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Como fazer a enxertia nas mudas de tomate

Tudo o que você precisa saber sobre a enxertia no tomate.


Foto: Canva

A enxertia é uma técnica que une duas partes de plantas diferentes para unir, em uma única planta, características favoráveis de ambas as cultivares. O processo é feito visando unir cultivares produtivas com cultivares resistentes ou tolerantes à doenças e pragas, salinidade ou oscilações de temperatura. Além desses benefícios, também pode ocorrer aumento do vigor da planta, melhor aproveitamento de água e nutrientes, melhor qualidade de frutos etc., proporcionando melhor retorno financeiro em diversos casos. Em outros casos, como em árvores frutíferas, porta-enxertos também são utilizados para alterar o porte das plantas, favorecendo o manuseio.

A parte inferior, que fica em contato com o solo e contribui com as raízes e é responsável pela absorção de água e nutrientes, é chamada de porta-enxerto ou cavalo. A parte superior, a qual produz o caule, folhas, flores e frutos, é chamada de enxerto ou cavaleiro. Observe a imagem abaixo:


Na imagem podemos observar um enxerto em plantas abacate, através de processo realizado com corte em "V", observado no caule, onde foram unidas ambas as plantas.

 

O plantio sucessivo de tomate favorece o aumento de populações de fungos, nematóides e bactérias patogênicos no solo, resultando em doenças como o fusarium, nematóide das galhas, murcha bacteriana etc. Dessa forma, a enxertia vem como uma solução, onde a copa, que possui boas características comerciais, é enxertada em porta-enxerto resistente / tolerante a essas doenças.

Atualmente, em Almeiria na Espanha, onde existe a maior área de cultivo protegido de hortaliças no mundo, o uso de enxertia é praticamente generalizado. No Japão e Coréia do Sul, mais da metade do tomate consumido é oriundo de plantas enxertadas. 

 

O processo de enxertia em tomate - passo a passo

O local de enxertia e as ferramentas utilizadas devem ser bastante higienizados (de forma a evitar a transmissão de doenças durante a enxertia, como por exemplo o Tomato mosaic vírus), iluminado e com temperatura moderada. A enxertia pode ser feita de forma manual ou mecânica, onde robôs executam os principais processos da enxertia. A enxertia é mais eficiente quando a muda da copa e o porta-enxerto possuem diâmetro semelhante, e quando as mudas não são tão jovens e nem tão lenhosas. O enxerto de fenda possibilita uma variação um pouco maior dos diâmetros das mudas, podendo ser utilizado quando houver diferenças de tamanho impossibilitando a enxertia de emenda. Algumas práticas podem melhorar o sucesso da enxertia, como por exemplo suspender a irrigação / fertirrigação por 1 ou 2 dias antes da enxertia.

As mudas ideais para a enxertia são saudáveis, uniformes, com 2-4 folhas verdadeiras e aproximadamente 1,5 a 2,5mm de diâmetro de caule.

  1. Preparo das mudas - as mudas de copa (cavaleiro) e do porta-enxerto (cavalo) devem ser semeadas simultaneamente, ou em até 3 dias de diferença, semeando primeiro o material menos vigoroso. Se forem usadas mudas mais desenvolvidas para o transplante, o porta-enxerto pode ser semeado em recipientes maiores. As mudas devem ser produzidas em ambiente iluminado, de forma a evitar o estiolamento
  2. Enxertia - usando ferramentas como lâmina de barbear ou bisturi e presilhas, o porta-enxerto é cortado em bisel, cortando transversalmente o caule da muda em cerca de 8 centímetros de altura.

    Fonte: EMBRAPA
  3. Após, é feito uma fenda no caule, de cima pra baixo, com aproximadamente 1,5 cm de profundidade.

    Fonte: EMBRAPA
  4. Na muda da copa (cavaleiro), é feito um bisel duplo na parte de baixo, na altura das folhas cotiledonares, cortando aproximadamente 1 cm, formando uma cunha. Após, introduz-se imediatamente o bisel do cavaleiro na fenda do porta-enxerto (cavalo). Um detalhe importante é que, quanto maior a superfície de contato entre o enxerto e o porta-enxerto, melhor será a formação de calo.

