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Biomas

Conceitos



Foto: Canva

Os Sistemas Agrossilvipastoris (ILPF), nas suas diferentes modalidades, estão sendo adotados em graus diversos de intensidade nos biomas brasileiros. De modo geral, a utilização de sistemas de integração ainda é incipiente na maioria das regiões brasileiras, embora no Centro-Oeste e Sul exista um número significativo de propriedades rurais que empregam as tecnologias associadas a ILPF. Contudo, a taxa de aceitação e adoção pelos proprietários rurais, principalmente nos últimos cinco anos, tem evidenciado que essa estratégia proporcionará avanços na agricultura nacional.

 

Amazônia

O potencial de adoção da ILPF está condicionado a diversos fatores de ordem econômica e ambiental, característicos do Bioma Amazônia. Em particular, existem alguns requisitos que devem ser considerados pelos produtores como condicionantes à sua adoção.

Alguns desses requisitos são:
a. Solos favoráveis para a produção de grãos, com boa drenagem e aptos a mecanização;
b. Infraestrutura para produção e armazenamento da produção (equipamentos, máquinas e instalações); 
c. Recursos financeiros próprios ou acesso a crédito para os investimentos na produção; 
d. Domínio da tecnologia para produção de grãos e pecuária; 
e. Acesso a mercado para compra de insumos e comercialização da produção, com preços que justifiquem economicamente a adoção dessa prática; 
f. Acesso a assistência técnica; 
g. Possibilidade de arrendamento da terra ou de parceria com produtores tradicionais de grãos.

 

Cerrado

O Bioma Cerrado compreende uma área total de 207 milhões de hectares, (24% da área do território brasileiro), vem adquirindo importância cada vez maior em função de sua posição estratégica, entre o Sul-Sudeste e a Região Amazônica. Este Bioma ocorre no Distrito Federal e nos Estados de Goiás, do Tocantins, de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, do Maranhão, Piauí, da Bahia, de Minas Gerais, São Paulo, áreas do norte do Amapá, Amazonas, Pará, de Roraima e em alguns pontos do norte do Paraná.

Atualmente as tecnologias de ILPF incorporadas neste Bioma corresponde a 50% de atividades associadas ao Sistema Agropastoril (ILP), 20% de atividades associadas ao Sistema Silvipastoril (IPF), 20% de atividades associadas ao Sistema agrossilvipastoril (ILPF), sempre envolvendo áreas de pastagens degradadas (cerca de 50 milhões de hectares), e 10% de atividades associadas ao Sistema Silviagrícola (ILF). 

 

Pampa

O Bioma Pampa constitui a porção brasileira dos Pampas Sul-Americanos, que se estendem pelo Uruguai e pela Argentina, ocupando a metade meridional do Rio Grande do Sul, correspondendo a 63% do território gaúcho. Neste Bioma existem várias de atividades associadas ao Sistema agrossilvipastoril (ILPF). Na metade sul do RS as atividades associadas ao Sistema Agropastoril (ILP), com o plantio de arroz irrigado e bovinocultura de corte ou leite. Já na metade norte, outra versão da ILP é utilizado com o plantio de soja-milho (verão) / trigo-pastagem (inverno) e bovinocultura de corte e leite. 

Na zona de planalto o sistema de integração predominante é o que agrega as atividades associadas ao Sistema Silviagrícola (ILF), com plantio de erva-mate, soja-milho, pastagem anual de inverno (aveia preta, azevém, ervilhaca, milheto, etc.). O plantio de citros/pêssego, grãos ou forrageiras é uma forma de ILF ou IPF encontrada na metade sul do RS.

Já as atividades associadas ao Sistema agrossilvipastoril (ILPF) preveem, nos primeiros dois a três anos, lavouras cultivadas nas entrelinhas de espécies florestais e, do terceiro/quarto anos até o sexto/oitavo anos, consórcio/ sucessão de lavouras com pastagens (pecuária) e floresta. Esse sistema ocorre nas diversas regiões do Bioma Pampa. As pastagens naturais constituem a mais importante fonte de alimento para aproximadamente 17 milhões de ruminantes. 

