Qual a origem do tamanduá-da-soja?
O tamanduá-da-soja, Sternechus subsignatus (Col., Curculionidae) foi citado em feijão na Bahia na década de 60 e constatado em soja no municí-pio de Marau, RS, por E.M. Reis. Em 1972 foi ci-tado por E. Corseuil como praga esporádica em soja. O inseto também ocorre na Argentina, Para-guai e Uruguai. No Brasil é citado nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Na Bolívia ocorre inseto com biologia e da-nos similares e identificado como S. pinguis.
Qual é o ciclo biológico da praga?
O ciclo biológico completa-se em um ano. A postura é realizada no caule ou nas hastes de so-ja e de feijão, a partir do fim de dezembro e até fe-vereiro. As larvas emergem e penetram no xilema das plantas causando engrossamento típico (calo). Completam a fase larval em março e abril. Após chuvas, caem das plantas e penetram no solo onde constróem uma câmara de terra, endurecida e im-permeável. A partir do fim de outubro e início de novembro passam a fase de pupa na câmara larval no solo.
Os adultos emergem do solo a partir de no-vembro apresentando a estrutura do corpo desen-volvida e capacidade de deslocar-se caminhando. Nessa fase os músculos de vôo e os ovários ainda encontram-se reduzidos. Após sair do solo, os a-dultos alimentam-se avidamente de soja, feijão e outras leguminosas, durante uma semana, para de-senvolver os músculos de vôo e disseminar.
A diapausa de outono e de inverno na fase de larva é uma adaptação para o frio no sul e para o período seco nos cerrados.
Quais são as plantas hospedeiros e inimi-gos naturais do inseto?
Pouco se conhece sobre as plantas hospedei-ras nativas e sobre os agentes de controle biológi-co natural. Os adultos alimentam-se de Eriosema sp., uma leguminosa nativa em campos dos planal-tos do Sul do Brasil. Larvas semelhantes as de Sternechus e danos de anelamento e de engrossa-mento de caule ocorrem em mata-campo ou assa-peixe (Vernonia sp., família Compostae).
O tamanduá-da-soja parece ser nativo de á-reas com vegetação rasteira e não de florestas ou arbustos. A soja é uma planta hospedeira nutriti-va, cultivada em escala e perfeitamente adaptada ao ciclo biológico da praga.
A ocorrência de inimigos naturais é esporá-dica sendo constatados moscas, vespas e nemató-deos parasitos e alguns predadores de larvas. São pouco eficientes no ecossistema de lavouras exten-sivas de soja.
Qual a influência do clima na biologia do inseto?
As estiagens na fase em que as larvas caem da planta e penetram no solo, em fevereiro e mar-ço, podem causar elevada mortalidade do inseto. Na fase de diapausa larval (abril a outubro) sofrem pouco efeito de elementos climáticos.
A falta de umidade no solo em novembro e de dezembro dificulta a emergência e pode causar a morte de adultos.
Como amostrar a determinar a presença de larvas no solo?
Durante os meses de outono, inverno e iní-cio da primavera as larvas encontram-se em dia-pausa, no solo, junto à fileira de soja infestada da safra anterior. Basta raspar o solo com o auxílio de uma enxada, até chegar a camada adensada. As larvas de Sternechus encontram-se em câmaras, em torno de 10 cm de profundidade e 3 cm dentro da camada compactada de solo.
As larvas podem ser confundidas com ou-tros insetos no solo?
As larvas do gorgulho-do-solo, Pantomorus sp. apresentam tamanho e coloração geral do cor-po semelhantes aos de Sternechus. A larva do gorgulho-do-solo caracteriza-se por alimentar-se de partes subterrâneas de plantas, movimentar-se ativamente no solo e apresentar a cabeça retrátil destacando apenas as mandíbulas de coloração preta.
A larva do tamanduá-da-soja alimenta-se do xilema na parte aérea de plantas, onde produz en-grossamento (calo) típico. No solo, encontra-se dentro de câmara larval, apresenta movimentação lenta, característica de dormente, corpo amarelado e cabeça marrom diferenciada do corpo. Ela não se alimenta de partes subterrâneas de plantas.
A praga poderá chegar ao cerrado?
A cultura da soja adapta-se perfeitamente ao ciclo biológico e às necessidades de alimento do inseto. Já foram constatados danos severos em la-vouras de soja na Bahia, em Minas Gerais, no Ma-to Grosso, no Mato Grosso do Sul, em Goiás e em Tocantins. A diapausa na fase de larva e de pupa, em câmaras no solo, desde o outono até a primave-ra e a intensa atividade biológica a partir de no-vembro até o final do verão indica a adaptação do inseto à distribuição de chuvas nos cerrados.
Qual a distância de vôo e disseminação do adulto?
Observações preliminares indicam que dis-tância de vôo pode alcançar dezenas de quilôme-tros. A disseminação depende do vigor do inseto e da disponibilidade de plantas hospedeiras adequa-das para a oviposição.
A disseminação e a capacidade de vôo de-pendem da qualidade do alimento e do vigor do inseto.
Após o desenvolvimento dos músculos de vôo e da disseminação, fim de dezembro, ocorre o desenvolvimento do ovário e a reprodução.
Qual é a estratégia de manejo da praga?
Monitorar a lavoura de soja, identificando as áreas com maior infestação de larvas, no verão, e adotar a rotação de culturas cultivando, no ano se-guinte, milho, sorgo, girassol ou pastagens.
Nas bordas das áreas onde foi adotada a ro-tação de culturas, semear algumas fileiras de soja ou de feijão como armadilha de atração. A partir de meados de novembro, deve-se monitorar a pre-sença de adultos do tamanduá-da-soja e aplicar in-seticidas, reduzindo a população para o ano se-guinte.
Se não for feito o controle nas bordas, os adultos disseminarão para outras lavouras e pode-rão voltar para a mesma área quando cultivada com soja ou feijão no ano seguinte.
Qual a rotação de culturas mais indicada para o controle da praga?
Nos primeiros dias após a emergência os adultos são ávidos por feijão, soja e outras legu-minosas. Não se alimentam de girassol, de algo-dão, de milho, sorgo e de outras gramíneas. Na ausência de alimento adequado, os insetos adultos saem da lavoura caminhando até às bordas ou até encontrar alimento adequado.
As gramíneas e outras culturas diferentes da soja e do feijão são indicadas como alternativa de rotação de culturas para o controle da praga.
Quais os inseticidas indicados para o con-trole do tamanduá-da-soja?
O controle é indicado para insetos adultos. Os ovos, as larvas na planta ou em diapausa no so-lo e as pupas são de difícil controle.
Em lavouras de soja, por causa da emergên-cia de adultos durante um mês (novembro a de-zembro), podem ser necessárias aplicações com intervalo de uma semana.
Os inseticidas, seguidos da dose de ingredi-ente ativo (g/ha), testados para o controle do ta-manduá-da-soja são: clorpirifós 480, deltametrina 7,5, fenitrotiom 1000, fosfamidom 600, metamido-fós 480, monocrotofós 200, permetrina 50 e profe-nofós 500. Apenas uma formulação de metamido-fós encontra-se registrada para controle desta pra-ga no Ministério da Agricultura e Abastecimento.
O tratamento de sementes de soja com inse-ticidas evidenciaram resultados promissores no controle de adultos do tamanduá-da-soja.