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Controle (manejo integrado) do bicho mineiro - Leucoptera coffeella

Leia sobre o controle (manejo integrado) do bicho mineiro (Leucoptera coffeella).


Foto: Agrolink

O bicho mineiro é considerado a praga mais importante do café devido aos grandes danos causados pela lagarta dessa praga, que podem chegar a 87% de perdas da produtividade, além de causar desfolha que compromete a safra seguinte. Além disso, o monitoramento dessa praga é bastante precário.

O ataque da praga varia conforme as condições climáticas, em estações secas o ataque da praga é mais intenso do que nos períodos úmidos. Já a temperatura favorece o aumento populacional da praga.

Os ovos possuem cerca de 0,3mm, são ovais e translúcidos. As larvas eclodem dos ovos colocados nas folhas e entram no mesófilo foliar. As larvas possuem coloração esbranquiçada translúcida, se tornando amarelo-esverdeadas conforme se desenvolvem, atingindo um tamanho de aproximadamente 5 mm, com formato achatado e segmentados.

Após passar pelos 4 ínstares, as larvas saem das minas e formam um casulo de seda em forma de X, geralmente na região axial das folhas, formando as pupas. As pupas, que geralmente ficam na saia das plantas de café, possuem cerca de 2 mm de comprimento, coloração leitosa, olhos negros e asas enrugadas.

Já os adultos possuem cerca de 2mm de comprimento, 6,5mm de envergadura, e possuem "escamas de cabelo branco" na cabeça, antenas longas e asas brancas com uma mancha escura na ponta. Durante o dia, a mariposa se abriga na face inferior das folhas da parte inferior do cafeeiro, e ao anoitecer, sai desse local para fazer a oviposição.


Fases do bicho-mineiro: A) larva; B) pupa e C) adulto. Imagem: José Nilton M. Costa / Embrapa.

 

Até a década de 70, os surtos do bicho mineiro eram esporádicos, porém, o aumento do espaçamento entre plantas (para permitir a mecanização) e a diminuição dos inimigos naturais, o que muitas vezes é causado pelo uso de inseticidas, fez com que a praga se tornasse dominante.

 

Danos causados pelo bicho mineiro - Leucoptera coffeella

Os danos causados pelo bicho mineiro ocorrem na fase de lagarta, quando a praga penetra na folha e se alimenta do seu interior, formando as minas, consequentemente causando lesões nas folhas e posterior necrose dos tecidos. Esse dano resulta em uma redução da área foliar e queda das folhas, reduzindo a fotossíntese consequentemente a produtividade da cultura, podendo ocorrer de forma drástica dependendo do ataque.

Em ataques intensos ocorre a desfolha da planta, que vai de cima para baixo. Nesses casos, geralmente o topo das plantas de café ficam totalmente desfolhados, podendo demorar dois anos para se recuperarem, ou causando até a morte da planta. Se a desfolha ocorre em anos de grande produção, a recuperação da planta será ainda mais demorada. Plantas desfolhadas necessitam de mais energia para repor as folhas, e os prejuízos geralmente surgem na safra seguinte.

Estudos apontam também uma relação entre o tipo de adubação e a intensidade dos danos. A quantidade de aminoácidos livres e a redução de açúcares no metabolismo das plantas de café se relaciona com a suscetibilidade ao ataque de pragas. Cafeeiros adubados com adubos orgânicos apresentam redução de até 50% de minas nas folhas.

 

Controle / manejo integrado do bicho mineiro - Leucoptera coffeella

Monitoramento

O monitoramento é bastante útil para informar ao produtor o nível de infestação da praga no campo, auxiliando na decisão do controle. O controle eficiente do bicho mineiro já no primeiro ciclo evita que outros ciclos ocorram durante o ano.

Para o bicho mineiro, usa-se o feromônio 5,9-dimetilpentadecano, instalando-se uma armadilha a cada 4 hectares. Também pode-se fazer o monitoramento através da amostragem de folhas, dividindo a lavoura em talhões homogêneos, e escolhendo plantas ao acaso no talhão, coletando o 3º ou 4º par de folhas, caminhando em zigue-zague. Separar as folhas coletadas, separando as folhas minadas / com larvas vivas, e verificando posteriormente a porcentagem de folhas atacadas.

 

Controle químico

O uso de inseticidas é comum para essa praga, porém, além de não ser totalmente eficiente, essa tática afeta a sobrevivência dos inimigos naturais do bicho mineiro que são muito importantes para o controle da praga. Além disso, são feitas várias aplicações, aumentando o custo de produção e favorecendo o surgimento de populações da praga resistentes ao inseticida.

