deve ser semeada com plantas não Bt, evitando a seleção de pragas resistentes. Nessas áreas de refúgio, o controle de H. armigera deve ser feito sempre que o inseto atingir o nível de controle. Pode-se usar nessas áreas espécies diferentes da cultura principal, mas que também sejam hospedeiras da praga.

 

Controle químico de Helicoverpa armigera

O uso de inseticidas para essa praga é bastante utilizado nas produções agrícolas. Pode-se adotar como estratégia complementar o uso de inseticidas em tratamento de sementes, garantindo o controle de pragas iniciais e reduzindo o número de pulverizações foliares de inseticidas. 

Recomenda-se também sempre usar inseticidas seletivos aos inimigos naturais até um determinado estádio da cultura, evitando sempre o uso de inseticidas piretroides e fosforados nesse período (pois possuem alta toxicidade para inimigos naturais). Também é fundamental rotacionar inseticidas com diferentes ingredientes ativos, reduzindo o desenvolvimento de resistência das pragas aos produtos.

Sugere-se aplicar os inseticidas quando as lagartas ainda são pequenas, pois estão mais expostas e mais suscetíveis aos produtos. Já os adultos podem ser controlados com o uso de iscas tóxicas à base de melaço ou açúcar + inseticida carbamato, podendo-se aplicar essas misturas nas bordas das lavouras.

 

Controle cultural de Helicoverpa armigera

O controle cultural é feito manipulando-se o ambiente da cultura ou do solo, deixando-o desfavorável para a praga e favorável para os seus inimigos naturais. Um exemplo é planejar a entressafra sem a presença de plantas hospedeiras da praga, devendo esse “vazio sanitário” ser feito durante os meses com menor incidência de cultivos agrícolas na região.

Outra estratégia, conhecida como “Push and Pull”, consiste em manipular a praga com técnicas (estímulos visuais, compostos voláteis etc.) que repelem (Push) ou atraem (Pull) a mesma em uma cultura principal (que se deseja proteger) e outra cultura armadilha (onde a praga será atraída e controlada). Como exemplo, imagine o algodão como cultura principal e o guandu como cultura armadilha, cultivada nas áreas adjacentes ao algodão. Pode-se aplicar óleo de neem no algodoeiro e feromônio de agregação de H. armigera nas plantas de guandu. Os adultos da praga evitarão ovipositar no algodoeiro (efeito push, repelente) e intensifica a oviposição nas plantas de guandu (efeito pull, atrativo). Além disso, as lagartas já presentes no algodoeiro terão dificuldade de se alimentar nessa cultura pela ação do óleo de neem, e se alimentarão normalmente no guandu. Posteriormente, controla-se as lagartas na cultura armadilha (guandu) antes destas atingirem o estágio de pupa, podendo-se usar um inseticida químico ou biológico.

Outra estratégia de controle cultural é a possibilidade dos produtores em uma determinada região organizarem um calendário de plantio para as culturas que são hospedeiras de H. armigera. Quanto mais estreita a janela de plantio, mais eficiente a estratégia de manejo da praga.

Também é importante eliminar as plantas tigueras e rebrotas, principalmente de soja e algodão na pós-colheita, evitando que estas sirvam como hospedeiros para a praga, dando continuidade ao seu ciclo de vida. 

O revolvimento do solo pode ser feito para destruir pupas da praga, deixando estas expostas ao calor e inimigos naturais, podendo ser feita principalmente em sistemas irrigados, sendo o mês de agosto o mais recomendado para essa prática.

 

Controle biológico de Helicoverpa armigera

O controle biológico é feito inserindo inimigos naturais da praga em uma área. Existem espécies de insetos, vírus, bactérias, fungos e nematóides que podem agir como predadores ou parasitóides da lagarta helicoverpa.

Como exemplo, a vespa Trichogramma spp. apresenta bons resultados para o controle da praga. Outro exemplo são os inseticidas com patógenos virais, como o vírus Nucleopolyhedrovirus, que ao ser ingerido pela lagarta, reduz a sua alimentação e locomoção, causando a morte em até uma semana, geralmente. As lagartas também dispersam o vírus no ambiente, e as formas jovens são mais sensíveis ao vírus. 

Existem também produtos biológicos à base da bactéria Bacillus thuringiensis, que podem quebrar o ciclo de vida da lagarta. Se a tecnologia à base de Bacillus thuringiensis já estiver presente na cultivar, não se recomenda o uso conjunto de inseticidas com essa tecnologia, visando evitar o surgimento de pragas resistentes a essa ferramenta.

 

Controle químico de Helicoverpa armigera

O uso de inseticidas é a principal forma de controle dessa praga. Porém, os inseticidas devem ser seletivos aos inimigos naturais, os ingredientes ativos devem ser alternados (evitando o surgimento de pragas resistentes), e a aplicação deve ser feita quando a praga atingir o nível de controle na amostragem.


 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

ÁVILA, C. J.; VIVAN, L. M.; TOMQUELSKI, G. V. Ocorrência, aspectos biológicos, danos e estratégias de manejo de Helicoverpa armigera (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae) nos sistemas de produção agrícolas. Embrapa - Circular Técnica 23, Dourados, MS, 2013.

FATHIPOUR, Y.; SEDARATIAN, A. Integrated management of Helicoverpa armigera in soybean cropping systems. In: ELSHEMY, H. A. (Ed.). Soybean - pest resistance. Cairo: InTeOpP, 2013. p. 231-280.

KARIM, S. Management of Helicoverpa armigera: a review and prospectus for Pakistan. Pakistan Journal of Biological Sciences, Murree, v. 3, n. 8, p. 1213-1222, 2000.

MATTHEWS, M. Heliothinae moths of Australia: a guide to pest bollworms and related noctuid groups. Melbourne: CSIRO, 1999. 320 p. 

MENSAH, R. K. Supresssion of Helicoverpa spp. (Lepidoptera: Noctuidae) oviposition by use of the natural enemy food supplement Envirofeast. Australian Journal of Entomology, Canberra, v. 35, n. 4, p. 323-329, Nov. 1996.

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