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Não basta produzir; precisa também saber onde e como guardar


Amélio Dall’Agnol

A armazenagem é uma das etapas mais importantes na produção de
grãos e o Brasil é deficiente nesse tipo de estrutura. É recorrente a demanda
por mais espaços em silos e armazéns para guardar a enorme produção
brasileira de grãos; a cada safra mais robusta. Se bem que novas unidades de
armazenamento estão sendo construídas, elas não estão sendo suficientes
para atender convenientemente as crescentes demandas dos produtores de
grãos do País. O crescimento da produção tem sido superior ao da capacidade
de armazená-la.
A safra de grãos para a maioria das culturas acontece apenas uma vez
por ano, mas o consumo é contínuo, razão pela qual precisamos de uma boa
estrutura de estocagem, proporcionando maior equilíbrio entre a oferta e a
demanda ao longo do ano. Segundo dados da Conab, o Brasil produziu 248
milhões de toneladas (Mt) de grãos em 2019/2020, mas só teve capacidade
para guardar 166 Mt, acusando um déficit de armazenagem de 82 Mt,
parcialmente compensado pelo crescimento na construção de novas unidades
armazenadoras. No segundo semestre de 2021, a capacidade instalada de
armazenamento já atingia o montante de 183,3 Mt, para uma produção
superior a 260 Mt. A capacidade de armazenamento cresceu, mas continua
aquém da necessidade.
A armazenagem é o jeito mais eficaz de obter-se um produto fora de sua
sazonalidade. Mas isso só é possível com uso de boas práticas de
armazenamento, que garantam a conservação da qualidade física e fisiológica
dos grãos. Armazenar é o jeito de reduzir o gasto com transporte, que tem seu
preço máximo no “pico de safra”, quando os caminhões ficam parados em filas
nas unidades coletoras ou intermediárias.
Conforme indicado pela figura abaixo, mais de 50% da capacidade
estática de armazenamento está concentrada na mão da iniciativa privada
(Cargill e Bunge, entre outras), seguida pelas cooperativas agropecuárias.
Também, a maior deficiência de armazenagem, segundo a Consultoria Cogo
Inteligência em Agronegócio, está concentrada na região Centro Oeste, com
destaque para o Estado do Mato Grosso.

A deficiência de armazenagem força o produtor a antecipar a
comercialização da safra, perdendo dinheiro por não ter condições de esperar
pelo melhor momento para vender a produção e isto gera uma oferta
concentrada em uma mesma época. A distância do centro de produção até os
portos para exportação ou para as indústrias de processamento, transforma em
armazéns os veículos de transporte de grãos, dado o tempo que o grão
permanece no caminhão. Estima-se que cerca de 15% da produção brasileira
acaba sendo armazenada na carroceria dos caminhões.
Mais recentemente, surgiu a opção de utilizar silos-bolsa para estocar os
grãos na própria fazenda, com a vantagem de poder deslocá-los de um lugar
para outro, segundo a conveniência e necessidades do produtor. Considerando
que muitos produtores cultivam mais de uma área, a possibilidade de
deslocamento desses “armazéns de polietileno” confere ao silo-bolsa uma
vantagem ausente nos silos metálicos, que além do alto custo de construção,
são estruturas fixas.
Os silos-bolsa formam um ambiente hermeticamente fechado e
anaeróbico, impedindo o desenvolvimento de insetos-praga e mantendo a
qualidade do produto armazenado. Antes do armazenamento, a umidade dos
grãos deve ser reduzida para menos de 13%. O custo da armazenagem no
silo-bolsa é muito menor do que no silo metálico e o tempo de entrega dessa
estrutura é muito mais rápido do que o armazém fixo, atendendo, assim, a
urgência do produtor para esse tipo de demanda, principalmente quando
enfrenta algum imprevisto.
Mas nem tudo são flores. O sistema demanda máquinas embutidoras e
extratoras que não são baratas e o plástico é vulnerável, podendo ser rompido
por predadores. Também, o tempo de armazenagem dos grãos no silo-bolsa é
inferior ao de outros sistemas de armazenamento.
Cabe ao produtor analisar as possibilidades e optar pela que mais lhe
convém no momento, porém, sem deixar de pensar no futuro.

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