O controle químico geralmente é feito com thiametoxan, clorantraniliprole, cartap etc., e é bastante necessário principalmente em áreas de altas temperaturas e períodos longos de seca (como no Cerrado), o que resulta em alta incidência da praga. Porém, deve-se utilizar diferentes ingredientes ativos para reduzir a seleção de populações resistentes da praga.

 

Controle cultural

Como o bicho mineiro é favorecido pelo ambiente seco e pelos ventos, o cafeeiro cultivado de forma mais adensada reduz o desenvolvimento do bicho mineiro, visto que os ventos muitas vezes trazem os insetos adultos até a lavoura. Assim, pode-se usar quebra vento ou cerca viva com plantas como bananeira, grevilha, leucena ou sansão-do-campo.

O mato nas entrelinhas pode ser mantido até a altura do joelho, servindo como hospedeiro para os inimigos naturais da praga, além de proteger o solo contra a erosão. Além disso, a adubação orgânica reduz a incidência de ataque do bicho mineiro, reduzindo até 50% das minas nas folhas.

 

Resistência / tolerância

Quanto à resistência / tolerância, existem poucas cultivares resistentes ao bicho mineiro propagadas por sementes, podemos citar a Siriema AS1 e Siriema VC4. Existem também algumas cultivares tolerantes que podem reter as folhas atacadas por mais tempo, ou que as suas folhas são menos destruídas.

 

Controle biológico

O controle biológico ocorre pela presença de inimigos naturais, como parasitoides e predadores (vespas e formigas) no café, porém, o uso contínuo de inseticidas reduz a população desses organismos benéficos. A diversificação do ambiente de produção e uso racional de agrotóxicos promovem o aumento da população de inimigos naturais das pragas. Existem também alguns produtos registrados, à base de bactérias Pseudomonas, por exemplo, que podem ser utilizados contra o bicho mineiro. Estudos apontam também que o fungos patogênicos, como o Beauveria bassiana e o Metarhizium anisopliae podem infectar ovos e larvas do bicho mineiro.

 

Semioquímicos

Os semioquímicos são substâncias que transmitem mensagens entre insetos, podendo atraí-los como no caso dos semioquímicos utilizados na interação sexual. Essas substâncias também podem ser utilizadas para manipular ou interromper o comportamento natural do bicho mineiro, reduzindo a população dessa praga. Para isso, são feitas capturas em massa utilizando os semioquímicos.

 

Biopesticidas

Os biopesticidas feitos com fontes vegetais possuem algumas vantagens quando comparados aos pesticidas químicos convencionais, como menor toxicidade, maior especificidade para o organismo alvo (não atingindo os insetos benéficos, como os inimigos naturais), redução dos custos de produção, baixo risco ambiental etc. 

Dentre os biopesticidas, podemos citar a Azadirachta indica (neem), que possui eficácia no controle do bicho-mineiro.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

ALMEIDA, J. D. de et al. Bicho-mineiro (Leucoptera coffeella): uma revisão sobre o inseto e perspectivas para o manejo da praga. Embrapa Documentos - 372, Brasília, DF, 2020.

COSTA, J. N. M.; TEIXEIRA, C. A. D.; VIEIRA JUNIOR, J. R.; ROCHA, R. B.; FERNANDES, C. de F. Informações para facilitar a identificação das diferentes fases do bicho-mineiro (Leucoptera coffeella) em campo. Porto Velho: Embrapa Rondônia, 2012. 4 p.

IBARRA, R. T. L. B. Monitoring of Leucoptera coffeella with sexual pheromone traps. 2006. 101 f. Tese (Doutorado em Ciência Entomológica) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa.

LIMA, E. R. de. Feromônio sexual do bicho-mineiro do café, Leucoptera coffeella: avaliação para uso em programas de manejo integrado. 2001. 71 f. Tese (Doutorado em Entomologia) - Universidade Federal de Viçosa, MG.

SABINO, P. H. S.; DOS REIS JÚNIOR, F. A.; CARVALHO, G. A.; MANTOVANI, J. R. Nitrogen fertilizers and occurrence of Leucoptera coffeella (Guérin- -Mèneville Et Perrottet) in transplanted coffee seedlings. Coffee Science, v. 13, n. 3, p. 410-414, 2018.

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