Atualmente a cobertura vegetal do Pampa apresenta uma cobertura com remanescentes da vegetação natural (campos, floresta e mosaico campo/floresta) de apenas 41% de sua superfície. A expansão dos cultivos agrícolas anuais nos campos, como a soja, o reflorestamento e o plantio de pastagens, associada ao excesso de lotação dos campos, comuns em exploração envolvendo as pastagens naturais, é apontada como as principais causas para a degradação dos recursos naturais do Bioma Pampa. Outro fato a ser destacado é a invasão dos campos pelo capim anonni (Eragrostis plana), que é uma poácea (gramínea) de origem sul-africana de baixa palatabilidade e alta capacidade de propagação, sendo considerado um dos fatores fundamentais para a degradação das pastagens naturais deste Bioma.

 

Caatinga

Os fatores negativos ligados ao clima, como secas repetidas e longas, dificultam o desenvolvimento e a sustentabilidade das atividades agrossilvipastoris. Estes fatores levam a deterioração do solo, da água, à diminuição da biodiversidade, desencadeando processos de degradação dos recursos naturais. As atividades de produção com agricultura e pecuária neste Bioma têm provocado sua degradação, com área alterada de aproximadamente 45% da vegetação nativa.

Nesse contexto, a estratégia do Sistema agrossilvipastoril (ILPF) apresenta-se como uma alternativa de melhor convivência com o Semiárido. A adoção do Sistema Agropastoril (ILP) apresenta melhores condições de adoção na região do Agreste, onde a integração lavoura-pecuária pode ser implementada com o uso da palma forrageira, do milho, de poáceas (gramíneas) e fabáceas (leguminosas) forrageiras adaptadas ao Semiárido, que contribuam com a sustentabilidade dos sistemas de produção de leite.

Atualmente a atividades associadas ao Sistema agrossilvipastoril (ILPF) apresentam maior aplicabilidade nas regiões semiáridas, como resposta às pressões por produção de alimentos, tanto para a população humana, como para os rebanhos.

As atividades associadas ao Sistema Silvipastoril (IPF) vêm sendo adotado em duas modalidades nas regiões do Bioma Caatinga:
1. Introdução de animais em lavouras de espécies arbóreas comerciais permanentes, favorecendo a manutenção dessas áreas por meio do controle da vegetação herbácea e da adição de esterco. Essa prática vem sendo adotada por produtores de áreas irrigadas (exemplos: culturas de manga, goiaba, acerola e pinha) e dependentes de chuva na região semiárida (caju, olicuri e algaroba); 
2. Introdução ou manutenção do componente arbóreo (nativo ou exótico) em pastagens cultivadas adaptadas ao Semi-Árido.

As atividades associadas ao Sistema Silviagrícola (ILF) são representados pela integração de espécies arbóreas (nativas ou exóticas) com culturas adaptadas a região, como a mandioca, sorgo e feijão caupi, prática que vem sendo realizada com o intuito de amortizar os investimentos feitos para a implantação do componente arbóreo, como alternativa para substituição do uso da madeira extraída do bioma como fonte energética.

 

Mata Atlântica

O Bioma Mata Atlântica originalmente ocupava cerca de 15% do território nacional, estende-se ao longo da costa brasileira desde o Rio Grande do Sul até o Rio Grande do Norte. Atualmente, restam menos de 8% da área original. Esse Bioma foi intensamente explorado desde a época do descobrimento do Brasil e sofreu intenso processo de urbanização, sendo que, hoje, vive nele mais de 60% da população brasileira. Apesar do intenso processo de ocupação, ainda abriga nos remanescentes originais, com relevo fortemente ondulado, alta diversidade de espécies da fauna e da flora que estão muito ameaçadas. Possui aspectos que incluem características dos Biomas Pampa, Cerrado e Caatinga, com os quais faz limite. 