    Fonte: EMBRAPA
  5. Recomenda-se usar tubos ou clips de silicone para a união das mudas e evitar o deslize entre estas. Clips de silicone são menos agressivos e mais elásticos, acompanhando o crescimento das mudas. Pode-se sustentar as mudas com palitos.

    Fonte: Governo do Tocantins

 

Sintomas de incompatibilidade entre o enxerto e porta-enxerto

Como sintomas de incompatibilidade entre as mudas enxertadas, temos:

  • Baixo índice de sobrevivência do enxerto;
  • Amarelecimento das folhas, desfoliação e falta de crescimento;
  • Enrolamento das folhas e morte imediata da planta;
  • Diferentes taxas de crescimento entre o enxerto e o porta-enxerto;
  • Excesso de crescimento na zona de enxertia;
  • Ruptura do ponto de enxertia.

 

Cicatrização e aclimatação das mudas de tomate

Após a enxertia, é comum o enxerto murchar devido ao rompimento dos vasos condutores. Por isso, as mudas são levadas para ambiente úmido, com no mínimo 80% de umidade, sendo o ideal acima de 90% durante três dias, junto com a temperatura em aproximadamente 20 a 25ºC. Deve-se cuidar para não atingir 100% de umidade relativa, que é favorável a doenças fúngicas, enraizamento adventício e estiolamento.

Geralmente as mudas são cobertas por plástico de 5 a 7 dias, para aumentar a umidade e reduzir a intensidade de luz, promovendo a cicatrização. A alta intensidade de luz pode beneficiar a cicatrização, desde que a umidade e temperatura sejam mantidas em níveis ideais. Caso estas não sejam mantidas, a luz precisa ser reduzida para moderar a temperatura e umidade relativa.

Já na segunda semana de cicatrização, pode-se diminuir gradualmente a umidade ao passo que se aumenta gradualmente a luminosidade. As mudas que saem de um ambiente com baixa luminosidade e alta umidade precisam de alguns dias para se aclimatarem, podendo ser feito durante 2 a 4 dias. Após, antes de enviar / transplantar, as plantas precisam ser endurecidas (2 a 3 dias de irrigação reduzida)

A aclimatação visa promover uma muda lignificada, que suporte o choque do transplantio, além de estresses abióticos e bióticos, sobrevivendo no campo. Como técnicas gerais para promover a aclimatação, temos a redução da irrigação, uso de fertilizantes à base de nitrato de potássio e/ou cálcio, estresses mecânicos e manutenção da luz (<350 mole/m²/s). As mudas estarão prontas para o transplantio em 25 a 30 dias após a semeadura, ou quando tiverem 4 a 5 folhas definitivas. 

 

Escolha do porta-enxerto

O porta-enxerto para o tomate, resistente à doença, pode ser outro genótipo de tomateiro, ou até de espécies resistentes ao gênero Solanum, como por exemplo as jurubebas, o jiló e a berinjela. Se for usado um genótipo de tomate, facilita-se o processo de enxertia ocorre menor incompatibilidade entre as espécies, porém a resistência à murcha-bacteriana é menor, não sendo uma opção interessante em locais de alta pressão da doença, ou sendo necessárias outras práticas de controle simultaneamente, como rotação de culturas e solarização. nesse caso, geralmente são usados os híbridos Guardião, Protetor, Muralha e Magnet.

Já o uso de outras espécies para porta-enxerto, como berinjela ou jurubeba, podem proporcionar proteção mais eficiente contra a murcha-bacteriana, pois alguns genótipos são imunes a diversos isolados do patógeno. Porém, o processo de enxertia nesse caso exige mais tecnologia e maior incompatibilidade, o que pode reduzir a produtividade e qualidade do fruto. 

É fundamental fazer uma boa escolha do porta-enxerto e copa. A semente da copa deve ser escolhida com base na pureza, rendimento, viabilidade, qualidade do fruto e demanda do mercado. Já as cultivares de porta-enxerto são escolhidas a partir de suas resistência a doenças, vigor e adaptabilidade às condições do ambiente. A compatibilidade entre a copa e o porta-enxerto também deve ser considerada, pois também influencia na produtividade.

