Danielle Azevedo/Pesquisadora da Embrapa Meio-Norte
Parnaíba, 14 de maio de 2008. Um aspecto importante a ser considerado na criação de ovinos e caprinos é o fato de um reprodutor acasalar-se em média com 25 a 30 fêmeas durante a estação de monta, sendo o mesmo responsável, por mais de 70% do melhoramento genético do rebanho, devido à pressão de seleção que sofre no processo de produção.
Neste contexto, os reprodutores são de fundamental importância na produtividade final do sistema. Em monta natural, estes animais devem, não apenas produzir sêmen de boa qualidade em quantidade adequada, mas também ter capacidade de reconhecer fêmeas em cio, manifestar desejo sexual e possuir habilidade de cobertura. Assim, para determinação da capacidade reprodutiva de um macho é imprescindível que, além do espermograma, seja realizada a avaliação de seu comportamento sexual, que pode interferir diretamente na fertilidade do rebanho.
O estudo do comportamento sexual em machos baseia-se em dois parâmetros: libido e capacidade de serviço. Libido pode ser definida como a disposição do macho em montar e copular a fêmea e capacidade de serviço como a habilidade de montar a fêmea e realizar a cópula. Estes parâmetros podem ser influenciados pela raça, idade, sanidade e níveis hormonais do animal, bem como pelo seu “status” social (dominância/submissão). As estações do ano, principalmente no que se refere à temperatura ambiente e ao regime de chuvas, nos trópicos, e, em regiões temperadas, ao fotoperíodo, também influenciam o comportamento sexual dos machos.
Em pequenos ruminantes, o comportamento sexual é ainda pouco estudado. Uma das razões para a falta de interesse acerca do comportamento sexual de machos caprinos e ovinos é a reduzida percepção dos pesquisadores no que tange à importância prática de estudos mais consistentes sobre esta característica. Entretanto, como exemplo de tal importância, pode-se citar o incremento nos índices reprodutivos ao utilizar-se uma proporção macho:fêmea mais adequada, e também, a redução dos custos de manutenção de um grande número de reprodutores na propriedade.
O comportamento sexual do macho adulto depende em primeiro lugar, de secreções hormonais e, em segundo, de eventos sociais. O desenrolar do ato sexual envolve a interação entre estes dois fatores principais, sendo o segundo o gatilho (fator desencadeador) para o primeiro. Fatores externos como nutrição ou clima, podem interagir com os fatores endócrinos e sociais.
Em países de clima temperado os pequenos ruminantes sofrem grande influência do fotoperiodismo. Entretanto nas regiões tropicais e subtropicais esse efeito é muito pequeno. Nestas regiões o período das chuvas e o conseqüente estado das pastagens podem afetar o ritmo das reações hormonais e assim modular os períodos reprodutivos de forma mais importante.
No Brasil, país de clima tropical, a libido de caprinos e ovinos em geral varia pouco. Entretanto, variações de temperatura, pluviosidade, umidade relativa do ar e insolação refletem-se diretamente nos animais, além de alterarem o ambiente, através da ingestão de alimentos. Caprinos de tipos raciais nativos da região Nordeste, não apresentam alterações no comportamento de cópula no decorrer do ano, apresentando inclusive sêmen de razoável qualidade durante os meses de seca. Os machos com escroto bipartido, todavia, apresentam sêmen de qualidade superior em relação àqueles que não possuem esta característica, o que pode ser decorrente de um incremento na dissipação de calor devido à maior superfície.
Caprinos jovens não fazem diferenciação sexual, montando indiscriminadamente fêmeas e machos, sem ereção do pênis, cheirando a vulva das fêmeas e o prepúcio dos machos. Com o avançar da idade e a evolução da sexualidade, os cabritos aprendem a distinguir fêmeas e machos e passam a praticar a masturbação; à puberdade (avaliada pelo desbridamento), já são capazes de realizar o cortejo característico do macho adulto, a ereção e a cópula. Neste contexto pode-se inferir a importância da experiência prévia para o desenvolvimento reprodutivo masculino característico da espécie. Assim, estas últimas informações sugerem que, mesmo antes de entrarem em serviço, os machos destinados à reprodução devem ser mantidos em contato com fêmeas e outros machos de sua espécie, de forma a garantir a expressão total do comportamento masculino característico da mesma.
Em pequenos ruminantes, a libido pode ser avaliada através de um teste simples. O macho é colocado em presença de uma fêmea em estro e o tempo decorrente desde sua apresentação à fêmea até a ejaculação subseqüente é quantificado em segundos. Esta quantificação foi traduzida em uma nota de 0 a 5.
Ao realizar-se testes de libido e capacidade sexual é imprescindível o conhecimento acurado dos eventos comportamentais que se sucedem e culminam com a cópula na espécie em questão. Em pequenos ruminantes a corte da fêmea pelo macho limita-se ao período de estro. O comportamento normal de corte do macho segue um padrão bem definido onde o macho aproxima-se da fêmea e, através dos componentes pré-coitais da libido, “testa” a receptividade da mesma ao ato sexual. A imobilização reflexa da fêmea em estro é reconhecida pelo macho experiente e funciona como um sinal para a continuação da seqüência de cópula. Estando a fêmea em estro (sinal de imobilidade) o macho desenvolve então um padrão de comportamento caracterizado por atos estereotipados, cuja seqüência varia com a raça e também com o indivíduo.
Os principais pontos característicos da seqüência sexual em machos ovinos e caprinos são, cheirar a região urogenital da fêmea, reflexo de Flehmen (lábio superior erguido em direção às narinas), cortejar com a pata (cutucões), expor a língua várias vezes, emitir sons em tons graves, expor o pênis, urinar sobre si mesmo, realizar montas falsas, realizar a monta propriamente dita, introdução do pênis e rápida ejaculação seguida de arranque e recuperação pós-cópula (período refratário).
Poucos são os trabalhos realizados que contemplam o comportamento sexual de pequenos ruminantes, podendo-se considerar esta uma lacuna no estudo das características reprodutivas destas espécies, merecendo assim um maior número de pesquisas em decorrência da grande importância deste parâmetro para a eficiência reprodutiva dos rebanhos.