Na região Sul, este Bioma apresenta como característica o plantio de lavouras de trigo, arroz, milho, soja, café, cultivos de eucalipto e pinus, além da pecuária de corte e de leite. Nesta região, encontram-se extensas áreas cultivadas em rotação, caracterizando-se como um dos mais antigos Sistemas Agrossilvipastoris (ILPF), com uso de culturas de verão em sucessão com forrageiras e culturas de cobertura de inverno, visando formação de palhada dentro do Sistema de Plantio Direto (SPD). O SPD está consolidado como forma predominante de manejo do solo no cultivo de grãos, e a pecuária de corte e leite em pastagens de inverno são opções disponíveis. Outros arranjos produtivos também podem ser encontrados na região incluem arborização de pastagens, associação entre erva-mate, culturas agrícolas e outras arbóreas, fruteiras com ovinos/bovinos e acácia-negra com lavouras e pastagens.

Na região Sudeste, destacam-se a produção da cana-de-açúcar, soja, algodão, milho, arroz, mamona, amendoim, citros, eucalipto e pinus, além da pecuária de corte e leite. Nesta região predominam as culturas anuais em SPD, podendo estar em consórcio ou não com espécies do gênero Braquiaria e Panicum, dentro da ILPF. A ILPF também vem sendo utilizada na renovação ou recuperação de pastagens degradadas utilizadas tanto na pecuária de corte como leiteira, com a utilização de espécies arbóreas associadas. Nas áreas de solos de baixa fertilidade e relevo acidentado foram desenvolvidos atividades nos Sistemas Silvipastoris (IPF).

Na região Nordeste, este Bioma corresponde a Zona da Mata, sendo a faixa territorial onde a cana-de-açúcar é a cultura mais expressiva, seguida da pecuária de corte com pastagens introduzidas, fruticultura e reflorestamento com eucalipto, para uso como madeira para indústria moveleira e bioenergia. Como estratégia para recuperação de pastagens degradadas tem-se utilizado as atividades do Sistema Agrossilpastoril (ILPF), associando fabáceas (leguminosas) arbustivas e arbóreas, com espécies do gênero Braquiaria e cultivo de culturas anuais no primeiro ano. 

Atualmente, o Bioma Mata Atlântica apresenta baixa sustentabilidade ambiental, que se traduz pela abundância de terras desmatadas, com elevada declividade e com solos pobres. Assim, a ILPF ganha especial destaque, como alternativa de uso e conservação do solo, na medida em que proporcionam maior sustentabilidade da produção agropecuária, aliada a melhoria de atributos físicos, químicos do solo e conservação da água e do solo.

 

Pantanal

O Bioma Pantanal é a maior planície sedimentar inundável do planeta. Possui grande biodiversidade de recursos genéticos, animais e vegetais, ecossistemas e unidades de paisagem. Este Bioma está situado na interface de três grandes biomas sul-americanos, incluindo características da floresta amazônica, do Cerrado brasileiro e da vegetação chaquenha do Paraguai e da Bolívia. No Pantanal, podem ser identificadas pelo menos dez sub-regiões, definidas em razão do tipo de solo, altura e tempo de permanência da inundação. As chuvas anuais na bacia variam de 1.100 a 1.500 mm, 80% das quais caem de novembro a março. Quando as chuvas iniciam em novembro, essa vasta planície é inundada lentamente de norte para o sul e de leste para oeste, que, em grandes enchentes, parece transformar toda a área num imenso mar de água doce, com manchas dispersas não inundadas, as cordilheiras. 

A densidade populacional humana no Pantanal é baixa, e está concentrada nas fazendas onde se desenvolvem atividades de cria de gado de corte em pasto nativo. Essa pecuária caracteriza-se por baixos índices zootécnicos. Estima-se que a área desmatada para implantação de pastagens introduzidas seja de ordem de 5% na planície pantaneira. Atualmente, o Bioma Pantanal vem sofrendo grande impacto decorrente das atividades agropecuárias praticadas no bioma Cerrado. 

 

José Luis da Silva Nunes
Engenheiro Agrônomo, Doutor em Fitotecnia

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