Veja na lista abaixo algumas espécies de porta enxerto e suas respectivas resistências:

Tabela 1. Porta-enxertos de tomate comercializados no Brasil e suas respectivas resistências.
Porta-enxerto Empresa Resistência
Defensor F1 Agristar Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici (verificar raças), Fusarium oxysporum f. sp. radicis-lycopersici, Meloidogyne incógnita, Ralstonia solanacearum, Tomato mosaic vírus (verificar raças), Verticillium dahlia
BS PE0041 Blueseeds Verticillium dahlia (verificar raças), Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici (verificar raças), Fusarium oxysporum f. sp. radicis-lycopersici, Tomato mosaic vírus (verificar raças), Phytophthora dreschsleri, Ralstonia solanacearum
Intacto Feltrin Tomato mosaic vírus (verificar raças), Ralstonia solanacearum, Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici (verificar raças), Verticillium dahlia, Pyrenochaeta lycopersici
Enpower Nunhems Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici (verificar raças), Fusarium oxysporum f. sp. radicis-lycopersici, Pseudomonas syringae pv. tomato, Tomato mosaic vírus, Verticillium albo-atrum, Verticillium dahlia, Meloidogyne arenariaMeloidogyne incógnita, Meloidogyne javanica
Nun 00021 Nunhems Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici (verificar raças), Fusarium oxysporum f. sp. radicis-lycopersici, Pseudomonas syringae pv. tomato, Tomato mosaic vírus, Verticillium albo-atrum, Verticillium dahlia, Ralstonia solanacearum, Meloidogyne arenaria, Meloidogyne incógnita, Meloidogyne javanica
Emperador RZ F1 Rijk Zwaan Fusarium oxysporum f. sp. radicis-lycopersici, Pyrenochaeta lycopersici, Verticillium albo-atrum (verificar raças), Verticillium dahlia (verificar raças), Tomato mosaic vírus (verificar raças), Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici (verificar raças), Meloidogyne arenaria, Meloidogyne incógnita, Meloidogyne javanica
Embajador RZ F1 Rijk Zwaan Tomato mosaic vírus (verificar raças), Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici (verificar raças), Fusarium oxysporum f. sp. radicis-lycopersici, Pyrenochaeta lycopersici, Verticillium albo-atrum (verificar raças), Verticillium dahlia (verificar raças), Meloidogyne arenaria, Meloidogyne incógnita, Meloidogyne javanica
Rampart RZ F1 Rijk Zwaan Fusarium oxysporum f. sp. radicis-lycopersici, Verticillium albo-atrum (verificar raças), Verticillium dahlia (verificar raças), Tomato mosaic vírus (verificar raças), Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici (verificar raças), Pyrenochaeta lycopersici, Meloidogyne arenaria, Meloidogyne incógnita, Meloidogyne javanica
Volt Sakata Verticillium dahlia (verificar raças), Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici (verificar raças), Tomato mosaic vírus (verificar raças), Meloidogyne incógnita (verificar raças), Meloidogyne javanica, Ralstonia solanacearum
Woodstock Sakata Verticillium dahlia (verificar raças), Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici (verificar raças), Fusarium oxysporum f. sp. radicis-lycopersici, Tomato mosaic vírus (verificar raças), Meloidogyne incógnita (verificar raças), Meloidogyne javanica, Ralstonia solanacearum
Gungang Seminis Tomato mosaic vírus (verificar raças), Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici (verificar raças), Fusarium oxysporum f. sp. radicis-lycopersici, Pyrenochaeta lycopersici, Verticillium albo-atrum (verificar raças), Verticillium dahlia (verificar raças), Ralstonia solanacearum, Meloidogyne arenaria, Meloidogyne incógnita, Meloidogyne javanica,
Shincheonggang Seminis Tomato mosaic vírus (verificar raças), Ralstonia solanacearum, Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici (verificar raças), Fusarium oxysporum f. sp. radicis-lycopersici, Verticillium albo-atrum (verificar raças), Verticillium dahlia (verificar raças), Meloidogyne arenaria, Meloidogyne incógnita, Meloidogyne javanica
Multifort Seminis Tomato mosaic vírus (verificar raças), Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici (verificar raças), Fusarium oxysporum f. sp. radicis-lycopersici, Pyrenochaeta lycopersici, Verticillium albo-atrum (verificar raças), Verticillium dahlia (verificar raças), Meloidogyne arenaria, Meloidogyne incógnita, Meloidogyne javanica
Maxifort Seminis Tomato mosaic vírus (verificar raças), Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici (verificar raças), Fusarium oxysporum f. sp. radicis-lycopersici, Pyrenochaeta lycopersici, Verticillium albo-atrum (verificar raças), Verticillium dahlia (verificar raças), Meloidogyne arenaria, Meloidogyne incógnita, Meloidogyne javanica
SVTX6258 Seminis Tomato mosaic vírus (verificar raças), Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici (verificar raças), Fusarium oxysporum f. sp. radicis-lycopersici, Verticillium albo-atrum (verificar raças), Verticillium dahlia (verificar raças), Ralstonia solanacearum, Meloidogyne arenaria, Meloidogyne incógnita, Meloidogyne javanica
Guardião Takii Seeds

Alta resistência a Murcha bacteriana (Ralstonia), Verticillium, Murcha de Fusarium (Fusarium oxysporum f.sp. lycopersici raças 1 e 2 e Fusarium oxysporum f.sp. radicis-lycopersici), Virus do Mosaico do Tomate (Tm-2a) e Nematoides (Meloidogyne arenaria, M. incognita, M. javanica).

Green Power Takii Seeds

Porta enxerto de médio vigor com resistência ao Fusarium raça 3. Alta resistência a Murcha bacteriana (Ralstonia), Verticillium, Pyrenochaeta, Murcha de Fusarium (Fusarium oxysporum f.sp. lycopersici raças 1, 2 e 3 e Fusarium oxysporum f.sp. radicis-lycopersici), Virus do Mosaico do Tomate (Tm-2a) e Nematoides (Meloidogyne arenaria, M. incognita, M. javanica).

Green Rise Takii Seeds

Porta enxerto de médio/alto vigor com resistência ao Fusarium raça 3.
Alta resistência a Murcha bacteriana (Ralstonia), Verticillium, Pyrenochaeta, Murcha de Fusarium (Fusarium oxysporum f.sp. lycopersici raças 1, 2 e 3 e Fusarium oxysporum f.sp. radicis-lycopersici), Virus do Mosaico do Tomate (Tm-2a) e Nematoides (Meloidogyne arenaria, M. incognita, M. javanica).

TD 1 Takii Seeds

Porta enxerto de alto vigor com resistência ao Fusarium raça 3.
Alta resistência a Verticillium, Pyrenochaeta, Murcha de Fusarium (Fusarium oxysporum f.sp. lycopersici raças 1, 2 e 3 e Fusarium oxysporum f.sp. radicis-lycopersici), Virus do Mosaico do Tomate (Tm-2a) e Nematoides (Meloidogyne arenaria, M. incognita, M. javanica).
Resistência intermediária a Murcha bacteriana (Ralstonia).

 

 

Vantagens e desvantagens da enxertia no tomate

Como vantagens, temos:

  • Aumento de rendimento da planta;
  • Maior resistência / tolerância à doenças e nematoides;
  • Melhor absorção de nutrientes;
  • Aumento do ciclo produtivo, e, consequentemente, maior lucro;
  • Possibilidade de cultivo múltiplo e/ou sucessivo.

Como desvantagens temos:

  • Maior custo das mudas;
  • Possibilidade de ocorrência de distúrbios fisiológicos;
  • Necessidade de práticas culturais;
  • Crescimento vegetativo excessivo;
  • Maior infecção por doenças transmitidas por sementes.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/105996/1/13-06-CT-131.pdf

BAPTISTA, M. J.; REIS JUNIOR, F. B.; XAVIER, G. R.; ALCÂNTARA, C.; OLIVEIRA, A. R.; SOUZA, R. B.; LOPES, C. A. Eficiência da solarização e biofumigação do solo no controle da murchabacteriana do tomateiro no campo. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 42, p. 933-938, 2007.

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